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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, abril 16, 2012

Para não investigar as ligações criminosas Demóstenes-Cachoeira, a Veja vem de "mensalão"



É mais do que sintomático o comportamento da Veja, cuja matéria capa desta semana tenta tirar os holofotes das gravíssimas denúncias em torno do esquema criminoso comandado pelo contraventor e empresário Carlos Cachoeira, com tentáculos em esquemas de governo e no qual estão envolvidos políticos de diversos partidos, muito especialmente os da oposição.
Para desviar o foco das investigações e da mobilização pela instalação de uma CPI no Congresso Nacional, a Veja vem com a tese de que o PT quer usar a CPI para investigar as ligações entre Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, hoje sem partido) e outros políticos para encobrir o chamado “escândalo do mensalão”. E para que os envolvidos não sejam julgados.
Nada mais falso. Eu sou réu neste processo e sempre disse que quero ser julgado para provar a minha inocência. O que a Veja quer fazer, secundada por outros veículos da grande mídia, é transferir ao PT o seu modus operandi de jogar poeira nos olhos dos leitores para turvar a realidade, desviar o foco e anestesiar os fatos para construir a pauta política que lhe convém. No caso, tenta, desde 2005, quando eclodiu o escândalo do uso de recursos de caixa dois para pagar dívidas de campanha de partidos da base do governo Lula, transformar o crime eleitoral em crime político de compra de votos de congressistas em matérias de interesse do governo. E segue ignorando os autos do processo.
Pressão aos juízes
O que ocorre agora é mais um movimento dessa campanha, centrada na pressão aos juízes do STF para um julgamento político do “mensalão”, no lugar de um julgamento baseado em fatos e provas. Nada de novo, com o agravante de que, ao trazer o escândalo do “mensalão” para o centro dos debates tentando atropelar o julgamento do processo, tem claramente o interesse de confundir o público e tirar os holofotes do escândalo da ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes, e da cadeia de interesses dela decorrente.
Só para lembrar: o caso do mensalão emergiu dentro do escândalo Cachoeira-Demóstenes pelo fato de o ex-prefeito de Anápolis, Ernani José de Paula, ter denunciado que a gravação de entrega de propina nos Correios em 2005 – que deu origem à CPI dos Correios e ao mensalão – foi patrocinada pelo esquema de Cachoeira.
Na esteira dessa gravíssima denúncia de relações e contaminação da máquina pública por interesses privados e criminosos, uma triste constatação. A de que alguns órgãos de imprensa, onde se destaca a Veja, pretensa guardiã da ética e bons costumes das elites, serviram-se de informações engendradas no esquema criminoso de Cachoeira para produzir matérias denuncistas. Que fatídica aliança! Com esta matéria de capa, a Veja tenta livrar sua própria pele e escamotear seus métodos de fazer jornalismo que atentam contra a ética da profissão; em suma, contra a democracia.
José Dirceu
No Blog do Zé

Azeredo, pai do mensalão, se banhou na cachoeira


O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que foi o primeiro a utilizar o esquema Marcos Valério, também fez negócios com empresas de Carlos Cachoeira; bicheiro teve concessão para fazer negócios com a Loteria Mineira e deixou prejuízo estimado em R$ 286 milhões
O ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, do PSDB, tem cumprido uma triste sina. Em 2005, quando o escândalo do mensalão ameaçava o mandato de Lula, descobriu-se que o esquema Marcos Valério foi gestado em sua administração (1995-1999) à frente do Palácio da Liberdade. Graças a isso, os petistas conseguiram neutralizar parte dos ataques. As agências de publicidade de Valério, DNA e SMPB, tiveram papel decisivo no financiamento de campanha de Azeredo à reeleição – numa disputa em que ele foi derrotado para Itamar Franco.
Agora, vem à tona uma nova ligação constrangedora de Azeredo. Foi também na administração Azeredo, que Carlos Cachoeira conseguiu exportar seus negócios ligados à jogatina de Goiás para outros estados do Brasil. A Jogobrás, subsidiária da Gerplan, empresa de Cachoeira, explorou em Minas uma loteria privada chamada Sorteca. A concessão também permitiu que o bicheiro explorasse caça-níqueis no estado, em parceria com a multinacional americana GTech.
Em Minas, Cachoeira já tinha o hábito de gravar encontros com autoridades. Uma de suas fitas derrubou o ex-procurador-geral Márcio Decat e toda a cúpula da Loteria Mineira. À época, o jornal Estado de Minas publicou diversas reportagens sobre os negócios de Cachoeira no estado. Graças a elas, as vídeo-loterias foram suspensas.
Neste domingo, uma reportagem do jornal Estado de Minas revela que os contratos feitos na gestão de Azeredo causaram prejuízos de mais de R$ 286 milhões ao governo mineiro.

