Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 01, 2010

Grande

South of the Border, de Stone: a nova América Latina

O mais novo filme do cineasta americano Oliver Stone – South of The Border, Ao Sul da Fronteira – teve ontem à noite, em Madrid, a sua primeira exibição, num evento que contou com a presença dos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Paraguai, fernando Lugo, além do Ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez. Stone, que está em Cannes, participou do evento via internet.

No filme, o premiado cineasta de JFK, Nascido a 4 de Julho e Platoon entrevista Lula, Hugo Chávez, Morales, Cristina e o marido, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, Lugo, o presidente do Equador, Rafael Correa e Raúl Castro. E mostra as visões desinformadas que se tem nos EUA sobre a onda de governos progressistas na América Latina.

O filme será exibido na Venezuela no dia 29 de maio, um dia depois em Quito, e no dia 1° de junho em Cochabamba, na Bolívia.No Paraguai o filmer estréia em 2 de junho e, depois, será exibido no Brasil e na Argentina. A estréia nas salas nortemericanas será a 25 de junho.

Pra dar água na boca, posto aí em cima o trailler oficial do filme, com as legendas em português, que um companheiro nosso colocou.


Stone, escaldado, vê Dilma mas evita imprensa

O cineasta Oliver Stone está no Brasil para divulgar o documentário “Ao Sul da Fronteira” , aproveitou a passagem pelo país para conhecer Dilma Rousseff.

Ao sair do encontro hoje de manhã, em Brasília, evitou conversar com a imprensa brasileira, talvez escaldado com o que disse sobre outra imprensa, que ele conhece bem, a venezuelana, a qual classificou como “histérica”.

Mas concedeu uma entrevista exclusiva para o site Dilma na Web , que transcrevo abaixo.

Como foi o encontro com Dilma?

Falamos por uma hora e fiquei muito impressionado com ela. É muito inteligente, uma grande cabeça, tem muita informação. Sabe tudo de energia, de economia, tem determinação e energia. Ela é muito focada e fiquei muito impressionado com isso. Eu como diretor preciso ter muito foco e fiquei impressionado como ela tem foco. Quando ela tem uma ideia, persiste nisso e discute bastante. É isso que nós precisamos, de pessoas com ações. Ela é dedicada ao Brasil, ao crescimento e em continuar o projeto de Lula. Eu estou muito impressionado.

Por que o senhor fez questão de conhecê-la?

Porque ela é o futuro. O Brasil é um país muito importante no mundo, como a Turquia, e o que eles acabaram de fazer no Irã pode não ser muito popular para todos, mas é popular para mim. Nós queremos paz. Nós não queremos uma guerra. E a situação do Irã pode se tornar outro caso como o Iraque. E o que me parece é que os Estados Unidos estão interessados em outra marcha para a guerra. Eu adoro o que o Lula e o Brasil estão fazendo. Eu acho que ela [Dilma Rousseff] vê a necessidade de paz e, ao mesmo tempo, que ela sabe a linha para falar com os Estados Unidos. A situação é muito delicada e sensível.

Ela representa a continuidade das políticas do governo Lula?

Sim, o desenvolvimento tem que continuar da forma que está no Brasil. Ela é muito consciente em relação à energia, sobre a reforma agrária. Ela tem consciência sobre a necessidade dos pobres e isso é fundamental porque o Brasil tem uma muita pobreza e tem que melhorar nisso. Ela tem visão de mundo que não fica focada apenas no Brasil. Vocês estão tendo um papel muito importante no mundo. Vocês são a terceira via, não podemos ignorar isso, porque os Estados Unidos tendem a fazer inimigos e nós ainda vemos o mundo de forma unilateral. Isso trabalha contra o povo norte-americano. Meu trabalho é em cima disso, e meu documentário [Ao sul da fronteira] mostra algo contra os Estados Unidos. O Brasil e a Turquia e esse grupo de países representam um meio termo. Nós precisamos desse meio termo.

do Tijolaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário