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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 06, 2010

Aloprações tucanas




ENTREVISTA: AMAURY RIBEIRO JR.

Aloprações tucanas

Dono de três prêmios Esso e vencedor de quatro prêmios Vladimir Herzog, entre muitos outros, Amaury Ribeiro Jr., 47 anos, é daqueles repórteres de imersão total na matéria, nem que para tanto tenha de correr riscos. Foi assim quando, investigando o assassinato de jovens pelo tráfico, foi baleado nos arredores de Brasília. Trabalhou, entre outros jornais e revistas, para O Globo, Isto É e Correio Brasiliense. Autor de reportagens sobre a guerrilha do Araguaia, a prostituição infantil e os entraves à educação do país, Ribeiro Jr. dedica-se, nos últimos dois anos, a esmiuçar os meandros do conturbado processo de venda das estatais brasileiras na bacia das almas nos anos 1990. E à investigação da lavagem internacional do dinheiro da corrupção. Integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) agora ele vasculha o que chama de “aloprações tucanas”. Por ironia, começou a reunir o material para o seu livro, que eviscera os subterrâneos da era da privataria tucana, por conta de um conflito entre ...tucanos. Confira:

BC – Como você começou a apurar esta face mais escura do período da privatização?

ARJ - Tudo começou há mais ou menos dois anos. Havia uma movimentação, atribuída ao deputado serrista Marcelo Itagiba, para usar arapongas e investigar a vida do governador Aécio Neves, que então disputava a indicação para candidato a presidente pelos tucanos. O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo. Entrei em campo pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro, sumiço de dinheiro público...


do Luis Nassif

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