Globo criminaliza o carnaval
Depois de haver feito uma cobertura tendenciosa do desfile da Gaviões
da Fiel em São Paulo, a Rede Globo de Televisão martela a exaustão em
seus noticiários a revolta de torcedores com o resultado da apuração,
associando-a a ação de vândalos ligados à escola que levou a homenagem a
Lula da Silva à avenida.
Além
de imoral, a atitude da empresa jornalística envereda por um caminho
sem volta que é a de indispor-se com as torcidas e com parcela
ponderável da população brasileira que viu na homenagem ao presidente
Lula o justo reconhecimento a um homem cuja saga constitui lenda viva.
Se antes insinuava instrumentalização política do carnaval por parte do PT, agora a emissora politiza ela
mesma o carnaval, associando a revolta contra critérios falhos de
escolha a vandalismo de simpatizantes da escola de samba, sob endosso ou
participação direta de adeptos do homenageado presidente Lula.
Chamado
em entrada ao vivo, o jornalista Carlos Tramontina não titubeou em
atribuir o tumulto a integrantes da escola de samba. No que foi seguido
por comentaristas que recitaram regras da organização do carnaval para
pedir a desclassificação da escola a quem atribuem os fatos
repercutidos.
Os
próximos passos pretendidos pela emissora de TV bem podem ser
antecipados. Condenará o que dirá ser o uso político do carnaval e os
perigos que isso encerra para o carnaval da pacata sociedade paulistana.
Afirmará que manifestações culturais quando tomadas por interesses
políticos degeneram em balburdia e algazarra.
Justamente
ela que tomou para si o controle do carnaval paulista, como antes
fizera com o futebol, transformando esse evento popular de participação
massiva em alavanca de lucros e meio de ação política em favor de
partidos políticos com que francamente é identificada.
A Globo venceu o carnaval
Por
mais sofisticado que seja o critério de avaliação do desempenho das
escolas de samba no carnaval, será sempre predominante o viés
estatístico presente na escolha.
As preferências dos jurados, no que concerne a valores e tendências estéticas que circulam na sociedade, é o que define o ranking de premiação do carnaval.
As preferências dos jurados, no que concerne a valores e tendências estéticas que circulam na sociedade, é o que define o ranking de premiação do carnaval.
Sendo os próprios jurados uma amostra selecionada de perfis existentes em algumas classes e setores de classe da sociedade, não se estranha que temáticas e motivos que demarquem escolhas afinadas com consensos de circulação mais ampla, tendam a não ganhar correspondente prevalência nos processos de seleção baseados em opções de jurados, tal como o adotado na cidade de São Paulo.
O
que pensam os jurados, em média, é o que pensam as classes sociais a
que pertencem. Para que a escolha fosse a mais isenta possível seria
necessário que também a seleção dos jurados se fizesse por meio
aleatório, com o recrutamento deles pela votação livre em pessoas
habilitados para tanto.
Censitária
como é hoje a escolha dos jurados, baseada em reconhecimento por parte
dos organizadores do carnaval, eles mesmos em sua maioria cartolas
submetidos a interesses de grupos políticos e econômicos, fica aberta a
possibilidade de definições não pautadas pela isenção.
No
caso da Escola de Samba Gaviões da Fiel, cuja temática abraçada foi
de homenagem a uma personalidade política de estima elevada entre as
classes trabalhadoras, não seria razoável esperar que sua aprovação
contasse com o endosso fácil dos jurados, na maioria recolhidos de
extratos diversos da sociedade.
O
veto esperado ao repertório de símbolos levados à avenida pela Gaviões
de Fiel, só poderia portanto redundar em frustração e em repúdio dos
foliões. Tampouco surpreendeu a explosão de violência que seguiu a uma
nota politicamente motivada, que traduziu o inconformismo dos torcedores
no sambódromo da cidade de São Paulo com resultados baseados em critérios personalistas de julgamento.
Um motorista ilustre
Não
deve passar despercebida a decisão do ator Fábio Assunção de
colocar-se no carnaval como motorista do carro alegórico que
representava a condução de Lula à presidência do Brasil.
Consagrado
nas novelas da Rede Globo e elevado à condição de galã perante a classe
média brasileira, ousou destoar da ideologia dominante no ambiente em
que se projetou e vestiu com rara dignidade a fantasia simplória do
chofer.
Na
avenida, onde muitos enxergaram mistificação e uso político da figura
do ex-presidente, Assunção viu a representação da saga de um povo que
venceu à exclusão mantida desde o império por uma elite europeizada, e
que fêz – por essa razão – substituir no poder fazendeiros e doutores po quem era um igual, o retirante e operário Silva.
Tampouco
fez evoluções o conhecido ator. Resignado à nobreza da condição
figurada de condutor, bastou-lhe o sorriso tênue de quem questionava com
sua atitude os valores daqueles que se sentiam mais aptos e melhores
que os da sua gente.
Conduzia
em seu carro-fantasia de isopor, leve como os sonhos, duas crianças
representando o casal de suburbanos que ocuparam por 8 anos os palácios
de Brasília. A fragilidade de seus pequenos corpos na grandeza do
carnaval simbolizava o quanto pode haver de venturoso num povo que se
levante na peregrinação pela conquista da dignidade.
Entrevistado
em curto intervalo de tempo por repórteres da emissora a que prestou
serviços, Fábio justificou seu louvável papel no carnaval afirmando que,
depois de tudo o que fez e representou nos palcos e na TV, queria
sentir-se agora simplesmente brasileiro.
Seu
pouco destaque na exuberância do carnaval foi por certo mais que
compensado pela lição de amor ao povo e ao País que deu aos que pensam
que fama rima apenas com dinheiro. Parabéns Fábio, pelo desprendimento
de ser um simples brasileiro!
*Brasilquevai
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