Cachoeira em Minas: negócios antigos

Os tentáculos dos negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira em Minas Gerais mostram negócios em pelo menos seis empresas do estado. Há mais de duas décadas o contraventor atua em Uberlândia, Araxá e Belo Horizonte. Hoje, o contraventor toca apenas uma dessas seis empresas: a Bet Capital, de Araxá, no Triângulo Mineiro.
Cachoeira é investigado pelo Ministério Público estadual desde 2000. Em 2003, ele operou, sem licitação, jogos da Loteria do Estado de Minas Gerais, por meio da Jogobrás do Brasil Ltda, que pertencia a ele. Em julho de 2000, um documento da Loteria Mineira revela prejuízo de R$ 286,3 milhões durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo, do PSDB.
Leia abaixo reportagem de Alessandra Mello, Alice Maciel e Maria Clara Prates publicada no jornal Estado de Minas:

Acusado de corrupção, bicheiro Carlinhos Cachoeira já comandou seis empresas em Minas

O contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso durante a Operação Monte Carlo, tem em Minas Gerais um importante território para a operação dos seus negócios ilegais com o jogo. Cachoeira, assim como seu parceiro, o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), montou empresas no estado em diversas áreas de atuação, há mais de duas décadas, em Uberlândia, no Triângulo mineiro, e em Araxá, no Alto Paranaíba, além de Belo Horizonte. O bicheiro, acusado também de corrupção e formação de quadrilha, já esteve à frente de seis empresas no estado, mas atualmente toca apenas uma delas, a filial da Bet Capital, instalada em Araxá, onde aparece como representante legal . Essa empresa abocanhou um contrato milionário com a prefeitura, já encerrado, mas ainda sob investigação do Ministério Público Estadual por suspeita de superfaturamento na prestação dos serviços.
De acordo com relatório da Procuradoria da República em Goiás, pelo menos 4% dos negócios do contraventor, que já foi dono de, no mínimo, 59 empresas em todo o país, sendo 38 ativas, é movimentado em Minas. No entanto, interceptações telefônicas, feitas pela Polícia Federal com autorização judicial revelam que as empresas legais serviam, na verdade, para ocultar as transações com as máquinas caças-níqueis. Em um diálogo, em julho do ano passado, Lenine Araújo de Souza, sócio da empresa Capital, em Araxá, conversa com um parente de Cachoeira sobre uma comissão de 30% paga a donos de caças-niquéis e um sistema de gerenciamento dos jogos que estava sendo implantado em Uberlândia.
Em outra interceptação, Idalberto Matias, conhecido como Dadá, araponga de Cachoeira, conversa com uma pessoa identificada apenas como professor sobre o esquema de jogos na capital mineira. Na conversa, o “professor” diz a Dadá que vai viajar a Belo Horizonte para se encontrar com uns políticos, “gente forte da área lá” para resolver uma pendência. O inquérito da PF não traz detalhes sobre o negócio.
Desde 2000, Cachoeira vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPMG). A Promotoria de Combate ao Crime Organizado do MPMG iniciou uma devassa nos negócios dele em Minas, mas decisão do Conselho de Procuradores barrou a iniciativa, por entender, que as investigações de contravenção penal, são de responsabilidade do Juizado Especial Criminal. Em 2003, o bicheiro foi protagonista de um escândalo em Minas por operar, sem licitação, jogo da Loteria do Estado de Minas Gerais por meio da Jogobrás do Brasil Ltda, empresa que pertencia a ele.
Documento elaborado pela Assessoria de Planejamento e Coordenação da Loteria Mineira, em julho de 2000, revela que o contrato firmado causou um prejuízo da ordem de R$ 286.254.760 durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB).
Os negócios e as relações políticas de Cachoeira, em Goiás e Minas, tiveram a força de atrair até Goiânia uma comissão de deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para conhecer uma iniciativa de projeto de lei para regulamentar a jogatina naquele estado. Na ocasião, em 2002, a comissão foi recepcionada pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, o então promotor de Justiça Demóstenes Torres, no governo de Marconi Perillo (PSDB). Hoje, o senador e Perillo (PSDB), que retornou ao governo de Goiás no ano passado, são suspeitos de beneficiar o bicheiro Carlinhos Cachoeira, conforme investigação da Procuradoria da República daquele estado. A iniciativa dos parlamentares mineiros, no entanto, não rendeu os frutos desejados. O MPMG, depois da acusação de envolvimento do então procurador-geral de Justiça de Minas Márcio Decat com a jogatina, fez uma dura investida contra os bingos, caça-níqueis e jogo de bicho, enterrando a possibilidade de legalização da contravenção.

