Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 13, 2013

Fidel conseguiu manter seus princípios e seguir em frente com seus ideais de solidariedade entre as nações e justiça.

Fidel em quatro textos

Via Síntese Cubana
“Fidel continuará líder da Ilha da Liberdade.”
A frase, que dá o título a este texto, foi dita pelo líder do Partido Comunista russo, Gennady Ziuganov, no momento em que Fidel Castro se afastou da presidência de Cuba, em fevereiro de 2008. Ela se perpetuará nos corações dos cubanos e dos povos solidários que lutam contra a opressão e a injustiça. A Síntese Cubana a utiliza para homenagear o comandante eterno neste momento em que ele completa 87 anos de vida.
Fidel Castro passa à história como o homem da incansável resistência aos Estados Unidos. Nos anos que permaneceu no poder, Fidel enfrentou dez presidentes norte-americanos, além de um bloqueio econômico, uma invasão apoiada pela CIA e vários atentados. Ele se tornou símbolo da esperança dos países do Terceiro Mundo e dos movimentos de libertação.
Nascido em 13 de agosto de 1926 em Biran, Fidel foi o terceiro de uma família de sete filhos. Seu pai, o espanhol Angel Castro, combateu no Exército colonial da Espanha antes de se instalar na Ilha; a mãe, Lina Ruz, era uma cubana humilde, natural de Pinar del Rio.
Após estudar em colégios jesuítas, Fidel se matriculou na Universidade de Havana em 1945 e saiu formado em Direito cinco anos mais tarde. No ensino superior, adquiriu consciência política, primeiro na Federação de Estudantes Universitários (FEU) e depois como integrante do Partido do Povo Cubano, no qual participou das campanhas contra a corrupção governamental.
Ainda como estudante, Fidel participou em 1947 da frustrada expedição que tinha como objetivo derrubar o ditador dominicano Rafael Leonidas Trujillo. Um ano mais tarde, quando estava em Bogotá para um congresso estudantil, foi surpreendido pelo assassinato do líder progressista colombiano Jorge Eliecer Gaitan e integrou os protestos posteriores, que ficaram conhecidos como “Bogotazo”.
O golpe de estado protagonizado em Cuba, em 10 de março de 1952, pelo general Fulgêncio Batista levou o jovem advogado a optar pela luta armada como via para derrubar o ditador. Em 26 de julho de 1953, depois de 16 meses de planejamento clandestino, Fidel liderou um grupo de patriotas que atacou o quartel de Moncada, segunda base militar mais importante de Cuba. A operação fracassou, mas marcou o ponto de partida da Revolução Cubana.
Fidel e seu irmão Raul foram condenados a 15 anos de prisão em 16 de outubro de 1953, em um julgamento no qual o líder rebelde assumiu a própria defesa e, durante um discurso de cinco horas, pronunciou a célebre frase: “A história me absolverá”.
Em 15 de maio de 1955, Fidel Castro e seus companheiros foram anistiados. Depois de fundar o Movimento 26 de Julho partiu para o exílio no México, onde começou a preparar uma nova ação armada contra a ditadura de Batista.
Em 2 de dezembro de 1956, a bordo do iate Granma e à frente de 81 homens, desembarcou em Alegria de Pio, na região oriental da Ilha, e sofreu um duro revés: o pequeno grupo expedicionário foi dizimado pelo Exército assim que tocou em terra, mas 16 combatentes conseguiram sobreviver, incluindo Fidel, Raul e Ernesto Che Guevara, e se refugiaram em Sierra Maestra.
Protegida pela selva da cadeia montanhosa, a guerrilha começou a atacar as tropas de Batista e a recrutar novos membros entre os camponeses e jovens universitários. Quase dois anos depois, 10 mil soldados de Batista se voltaram contra a guerrilha de Fidel, na fracassada “ofensiva de verão”. Fortalecidos pela vitória, os rebeldes lançaram a batalha final. A partir daí, centenas de simpatizantes engrossaram as fileiras da guerrilha.
Contra todos os prognósticos e depois de 25 meses de combates, os “guerrilheiros barbudos” comandados por Fidel levaram Fulgêncio Batista a fugir de Cuba no dia 1º de janeiro de 1959.
Sete dias mais tarde, o comandante-em-chefe fez sua entrada triunfal em Havana. Após entregar a Presidência da República a Osvaldo Dorticos, Fidel foi designado primeiro-ministro do novo governo em fevereiro de 1959.
Fidel permaneceu neste cargo até 1976, quando foi nomeado presidente ao ser eleito para a chefia do Conselho de Estado, cargo instituído por uma nova Constituição, posto em que concentrou as funções de chefe de estado e de governo.
Em 1959, uma das primeiras medidas do governo foi a criação do Tribunal Revolucionário para julgar os repressores pertencentes ao regime de Batista. Ao recordar a época, Fidel disse em 1975: “Este ato elementar de justiça, que era exigido unanimemente por nosso povo, deu lugar a uma feroz campanha da imprensa imperialista contra a Revolução.”
Outra ação adotada logo após o triunfo da Revolução foi a reforma agrária, que expropriou e nacionalizou os latifúndios, pertencentes em 90% a interesses americanos. Em seguida, aplicou uma reforma urbana que passou para as mãos do estado as grandes empresas – também majoritariamente americanas – que controlavam a economia da Ilha.
As medidas provocaram a ruptura diplomática com os Estados Unidos em 3 de janeiro de 1961. Sete meses depois, Havana optou por vincular-se a Moscou, em uma aliança que teve uma influência determinante por mais de três décadas.
Em abril de 1961, 1.400 mercenários apoiados pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) desembarcaram na Baía dos Porcos e Fidel comandou pessoalmente o contra-ataque. A expedição antirrevolucionária foi derrotada no campo de batalha, mas as ações de sabotagem e de operações guerrilheiras contra o regime continuam até hoje.
Em 1962, o jovem regime revolucionário atravessou um período crítico. Washington conseguiu a suspensão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA) e deu início ao bloqueio econômico, comercial e financeiro da Ilha.
Em 3 de outubro de 1965, Fidel foi nomeado primeiro secretário do novo Partido Comunista de Cuba (PCC), que substituiu o Partido Unido da Revolução Socialista (PURS), com uma importante transição ao marxismo-leninismo. Sete anos mais tarde, Cuba tornou-se membro do Conselho de Ajuda Mútua Econômica (Came), que reunia os países socialistas do mundo inteiro.
A Revolução Cubana serviu de espelho, principalmente para países do Terceiro Mundo. Uma destas operações, em 9 de outubro de 1967, resultou na morte de Ernesto Che Guevara. Depois de abandonar todos seus cargos públicos para continuar lutando por seus ideais revolucionários na África, Guevara voltou à América Latina para criar um movimento insurgente na Bolívia, onde foi capturado e morto.
Presidente do Movimento de Países Não-Alinhados de 1979 a 1983, Fidel se tornou um dos líderes mais populares do mundo, com discursos contra o imperialismo, o colonialismo, a exploração e o racismo. Também comandou uma grande ofensiva contra o pagamento da dívida externa.
Fidel Castro exerce uma liderança natural sobre um país de cerca de 11 milhões de habitantes. Mesmo com a crise econômica em Cuba, provocada pelo bloqueio imposto dos Estados Unidos, ele conseguiu manter seus princípios e seguir em frente com seus ideais de solidariedade entre as nações e justiça.
***
Leia também:
*GilsonSampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário