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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 09, 2010

O quinta coluna ou o X-9

Serra defendia "papel" da Folha na repressão do regime militar

“Seu” Frias não precisava do filho para defendê-lo, tinha um X-9, Serra

O “seu Frias”, dono da Folha (*) e uma ponte em São Paulo, demitiu Claudio Abramo para agradar os militares do regime militar.

E pôs Boris Casoy no lugar.

E deu a Claudio um prêmio de consolação: ser correspondente em Londres.

Num fim de semana, Claudio recebeu dois amigos brasileiros para almoçar.

Tudo ia bem, quando, inesperadamente, chegam Otavio Frias Filho, hoje diretor de redação da Folha (*), e José Serra.

Conversa vai, conversa vem, um dos convidados de Claudio não se contém e resolve perguntar o que, segundo ele, estava entalado na garganta há algum tempo: por que a Folha cedia os carros de distribuição de jornais aos órgãos de repressão ?

(Sobre esse episódio que dignifica a Folha (*), leia Beatriz Kushnir, ‘Cães de Guarda: Jornalistas e Censores do AI-5 à Constituição de 1988’. Otavio Frias Filho se recusou a dar entrevista a Kushnir.)

Amigo navegante, sabe quem defendeu a Folha (*) com unhas e dentes ?

Quem explicou que a situação era muito delicada, e mesmo como ex-exilado, ele entendia que o “seu Frias” tivesse feito aquilo ?

Que a pressão política era irresistível ?

Sabe, amigo navegante, quem disse isso ?

O jenio.

Ele diz qualquer coisa.

(O filho do “seu” Frias não precisou dizer nada.)


Paulo Henrique Amorim

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