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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 19, 2012

Bicheiro com diploma suspeito

Bicheiro com diploma suspeito Carlinhos Cachoeira teria feito curso superior presencial em administração a 930km de casa


» VINICIUS SASSINE



Morador de Goiânia, Carlinhos Cachoeira apresentou certificado de uma faculdade de Londrina (José Varella/CB/D.A Press - 16/2/05)
Morador de Goiânia, Carlinhos Cachoeira apresentou certificado de uma faculdade de Londrina
Para tentar garantir a liberdade ou pelo menos uma cela especial, o bicheiro Carlinhos Cachoeira apresentou à Justiça um certificado de conclusão de curso superior assinado por dois diretores de uma faculdade que já foram presos pela Polícia Federal (PF), acusados de participação num esquema de desvio de R$ 300 milhões dos cofres públicos. A instituição que expediu o certificado a Cachoeira é o Instituto de Ensino Superior de Londrina (Faculdade Inesul), cujos proprietários — Dinocarme Aparecido Lima e Vergínia Aparecida Mariani — chegaram a ser detidos pela PF, em maio de 2010.
O bicheiro teria cursado presencialmente administração, com habilitação em administração de empresas, na faculdade de Londrina (PR), mesmo morando em Goiânia e atuando diariamente no comando de uma organização criminosa especializada na jogatina ilegal, segundo investigações da PF. O certificado anexado pela defesa jurídica aos pedidos de habeas corpus de Cachoeira aponta a conclusão do curso em 17 de dezembro de 2010 e a colação de grau em 31 de março de 2011. As conversas telefônicas referentes a esse período, usadas na Operação Monte Carlo, mostram atuação intensa do bicheiro em Goiânia e em Anápolis (GO), sua cidade natal. A Inesul tem uma unidade em Anápolis, que só oferece os cursos de química, radiologia, enfermagem e segurança no trabalho.
O curso que Cachoeira teria concluído tem duração de quatro anos. Segundo os advogados do bicheiro, ele deveria ser solto por “ter profissão lícita, que é administrador de empresas, conforme incluso diploma universitário”. A Procuradoria Regional da República (PRR) desconsiderou a validade legal do documento. “Trata-se de um certificado de conclusão, e não de um diploma, como a defesa afirma. O certificado não prova que o paciente tem escolaridade de nível superior, pois é desprovido de status de diploma devidamente registrado no Ministério da Educação (MEC).”

Regalias
Em casos de prisão preventiva, como a decretada para Cachoeira, acusados com curso superior têm direito a cela especial. A regalia é válida até a condenação definitiva. A partir daí, o detido formado numa faculdade cumpre pena como qualquer outro.
O curso que o bicheiro teria frequentado foi reconhecido pelo MEC em 2007, ano em que, supostamente, Cachoeira teria começado a frequentar as aulas de administração de empresas. O Correio tentou falar com os proprietários da faculdade. Dinocarme e Vergínia não deram retorno às ligações. A “diretora acadêmica” da Inesul, Márcia Marques Dib, que também assina o documento, disse ao Correio que não poderia dar nenhuma explicação. Segundo ela, as justificativas deveriam ser dadas pela diretora jurídica da faculdade, Maria Lúcia, que nem retornou às ligações.
Segundo a investigação da PF que resultou na Operação Parceria e na prisão de Dinocarme e Vergínia, foram desviados R$ 300 milhões em cinco anos, por meio de um Centro Integrado de Apoio Profissional, coordenado pelo diretor da faculdade. O esquema tinha ramificação em Goiás, conforme a PF.
"O certificado não prova que o paciente tem escolaridade de nível superior, pois é desprovido de status de diploma devidamente registrado no Ministério da Educação (MEC)”
Trecho de manifestação da Procuradoria Regional da República

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