Ao contrário da Islândia, como no post anterior se pode ver, os governos da Península Ibérica fizeram-se aliados do capitalismo neoliberal em benefício próprio, atirando os povos para a fogueira do genocídio ortodoxo. Resolvi divulgar este artigo da Carta Maior no Brasil, apenas com umas pequenas alterações, para melhor se adaptarem ao que se passa por cá. Uma visão do outro lado do Mundo, verdadeira e aterradora:
Espanha: a "agenda positiva" dos demos
Em Portugal e na Espanha onde versões ibéricas dos demos chegaram onde queriam chegar, no poder.
Nesta 3ª feira, por exemplo, as tesouradas fiscais do governo Rajoy (PP) fizeram estremecer as bolsas da Europa e do mundo: distintas latitudes financeiras temem o efeito dominó de uma quebra da Espanha, hipótese cada vez mais presente no radar dos analistas. Em poucos mais de 100 dias sob governo do PP, 74% dos espanhóis acham que a vida vai piorar. Rajoy teima que não. Uma esfinge algo catatônica o demo espanhol resolveu escalpelar a nação para reduzir o déficit público (dos atuais 8,5% para 5,3% até dezembro) e reconquistar a confiança dos mercados.
A lógica da 'purga redentora' não se mostrou eficaz: a Bolsa espanhola teve a segunda pior queda do ano nesta terça-feira; os mercados respondem às tesouradas cada vez mais ariscos: para aplicar em títulos do cambaleante Estado espanhol exigem taxas de juros entre quatro a cinco pontos acima do rendimento alemão. Hoje a Espanha já gasta mais com juros do que com funcionários públicos. O desemprego atinge mais da metade da juventude. Rajoy não recua: 24 horas depois da greve geral de 29 de março, que levou 800 mil pessoas em protesto às ruas de Madrid, Barcelona, Valencia, o presidente conservador anunciou reforma trabalhista que encoraja, barateia e acelera demissões.
Em seguida, decretou cortes de 22% no orçamento da educação, 7% no da saúde, 25% em pesquisa e tecnologia, 15% na Cultura e 21% no fomento ao emprego. Diante das desconfianças dos mercados não se conteve: ontem fez aprovar mais 10 bilhões de euros em cortes na saúde pública e na educação.
A demencial conduta da direita ortodoxa na zona do euro já causa apreensão até no sindicato mundial dos bancos, o IFF (Instituto Internacional de Finanças). Carta assinada pelo seu diretor-geral, Charles Dallara, divulgada esta semana, figura como uma ilha de sensatez em meio ao austericídio em marcha na zona do euro. Dallara adverte que:
a) a austeridade torna-se contraproducente quando é aplicada de forma desordenada e simultânea - se todas as economias cortam gastos, empregos e salários ao mesmo tempo, a contração da demanda esmaga as importações comprometendo a meta , também de todos, de ressuscitar o crescimento pela via do comércio exterior, leia-se vendendo ao vizinho;
b)'a questão chave', admite o sóbrio Dallara, 'é se a atual fórmula de liquidez (para os bancos) e austeridade (para o setor produtivo e para os cidadãos) funciona'.
Em Portugal Só queremos ser bons alunos no que nos convém. Jornal i |
Na Islândia o Povo é Soberano
Um
programa de rádio italiano falando sobre a revolução em andamento na
Islândia é um exemplo impressionante do pouco que os meios de
comunicação nos dizem sobre o resto do mundo.
No início da crise financeira de 2008, a Islândia declarou-se literalmente em falência. As razões são citadas apenas superficialmente, e desde então, esse membro pouco conhecido da União Europeia voltou a cair no esquecimento. Como os países europeus vão caindo um após o outro, colocando o euro em perigo, com repercussões para todo o mundo, a última coisa que os poderes desejam é que o caso da Islândia se transforme num exemplo a seguir, eis porquê.
Cinco anos de um regime puramente neoliberal fizeram da Islândia (população de 320 mil pessoas, sem exército), um dos países mais ricos do mundo.
No
ano de 2003, todos os bancos do país foram privatizados e num esforço
para atrair investidores estrangeiros, ofereceram empréstimos em linha,
cujos custos mínimos lhes permitiram oferecer taxas relativamente
altas de rendimentos. As contas, chamadas de "icesave" atraíram muitos
pequenos investidores ingleses e holandeses; mas, à medida que os
investimentos cresceram, isso também aconteceu com a dívida dos bancos
estrangeiros. Em 2003, a dívida da Islândia era igual a 200 vezes o seu
PIB, mas em 2007 ela chegou a 900 vezes. A crise financeira mundial de
2008 foi o golpe de graça. Os três principais bancos islandeses,
Landbanki, Kapthing e Glitnir, faliram e foram nacionalizados, enquanto
que a coroa islandesa perdeu 85% do seu valor em relação ao euro. No
final do ano, a Islândia declarou-se falida.
