Por Paulo Nogueira
Numa de suas frases mais repetidas, Marx disse que a religião é o ópio do povo.
Não.
É mais que isso.
A religião é a metralhadora do povo.
Vejo no depoimento de
Anders Breivik, o assassino norueguês, que ele afirma que ao matar 69
pessoas estava defendendo a cristandade. Os cristãos. Gente que ele
imagina estar sob o risco de ser varrida pelos muçulmanos.
Breivik está certo de que Cristo aprovaria sua ação, portanto.
A humanidade está entupida de sangue derramado em nome de causas religiosas.
Ricardo II, o Coração de
Leão, por exemplo, rei da Inglaterra na Idade Média. Ele passou para a
história como um guerreiro de extrema bravura que comandou uma campanha
militar gloriosa – sagrada, até – para recuperar Jerusalém do domínio
dos infiéis, como eram chamados os muçulmanos.
Numa batalha, Ricardo
fez 5 000 reféns. Suas exigências para libertá-los eram inalcançáveis.
Mandar executá-los, simplesmente, era complicado: os soldados de Ricardo
se sentiriam desconfortáveis matando pessoas desarmadas e indefesas.
Ricardo então fez o
seguinte: espalhou o boato de que os muçulmanos tinham decidido matar
todos os presos cristãos. Aí os 5 000 infiéis foram mortos a sangue
frio.
Por Cristo.
A coroação de Ricardo fora já um assassinato religioso em massa. Judeus foram assassinados pelocrime de
terem ido participar da festa pela ascensão do novo rei, em Londres. O
holocausto dos judeus na coroação de Ricardo logo de espalharia de
Londres para outras cidades inglesas. Num episódio particularmente
doloroso, em York um grupo de judeus sitiados por cristãos se suicidou
de forma épica: os homens mataram primeiro as mulheres e as crianças, e
depois a si próprios. Escaparam assim da violência dos cristãos. (Reis
como Ricardo aproveitavam a chacina de judeus para deixar de pagar suas
dívidas. Impedidos dos ofícios habituais, restava aos judeus comerciar e
emprestar dinheiro.)
A história da humanidade
é a história da matanças por fins religiosos. Existe uma única religião
que não estimulou em seus seguidores fanatismo homicida e ímpetos
guerreiros: o budismo. É uma das razões pelas quais a China, onde o
budismo é vigoroso, foi sempre militarmente fraca.
E então, agora, somos obrigados a ver Breivik falar que estava defendendo a cristandade.
Pobre Cristo.
Se soubesse o que os homens fariam em seu nome, teria lutado com todas as forças pelo anonimato completo.
*Mariadapenhaneles
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