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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 04, 2012

Lobos em pele de cordeiro

Fica sensivelmente mais baixo o tom de voz de todos aqueles que nas televisões, revistas e nos novos meios eletrônicos de comunicação apelavam com discurso moralista contra a desfaçatez e a corrupção, que se dizia imperar nas instituições de governo.

O maior símbolo desses moralizadores, o senador por Goiás Demóstenes Torres, revelou-se personagem a serviço do crime organizado como nos mais incríveis filmes de ficção policial.

O prejuízo é enorme para as oposições, que apostaram todas as fichas no campo de batalha parlamentar apelando a um tipo de elemento diferenciador de lógica negativante, que buscava na retirada da credibilidade do oponente a justificativa para a aspiração ao poder político e para a dispensa de embate de propostas a fim de conquistá-lo.

É esse tipo de política de acusação posta em prática pelos principais partidos de oposição desde que Lula da Silva elegeu-se presidente da República – e alçado ao paroxismo com o chamado escândalo do mensalão – que chega a um ponto de inflexão com o desmascaramento do falso tribuno que o oposicionismo instalou no senado.

Evidente que o recurso à desmoralização, como substituto imediato da contraposição de propostas e idéias necessárias ao fortalecimento da democracia no País, não vingaria caso a mídia de maior penetração não lhe desse sustentação, e, como se sabe agora, também a origem. O envolvimento do semanário Veja com os mesmos criminosos que colaboraram com a usurpação do mandato popular pelo senador Demóstenes, é revelador o bastante disso.

A queda do discurso moralizador como forma privilegiada de disputa política faz vítimas no quadro partidário nacional. Mata de vez o partido que fez da tribuna de acusação seu maior triunfo, o DEM, e fere gravemente seu principal parceiro de práticas oportunistas, o partido da socialdemocracia brasileira.

Fica difícil agora para o PSDB fugir à associação da imagem de tucanos a demistas, construída em mais de 20 anos de parcerias políticas. E à dificuldade de dissociação entre os protagonistas da pseudocampanha pelo saneamento da política corresponde também a potencial interdição do discurso de que se utilizaram ao longo de todas as campanhas eleitorais, e que pretendiam ver renovado agora. 

Acusações que antes eram objeto de contemporização na mídia contra outras figuras de grande expressão do mesmo campo político, como José Serra às voltas com uma CPI por evasão de divisas para paraísos fiscais e Agripino Maia acusado de envolvimento com fraudes em licitações no Rio Grande do Norte, não poderão mais ser omitidas nem tomadas por infundadas quando ressurgirem nas próximas  campanhas eleitorais.

Por ocasião das eleições municipais, é hora dos partidos que foram vítimas do ardil da desqualificação moral, encenadas até agora pelos chefes da oposição, tomarem desta vez o palco e bradarem alto e bom som ao distinto público : é gente apta exclusivamente a uivar, lobos em pele de cordeiro. E, é claro, mostrar o por que.
*Turquinho

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