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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, março 23, 2015

Senadores têm tudo pronto para instalar CPI do HSBC na próxima terça

PT deverá ficar com a presidência e PMDB, com a relatoria da comissão. Objetivo é investigar denúncias de contas na Suíça com celeridade e contribuir para as leis contra sonegação fiscal
por Hylda Cavalcanti,
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ARQUIVO RBA
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Brasília – Agora está mais do que certo: a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que vai investigar as denúncias de contas irregulares de brasileiros abertas pelo HSBC na Suíça será feita na próxima terça-feira (24). O requerimento com pedido de criação da comissão e as devidas assinaturas foi protocolado em fevereiro, mas a pauta cheia das últimas sessões e o rito regimental dos trabalhos atrasaram a instalação, que já vinha sendo cobrada por parlamentares diversos e foi alvo de críticas de que o Senado estaria levando o caso em “banho-maria”.
O tema entrou em definitivo nas discussões do Congresso nos últimos dias, puxado pelo líder do Psol, Randolfe Rodrigues (AP), que apresentou o requerimento pedindo a criação da comissão, e pelos líderes do PMDB, Eunício Oliveira (CE), e do governo no Senado, José Pimentel (PT-CE). Alguns parlamentares da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), não assinaram o requerimento.
Ainda estão indefinidos os senadores que serão responsáveis pela presidência e relatoria da CPI, mas o senador Eunício Oliveira afirmou que o seu partido vai reivindicar a indicação do relator, por ser a legenda com o maior número de parlamentares do Senado. E disse que, dentre os dirigentes da legenda, ficou definido o nome do senador Ricardo Ferraço (ES) para a vaga. Como PT e PMDB são as duas siglas com maior bancada, caso Ferraço seja confirmado na função, caberá aos petistas a indicação do presidente.
O pedido para instalação da CPI foi feito pelo senador Randolfe. O objetivo é investigar quais das mais de 8 mil contas de brasileiros da filial suíça do HSBC foram abertas com dinheiro não declarado e qual a origem das fortunas ali depositadas.
Eunício Oliveira afirmou que a comissão não fará um trabalho "seletivo", como se acusa a mídia tradicional em relação às denúncias obtidas sob delação premiada na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga corrupção na Petrobras. "Não importa quem recebeu, se existe algo ilegal, é papel do Congresso investigar".
Já Randolfe Rodrigues destacou que a denúncia contra o HSBC mostrou o Brasil no topo de uma cadeia criminosa, já que é o quarto na lista de países com maior número de clientes associados às contas vazadas e o nono entre os países com maior quantidade de dinheiro depositado: sete bilhões de euros, o equivalente a R$ 20 bilhões. Para ele, existe uma diferença quanto ao tratamento do tema no Brasil e nos demais países.  “Estranhamente, no Brasil o caso do HSBC mereceu um estridente silêncio da grande imprensa, com exceção dos blogs e de poucos veículos.”

Nova legislação

José Pimentel disse considerar a CPI importante também porque, além de apurar a situação destas contas irregulares, a investigação representará para o Congresso Nacional uma oportunidade de se fomentar a discussão de novas formas de combate à sonegação e de aumento da formalização em setores da economia.
A expectativa dos deputados e senadores é de que o trabalho da CPI seja feito de acordo com as investigações que foram iniciadas pela Câmara dos Deputados. O deputado Valmir Prascidelli (PT-SP), autor de um pedido apresentado à mesa diretora da Câmara para instalação de uma comissão parlamentar externa com o intuito de investigar o caso na Suíça, viajando àquele país para apurar o caso in loco, aguarda a conclusão da mesa diretora sobre seu requerimento.

Órgãos de controle

Prascidelli e o deputado Paulo Pimenta (RS) ficaram encarregados de coordenar os trabalhos pelo PT. Pimenta, por sua vez, foi o primeiro a investigar a situação das contas em órgãos diversos no Brasil, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o Banco Central e a Secretaria da Receita Federal. Ele prossegue com as apurações, inclusive junto a governos de outros países.
No total, das contas irregulares existentes no HSBC na Suíça, segundo Pimenta, a Bélgica já conseguiu recuperar mais de US$ 490 milhões, enquanto Espanha, Inglaterra e França recuperaram, juntos, US$ 1,3 bilhão. Enquanto isso, no Brasil as apurações ainda estão só no início.
As informações sobre as contas irregulares do HSBC foram reveladas a partir de dados divulgados por veículos da imprensa fora do Brasil, por meio do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.
*RBA

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