Contrariamente ao que se poderia esperar, a crise deu lugar à recuperação dos direitos soberanos dos islandeses, através de um processo de democracia directa participativa, que finalmente conduziu a uma nova Constituição, mas depois de muita dor.
Geir
Haarde, o Primeiro-Ministro de um governo de coligação social
democrata, negociou 2,1 biliões de dólares em empréstimos, aos quais os
países nórdicos acrescentaram outros 2,5 biliões. Contudo, a
comunidade financeira estrangeira pressionava a Islândia para impor
medidas drásticas. O FMI e a União Europeia queriam assumir o controlo
da sua dívida, alegando que era o único caminho para que o país pagasse
seus débitos com a Holanda e a Inglaterra, que tinham prometido
reembolsar os seus cidadãos.
Os protestos e os distúrbios continuaram e, finalmente, obrigaram o governo a renunciar. A eleições foram antecipadas para Abril de 2009, resultando na vitória de uma coaligação de esquerda que condenava o sistema económico neoliberal, mas que de imediato cedeu às demandas de que a Islândia deveria pagar de 3,5 bilhões de euros. Isso requereria de cidadão islandês 100 euros por mês (perto de 130 dólares) durante 15 anos com 5.5% de juros, para pagar uma dívida contraída pelo sector privado. Foi a gota de água.
O que aconteceu depois foi extraordinário. A crença de que os cidadãos tinham que pagar pelos erros de um monopólio financeiro e que a toda uma nação deveria ser responsável pelo pagamento de dividas privadas desmanchou-se, transformormando-se a relação entre os cidadãos e suas instituições políticas e que finalmente conduziu os líderes da Islândia para o lado dos seus eleitores. O chefe de estado, Olafur Ragnar Grimsson, negou-se a ratificar a lei que fazia os cidadãos islandeses responsáveis pela sua dívida bancária, e aceitou um referendo.
Obviamente, a comunidade internacional só aumentou a pressão sobre a Islândia. A Grã-Bretanha e a Holanda ameaçaram com represálias terríveis e isolamento do país.
Como
os islandeses foram votar, os banqueiros estrangeiros ameaçaram
bloquear qualquer ajuda do FMI. O governo britânico ameaçou congelar as
poupanças e as contas correntes islandesas.
Como
disse Grimsson, "disseram-nos que se nos negássemos a aceitar as
condições da comunidade internacional, nos transformariam na Cuba do
Norte. Mas se tivéssemos aceitado, teriam-nos convertido no Haiti".
Quantas
vezes tenho escrito que, quando os cubanos vem o estado lamentável do
seu vizinho Haiti, podem considerar-se afortunados?
No referendo de Março de 2010, 93% votou contra a devolução da dívida. O FMI imediatamente congelou seus empréstimos, mas a revolução (ainda que não tenha tido tempo de antena nos EUA) não se deixou intimidar. Com o apoio de uma cidadania furiosa, o governo iniciou investigações cíveis e criminais em relação aos responsáveis pela crise financeira. A Interpol emitiu uma ordem internacional de detenção para o ex-presidente de Kaupthing, Sigurdur Einarsson, assim como também para outros banqueiros implicados que fugiram do país.
Mas
os islandeses não pararam aí: Decidiu-se redigir uma nova constituição
que liberte o país do poder exagerado das finanças internacionais e do
dinheiro virtual.
Para escrever a nova constituição, o povo da Islândia elegeu vinte e cinco cidadãos entre 522 adultos que não pertenciam a nenhum partido político, mas recomendados por pelo menos trinta cidadãos. Esse documento não foi obra de um punhado de políticos, mas foi escrito na Internet.
As
reuniões dos constituintes foram transmitidas online, e os cidadãos
podiam enviar seus comentários e sugestões vendo o documento, que ia
tomando forma. A Constituição que eventualmente surgirá desse processo
democrático participativo será apresentada ao Parlamento para sua
aprovação depois das próximas eleições.
Hoje
em dia, o país está a recuperar-se de seu colapso financeiro de formas
em tudo contrárias às que eram consideradas inevitáveis, como
confirmou a directora do FMI, Chistine Lagarde, a Fared Zakrie.
Ao povo da Grécia disseram que a privatização de seu sector público é a única solução. Os povos da Itália, Espanha e Portugal enfrentam a mesma ameaça.
Deveria
olhar-se para a Islândia. Ao negar submeter-se aos interesses
estrangeiros, esse país indicou claramente que o povo é soberano.
É por isso que ele não aparece nos noticiários.
Deena StrykerIslândia iniciou o julgamento ontem, 10 de Abril, do neoliberalismo.
Na Islândia o Povo é Soberano e no resto dos Países da UE?*Guerrasilenciosa
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