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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 05, 2013

FHC: uma alma pequena quer um gigante ajoelhado


FHC: uma alma pequena quer um gigante ajoelhado


Não é preciso citar o Pessoa, nem vale a pena, pelo outro Fernando.
O outro Fernando, o HC, é a alma do tamanho que faz com que nada valha a pena.
Seu artigo de hoje é o seu retrato.
Não é um estadista.
É uma alma servil, que vê grandeza onde só há pequenez mental.
Ao menos tem razão em uma coisa: tudo o que escreve deve mesmo ser esquecido.
A sublimação octogenária de FHC é como a da naftalina: estéril e nauseabunda.
Transcrevo do Estadão:
Com ou sem consciência de seus erros, o petismo é responsável por muito do que aí está. Não por acaso seu líder supremo, depois de longo silêncio, ao falar foi claro: identificou-se com as instituições que as ruas criticam e, como Macunaíma, aconselhou a presidenta a fazer oposição a si mesma, como se governo não fosse…
Cínico. Um homem com a sua formação intelectual – por mais de verniz e citações que o seja – não pode deixar de saber que, com um governo progressista ou com qualquer governo – inclusive o dele – as instituições brasileiras são conservadoras, patrimonialistas, discriminatórias e que, na falta de uma revolução que legitimasse sua substituição traumática, sua reforma vai custar décadas, mesmo com as ruas a exigir-lhes pressa.
Tudo se muda, aqui neste país, quando é para garantir que nada mude. Foi assim que, a toque de caixa, fez-se a reeleição (a dele), a perda de direitos sociais (com ele e com o Governo Lula, também), a entrega do patrimônio nacional – petróleo entre ele – e tantas outras mudanças que só visavam manter o status neocolonial e submisso deste país.
Fazer com que as coisas mudem, ao contrário, é penoso, desgastante e conflituoso.
Qualquer fcidadão comum, dotado de um mínimo de senso, pode comprová-lo ao pensar como é aprovar, no Congresso ou na Justiça, qualquer medida que ponha fim a privilégios, distorções, estruturas iníquas, tudo o que mantêm o status quo excludente e neocolonial deste país. Quase temos de pedir licença para sermos uma nação e um povo livres.
Mas é pior. Ao lançar seu “grito de guerra”, Fernando Henrique agiganta sua pequenez e faz ver em tons repugnantes qual é seu projeto de país.
Se as oposições pretenderem sobreviver ao cataclismo, a hora é agora. O Brasil quer e precisa mudar. Chegou o momento de as vozes oposicionistas se comprometerem com um novo estilo de política e de assim procederem. Escutando e interpretando o significado do protesto popular. Sendo diretas e sinceras. Basta de corrupção e de falsas manias de grandeza. Enfrentemos o essencial da vida cotidiana, dos transportes à saúde, à educação e à segurança, não para prometer o milagre da solução imediata, mas a transparência das contas,das dificuldades e dos propósitos.
Sim, senhores e senhoras, este é o Brasil de Fernando Henrique Cardoso: um pobre limpinho, que faz “o dever de casa”, que não sonha e se contenta com as contas miseráveis, de um orçamento bem apertado, fecharem no final do mês.
Um Brasil que renuncia, por covarde, à vocação que lhe permitem seu tamanho, seu povo e suas riquezas e abandona seus sonhos e destinos e se contenta com a mediocridade, com um destino de colônia “arrumadinha e limpa”, onde os pobres, convenientemente, não proporcionem a visão de sua fealdade, de suas carências, de sua…pobreza!
Fernando Henrique nem mesmo um americanófilo é, porque não tem a aspiração que os ”pais fundadores” da América do Norte tiveram, de enxergar a grandeza e o poder daquela terra – até ali uma simples colônia inglesa, para onde se mandaram os indesejáveis – e a transformaram, para o bem e para o mal, na maior das potências da História.
O que ele chama de “falsas manias de grandeza” é a capacidade, o potencial deste país para ser rico, livre e feliz.
O que eu lhe chamo de “pequenez de alma” é seu conselho para que renunciemos a isso e nos conformemos com a condição de gata borralheira, tal como ele o fez, aplicando a sua ciência, a sua consciência e os seus atos em serviços prestados, como presidente e como intelectual, aos esquemas de dominação que ele conhece bem, mas finge ignorar.
Que nos conformemos em ser o gigante dócil, curvado, ajoelhado aos senhores do mundo, a ser puxado por uma cordinha financeira para cá ou para lá.
“E não nos enganemos mais: ou nos capacitamos para participar e concorrer num mundo global áspero e em crise ou nos condenaremos à irrelevância.”
Como participar e concorrer num “mundo global áspero” onde as regras do jogo são viciadas, para que os ricos fiquem mais ricos e os pobres tenham de trabalhar o triplo por migalhas? Como jogar “limpo” quando o mercado financeiro e sua especulação – ele sabe, ele viveu isso – atira anos de esforço por terra com uma crise na bolsa da Tailândia ou um calote em Timbuctú?
Ou, pior, quando nos atocham de dólares com que irrigam suas economias em crise, sem inflacioná-la e, depois, no primeiro espasmo de melhoria, refluem, arrastando consigo a estabilidade econômica dos países emergentes?
Não, senhor Fernando Henrique, não é como bons meninos, arrodilhados aos pés do mundo desenvolvido, que iremos competir com sua aspereza.
Certo que não precisamos ser “enfants terribles”. ao contrário. Discutir, acordar, compor, sim. Mas jamais incondicionalmente, como uma rendição a um sistema que, pelos séculos, nos sugou e empobreceu.
É isso, não outra coisa, que nos condenou à irrelevância, enquanto nossos contemporâneos de América que nos assemelham em tamanho e riquezas, viraram a maior força econômica e política do mundo e o que está transformando a China rural, miserável e atrasada na potência do Terceiro Milênio.
É isso, este pensamento de gente irrelevante perante a História, como o senhor já se tornou.
Um mérito, porém, a ele fica.
O senhor é uma referência: para onde Fernando Henrique apontar é que este país, que o conhece bem, não irá.
Por: Fernando Brito

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