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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 03, 2015

Não pode haver “gente de bem” porque não existem “pessoas do mal”.

A terrível e implacável “gente de bem”



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Não existe como categoria sociológica, filosófica ou antropológica. Não é parte do arcabouço legal do país e nem das encíclicas papais; não é parte do vernáculo acadêmico e não integra o vocabulário de qualquer instituição política minimamente séria. A muito usada “gente de bem” é a perversa expressão da própria apartação social.
Por Ângelo Cavalcante  Do Brasil247
Quando ouço de um indivíduo a terminologia “gente de bem” estou seguro de que estou diante de totem humano recheado de conservadorismo e muito preconceito. É que o useiro dessa “pérola” parte do princípio sumamente equivocado de que se existe “gente de bem” é que existe “gente do mal”. É de um binarismo tosco, perverso e acéfalo.
Para o adepto desta perspectiva não existe história, historicidade, condicionantes sociais e tampouco relações de classe. Pois bem… Se o mundo pode ser compreendido por meio de dualidades e simplismos do tipo: bem/mal; forte/fraco; certo/errado e verdade/mentira, então… A história perde sentido e importância e, nesse sentido, apenas acionamos o “modus automático” de nossas sensações e, pronto, resolve-se dilemas e contradições que cimentam nosso cotidiano.
Nada mais equivocado e perverso sobretudo, no sentido de que a sensibilidade humana é tolhida, o senso investigativo tão fundamental e central para o fazer científico é ceifado e o horizonte de um futuro assentado no resguardo e na promoção do direito humano a uma existência digna e protegida se perde em sua totalidade.
Não pode haver “gente de bem” porque não existem “pessoas do mal”. Essas categorias valorativas não ajudam a entender o fenômeno da miséria nacional, socialmente produzida e intensificada a partir das estruturas que formam e sustentam o próprio modo de produção capitalista. A “gente do bem” tão cantada e decantada pelas bocarras de gente do amplo arco da direita política nacional é o estandarte verbal do mais atual e criminoso preconceito de classe e que se possa pensar. É uma beligerância comunicativa que busca cumprir sua função no fundamental campo da comunicação e do simbólico e é enfim, a classe dominante impondo sua lógica fácil e preconceituosa de perspectiva da vida e do mundo a partir de suas angulares de classe e centrada no privilégio descabido, na manutenção dos poderes e facilidades que historicamente sempre possuíram e na submissão das classes do trabalho.
Finalmente, conforme nos ensina a magistral filosofia de Hannah Arendt, em seu “A Condição Humana”, o homem se revela em seus discursos e, nesse sentido, o simplismo fascista dessa terminologia demonstra a essência política e social daquele que o emite, alguém, tão somente, afeito com a trágica manutenção do instituído.
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Leia a matéria completa em: A terrível e implacável "gente de bem" - Geledés http://www.geledes.org.br/a-terrivel-e-implacavel-gente-de-bem/#ixzz3hoLuu400 
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