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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 19, 2012

A Religião É A Metralhadora Do Povo



Por Paulo Nogueira


Como Breivik, Ricardo Coração de Leão matava em nome de Cristo
Numa de suas frases mais repetidas, Marx disse que a religião é o ópio do povo.
Não.
É mais que isso.
A religião é a metralhadora do povo.
Vejo no depoimento de Anders Breivik, o assassino norueguês, que ele afirma que ao matar 69 pessoas estava defendendo a cristandade. Os cristãos. Gente que ele imagina estar sob o risco de ser varrida pelos muçulmanos.
Breivik está certo de que Cristo aprovaria sua ação, portanto.
A humanidade está entupida de sangue derramado em nome de causas religiosas.
Ricardo II, o Coração de Leão, por exemplo, rei da Inglaterra na Idade Média. Ele passou para a história como um guerreiro de extrema bravura que comandou uma campanha militar gloriosa – sagrada, até – para recuperar Jerusalém do domínio dos infiéis, como eram chamados os muçulmanos.
Numa batalha, Ricardo fez 5 000 reféns.  Suas exigências para libertá-los eram inalcançáveis. Mandar executá-los, simplesmente, era complicado: os soldados de Ricardo se sentiriam desconfortáveis matando pessoas desarmadas e indefesas.
Ricardo então fez o seguinte: espalhou o boato de que os muçulmanos tinham decidido matar todos os presos cristãos. Aí os 5 000 infiéis foram mortos a sangue frio.
Por Cristo.
A coroação de Ricardo fora já um assassinato religioso em massa. Judeus foram assassinados pelocrime de terem ido participar da festa pela ascensão do novo rei, em Londres.  O holocausto dos judeus na coroação de Ricardo logo de espalharia de Londres para outras cidades inglesas. Num episódio particularmente doloroso,  em York um grupo de judeus sitiados por cristãos se suicidou de forma épica: os homens mataram primeiro as mulheres e as crianças, e depois a si próprios.  Escaparam assim da violência dos cristãos. (Reis como Ricardo aproveitavam a chacina de judeus para deixar de pagar suas dívidas. Impedidos dos ofícios habituais, restava aos judeus comerciar e emprestar dinheiro.)
A história da humanidade é a história da matanças por fins religiosos. Existe uma única religião que não estimulou em seus seguidores fanatismo homicida e ímpetos guerreiros: o budismo. É uma das razões pelas quais a China, onde o budismo é vigoroso, foi sempre militarmente fraca.
E então, agora, somos obrigados a ver Breivik falar que estava defendendo a cristandade.
Pobre Cristo.
Se soubesse o que os homens fariam em seu nome, teria lutado com todas as forças pelo anonimato completo.
*Mariadapenhaneles

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