Então são dez anos sem o Doutor Roberto Marinho, um homem nas próprias
palavras “condenado ao êxito”, completados agora em agosto.
Lembremos sua jornada quase centenária sobre esta terra, contritos, e agradeçamos a ele por:
1) conspirar contra um governo democrático e abrir as portas para uma
ditadura militar que matou, perseguiu e fez do Brasil um campeão
mundial de desigualdade;
2) fazer um pacto com essa ditadura pelo qual em troca de receber uma rede de tevê a apoiaria incondicionalmente;
3) ocupar o Estado brasileiro, de tal forma que sucessivos governos o
brindaram com empréstimos multimilionários a juros maternos ou
pagáveis, eventualmente, até com anúncios;
4) ocupar também o legislativo nacional, de maneira que quando o
Brasil se abriu à concorrência internacional a Globo permaneceu
protegida por uma reserva de mercado que contraria o capitalismo de que
nosso companheiro tanto falava;
5) criar, na captação de publicidade, uma propina chamada “BV”, pela
qual a Globo mantém até hoje acorrentadas as agências de propaganda e
com a qual mesmo com audiências cada vez menores a receita da empresa
continua a aumentar;
6) levar ao estado da arte o merchandising, com o qual os brasileiros
são estimulados subrepticiamente a tomar cerveja em todas as ocasiões
em cenas de novela pelas quais os fabricantes de novelas pagam um
dinheiro muito além da propaganda normal;
7) montar uma programação à base de novelas que ao longo do tempo
tanto ajudaram a entorpecer a alma e o espírito crítico de tantos
brasileiros;
8) abduzir o judiciário nacional com relações promíscuas, com as
quais a emissora pôde montar um esquema bilionário de sonegação sem
risco de pagar por isso;
9) manter por tantos anos João Havelange e Ricardo Teixeira na CBF por
causa das relações especiais, e com isso conseguir coisas como o pior
horário de futebol do mundo, ainda hoje mantido por causa da novela;
10) criar uma cultura de jornalismo da qual derivariam, ao longo do
tempo, figuras como Amaral Neto, Alberico Souza Cruz, Merval Pereira,
Ali Kamel, William Wack e Arnaldo Jabor.
Por tudo isso, e muito mais, como Galvão e Faustão, Huck e Ana Maria
Braga, Saia Justa e Manhattan Connection, Proconsult e Diretas Já, BBB e
Jô Soares, nós lembramos o legado do companheiro Roberto Marinho e lhe
rendemos graças.
Paulo Nogueira
No DCM*Saraiva
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