Lobos em pele de cordeiro
O maior símbolo desses moralizadores, o senador por Goiás Demóstenes Torres, revelou-se personagem a serviço do crime organizado como nos mais incríveis filmes de ficção policial.
O
prejuízo é enorme para as oposições, que apostaram todas as fichas no
campo de batalha parlamentar apelando a um tipo de elemento
diferenciador de lógica negativante, que buscava na retirada da
credibilidade do oponente a justificativa para a aspiração ao poder
político e para a dispensa de embate de propostas a fim de conquistá-lo.
É
esse tipo de política de acusação posta em prática pelos principais
partidos de oposição desde que Lula da Silva elegeu-se presidente da
República – e alçado ao paroxismo com o chamado escândalo do mensalão –
que chega a um ponto de inflexão com o
desmascaramento do falso tribuno que o oposicionismo instalou no senado.
Evidente
que o recurso à desmoralização, como substituto imediato da
contraposição de propostas e idéias necessárias ao fortalecimento da
democracia no País, não vingaria caso a mídia de maior penetração não
lhe desse sustentação, e, como se sabe agora, também a origem. O
envolvimento do semanário Veja com os mesmos criminosos que colaboraram
com a usurpação do mandato popular pelo senador Demóstenes, é revelador o
bastante disso.
A
queda do discurso moralizador como forma privilegiada de disputa
política faz vítimas no quadro partidário nacional. Mata de vez o
partido que fez da tribuna de acusação seu maior triunfo, o DEM, e fere
gravemente seu principal parceiro de práticas oportunistas, o partido da
socialdemocracia brasileira.
Fica
difícil agora para o PSDB fugir à associação da imagem de tucanos a
demistas, construída em mais de 20 anos de parcerias políticas. E à
dificuldade de dissociação entre os protagonistas da pseudocampanha pelo
saneamento da política corresponde também a potencial interdição do
discurso de que se utilizaram ao longo de todas as campanhas
eleitorais, e que pretendiam ver renovado agora.
Acusações
que antes eram objeto de contemporização na mídia contra outras figuras
de grande expressão do mesmo campo político, como José Serra às voltas
com uma CPI por evasão de divisas para paraísos fiscais e Agripino Maia
acusado de envolvimento com fraudes em licitações no Rio Grande do
Norte, não poderão mais ser omitidas nem tomadas por infundadas quando
ressurgirem nas próximas campanhas eleitorais.
Por
ocasião das eleições municipais, é hora dos partidos que foram vítimas
do ardil da desqualificação moral, encenadas até agora pelos chefes da
oposição, tomarem desta vez o palco e bradarem alto e bom som ao
distinto público : é gente apta exclusivamente a uivar, lobos em pele de
cordeiro. E, é claro, mostrar o por que.
*Turquinho
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