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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Globo criminaliza o carnaval

Depois de haver feito uma cobertura tendenciosa do desfile da  Gaviões da Fiel em São Paulo, a Rede Globo de Televisão martela a exaustão em seus noticiários a revolta de torcedores com o resultado da apuração, associando-a a ação de vândalos ligados à escola que levou a homenagem a Lula da Silva à avenida.

Além de imoral, a atitude da empresa jornalística envereda por um caminho sem volta que é  a de indispor-se com as torcidas e com parcela ponderável da população brasileira que viu na homenagem ao presidente Lula o justo reconhecimento a um homem cuja saga constitui lenda viva.

Se antes insinuava instrumentalização política do carnaval por parte do PT, agora a emissora politiza  ela mesma o carnaval, associando a revolta contra critérios falhos de escolha a vandalismo de simpatizantes da escola de samba, sob endosso ou participação direta de adeptos do homenageado presidente Lula.

Chamado em entrada ao vivo, o jornalista Carlos Tramontina não titubeou em atribuir o tumulto a integrantes da escola de samba. No que foi seguido por comentaristas que recitaram regras da organização do carnaval para pedir a desclassificação da escola a quem atribuem os fatos repercutidos.

Os próximos passos pretendidos pela emissora de TV bem podem ser antecipados. Condenará o que dirá ser o uso político do carnaval e os perigos que isso encerra para o carnaval da pacata sociedade paulistana. Afirmará que manifestações culturais quando tomadas por interesses políticos degeneram em balburdia e algazarra.

Justamente ela que tomou para si o controle do carnaval paulista, como antes fizera com o futebol, transformando esse evento popular de participação massiva em alavanca de lucros e meio de ação política em favor de partidos políticos com que francamente é identificada. 

A Globo venceu o carnaval

Por mais sofisticado que seja o critério de avaliação do desempenho das escolas de samba no carnaval, será sempre predominante o viés estatístico presente na escolha.

As preferências dos jurados, no que concerne a valores e tendências estéticas que circulam na sociedade, é o que define o ranking de premiação do carnaval.


Sendo os próprios jurados uma amostra selecionada de perfis existentes em algumas classes e setores de classe da sociedade, não se estranha que temáticas e motivos que demarquem escolhas afinadas com consensos de circulação mais ampla, tendam a não ganhar correspondente prevalência nos processos de seleção baseados em opções de jurados, tal como o adotado na cidade de São Paulo.



O que pensam os jurados, em média, é o que pensam as classes sociais a que pertencem. Para que a escolha fosse a mais isenta possível seria necessário que também a seleção dos jurados se fizesse por meio aleatório, com o recrutamento deles pela votação livre em pessoas habilitados para tanto.
Censitária como é hoje a escolha dos jurados, baseada em reconhecimento por parte dos organizadores do carnaval, eles mesmos em sua maioria cartolas submetidos a interesses  de grupos políticos e econômicos, fica aberta a possibilidade de definições não pautadas pela isenção.
No caso da Escola de Samba Gaviões da Fiel, cuja temática abraçada foi de homenagem a uma personalidade política de estima elevada entre as classes trabalhadoras, não seria razoável esperar que sua aprovação contasse com o endosso fácil dos jurados, na maioria recolhidos de extratos diversos da sociedade.
O veto esperado ao repertório de símbolos levados à avenida pela Gaviões de Fiel, só poderia portanto redundar em frustração e em repúdio dos foliões. Tampouco surpreendeu a explosão de violência que seguiu a uma nota politicamente motivada, que traduziu o inconformismo dos torcedores no sambódromo  da cidade de São Paulo com resultados baseados em critérios personalistas de julgamento.


Um motorista ilustre

Não deve passar despercebida a decisão do ator Fábio Assunção de  colocar-se no carnaval como motorista do carro alegórico que representava a condução de Lula à presidência do Brasil.

Consagrado nas novelas da Rede Globo e elevado à condição de galã perante a classe média brasileira, ousou destoar da ideologia dominante no ambiente em que se projetou e vestiu com rara dignidade a fantasia simplória do chofer.

Na avenida, onde muitos enxergaram mistificação e uso político da figura do ex-presidente, Assunção viu a representação da saga de um povo que venceu à exclusão mantida desde o império por uma elite europeizada, e que fêz – por essa razão –  substituir no poder fazendeiros e doutores po quem era um igual, o retirante e operário Silva.

Tampouco fez evoluções o conhecido ator. Resignado à nobreza da condição figurada de condutor, bastou-lhe o sorriso tênue de quem questionava com sua atitude os valores daqueles que se sentiam mais aptos e melhores que os da sua gente. 

Conduzia em seu carro-fantasia de isopor, leve como os sonhos, duas crianças representando o casal de suburbanos que ocuparam por 8 anos os palácios de Brasília. A fragilidade de seus pequenos corpos na grandeza do carnaval simbolizava o quanto pode haver de venturoso num povo que se levante na peregrinação pela conquista da dignidade.

Entrevistado em curto intervalo de tempo por repórteres da emissora a que prestou serviços, Fábio justificou seu louvável papel no carnaval afirmando que, depois de tudo o que fez e representou nos palcos e na TV, queria sentir-se agora simplesmente brasileiro.

Seu pouco destaque na exuberância do carnaval foi por certo mais que compensado pela lição de amor ao povo e ao País que deu aos que pensam que fama rima apenas com dinheiro. Parabéns Fábio, pelo desprendimento de ser um simples brasileiro!
*Brasilquevai

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