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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

O Lago Vostok

O lago numa imagem radar




O assunto? O lago Vostok, 250 km de comprimento, 50 de largura, 1.000 metros de profundidade.
Nunca visitaram o lago Vostok? Não admira: em primeiro lugar fica na Antárctica, um pouco afastado das tradicionais rotas turísticas; depois não é um lago normal, mas encontra-se debaixo de duas milhas de gelo.

Um lago debaixo da camada gelada da Antárctica? Isso mesmo. Promete bem.

Água, dúvidas...

O lago foi descoberto pelo geógrafo russo Andrey Kapitsa durante uma serie expedições cientificas soviéticas realizadas entre 1959 e 1964. A combinação de ondas sísmicas e radar confirmou a existência de alguns lagos, o maior dos quais é o Vostok.

Com a perfuração foi possível alcançar uma zona situada apenas 60 metros acima da superfície do lago, onde já não há o mesmo gelo da camada polar mas gelo de água lacustre. Agora uma equipa de pesquisadores russos retomou a exploração, o que significou ultrapassar mais de duas milhas de gelo antárctico, numa perfuração que acabou hoje.

E nem faltara uma pitada de mistério: como relata o canal de notícias Fox, a equipa desapareceu e reapareceu só após uma semana de comunicações interrompidas.

Mas afinal: qual a graça em visitar um lago que fica debaixo de quilómetros de gelo?

As razões são várias.
A camada de gelo antárctico funcionou como selante desde o Plioceno, 5 milhões de anos atrás. Desde então, as águas do Vostok ficaram separadas e absolutamente livres de qualquer contaminação exterior.

Isso significa que uma amostra do Vostok daria água pura e, ao mesmo tempo, seria como uma máquina do tempo: água com 5 milhões de anos.

E a vida? Pode existir um ecossistema no Vostok? A resposta é sim, pode. 5 milhões de anos atrás a vida proliferava no planeta e faz sentido pensar em criaturas presas nas águas do lago desde então. Vida que teria tomado um percurso diferente de qualquer outro lugar do planeta. Neste aspecto, é óbvia a presença de bactérias, mas pode existir algo mais? Ainda não sabemos, mas os pesquisadores terão que tomar uma série de precauções para evitar qualquer tipo de contaminação,  em ambas as direcções.

Além de tudo isso há outra pergunta: como é possível a existência dum lago debaixo do gelo, num dos lugares mais frios da Terra? Em algumas zona, a água atinge os +30º C, o que daria uma excelente piscina.
Existe uma hipótese que tenta explicar este fenómeno: os lagos, entre os quais o Vostok, estariam posicionados em zona onde a crosta terrestre é mais fina e que, portanto, recebe o calor do magma.
Como afirmado, não passa duma hipótese, sendo as verdadeiras razões ainda desconhecidas.

Mas há ainda outro mistério que está à espera de ser resolvido. Algo igualmente importante, mas com contornos muito menos definidos.

...e mais dúvidas

No sul-oeste do lago, as equipas de pesquisa têm identificado e testado ao longo de anos a presença duma forte anomalia magnética, de origem inexplicável, com uma extensão 105 para 75 km.

 Alguns pesquisadores acreditam que o tal fenómeno seja devido ao afinamento da crosta nessa área; porém, alguns medições feitas por detectores sísmicos identificaram a presença dum elemento metálico de forma circular (ou talvez cilíndrica) que aparece na base do lago, com um diâmetro muito grande.

Portanto, a hipótese é que seja esta não especificada estrutura que gera a alteração de 1000 nanotesla no campo magnético da zona.
Um meteorito? Ou algo ainda desconhecido? Não sabemos. A única certeza é que o objecto apresenta um perfil regular e que a NSA (a agência para a segurança nacional dos EUA) tem perimetrado a área e classificado as comunicações, oficialmente para "evitar a contaminação".

Um dos muitos mistérios do Vostok, cuja exploração faz lembrar o trabalho das sondas espaciais: um mundo novo, desconhecido, com muitas perguntas em aberto.

*InformaçãoIncorresta
Ipse dixit.

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