Assim como Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres tem empresa em Minas

Seguindo os passos do bem-sucedido Carlos Cachoeira, ao decidir se arriscar no mundo dos negócios, o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), escolheu Minas para receber sua primeira empresa, uma faculdade em Contagem, na região metropolitana da capital. Em 2008, Demóstenes se associou a sua assessora no Senado, Renata Carla de Castro Costa, e ao empresário Marcelo Henrique Limírio Gonçalves para criar o Instituto de Nova Educação Ltda. A composição societária da faculdade terminou por revelar mais uma vez que os caminhos de Demóstenes e Cachoeira se cruzam com frequência. Limírio é sócio do contraventor na empresa ICF – Instituto de Ciências Famarcêuticas de Estudos e Pesquisa Ltda, em Goiânia, que teria faturado R$ 30 milhões em 2010. A ICF, na verdade, está registrada em nome da ex-mulher de Cachoeira, Andréa Aprígio de Souza e fornece testes para laboratórios.
Limírio é dono da empresa Hypermarcas, que integra o conglomerado de empresas Bionovis, e fez negócio de pai para filho com Demóstenes Torres. Ele investiu R$ 600 mil no negócio, sendo que coube ao senador a aplicação de R$ 200 mil divididos em 25 prestações de R$ 8 mil mensais, quitadas há dois anos. Registrada em 2008, a faculdade foi inaugurada no final de 2009 com um coquetel que contou com a presença de Demóstenes. A comemoração foi feita na própria sede da universidade, que oferece cursos de administração, ciências contábeis, direito, farmácia e enfermagem. A terceira sócia de Demóstenes, Renata Costa, passou a ser diretora-executiva da instituição depois de ser exonerada do cargo de chefe de gabinete do senador. Antes de se mudar para Brasília, ela ocupou um cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Minas. Sua participação foi adquirida nas mesmas condições de Demóstenes Torres.
De acordo com o Ministério Público, manter relação com o contraventor Cachoeira não é crime. No entanto, as investigações da Procuradoria tentam esclarecer o enriquecimento rápido daqueles que transitam por sua rede de negócios. A faculdade do político em Minas é um dos alvos da apuração. Ontem, a diretora Renata Costa negou que o instituto tenha qualquer vinculação com as investigações da Procuradoria da República em Goiás. Garantiu não conhecer o contraventor, mesmo tendo sido chefe de gabinete de Demóstenes. Disse ainda que desconhecia o relacionamento de seus sócios com Carlinhos Cachoeira. “Eu os conheço apenas profissionalmente. Não tenho qualquer conhecimento da vida pessoal deles”, diz. O envolvimento de Demóstenes foi revelado no final de fevereiro, quando Cachoeira e mais 34 pessoas foram presas durante a Operação Monte Carlo, que fez devassa na organização criminosa especializada na exploração do jogo.
O senador é acusado de tráfico de influência para favorecer o contraventor depois da interceptação de telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira, que chegaram a quase 300. Nele, o político chama Carlinhos Cachoeira de “professor” e demonstra preocupação com projetos de lei em tramitação que possam prejudicar os negócios do amigo. Em uma delas fica, ele deixa claro sua posição ao assumir o lobby pela legalização do jogo no Brasil. Além disso, Demóstenes recebeu vários mimos de presente de Cachoeira.
No Brasil 247
*Militanciaviva

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