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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 03, 2013

Lula faz críticas ao distanciamento do PT do povo



Lula: Partidos de esquerda estão ‘velhos’
Partido que está no poder não pode se afastar do povo, defende ex-presidente

Fernando Gallo - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, na noite desta sexta-feira, que um partido que chega ao poder não pode cometer o erro de perder sua relação com o povo. A explícita autocrítica do PT, repetida por Lula desde que eclodiram as manifestações de junho, foi feita em discurso no 19.º Encontro do Foro de São Paulo. O petista afirmou também que os partidos de esquerda da América Latina ainda fazem política "da forma antiga".
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"O poder é uma coisa mágica (...). Há uma tendência de chegar ao poder e o povo que antigamente era bonito e extraordinário já não é mais", afirmou o ex-presidente. Lula criticou os partidos de esquerda europeus que, segundo ele, "estão definhando" e perderam o discurso porque ficaram semelhantes à direita. Sobre a esquerda na América Latina, afirmou que seus dirigentes foram "ficando velhos" e, agora, se perguntam ‘cadê a juventude dos nossos partidos?’.
O Foro de São Paulo reúne organizações de esquerda latino americanas e caribenhas, em sua grande maioria partidos políticos. Cerca de 1,1 mil pessoas se inscreveram para participar da XIX reunião do Foro, que este ano ocorre em São Paulo.
Lula fez diversas críticas aos países ricos, muitos elogios ao ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez - morto neste ano -, afirmou que o Foro foi a melhor coisa criada na América Latina, e disse que sem ele os partidos de esquerda não teriam chegada ao poder no continente.
No alerta ao PT, o ex-presidente sustentou que "aqui no Brasil nós sabemos que um partido de esquerda que chegou ao poder precisa tomar cuidado para não cometer os mesmos erros que vimos em outros lugares". "Só tem uma coisa que garante um partido, chegando ao poder: não perder sua relação com o povo".
Articulador da eleição de Dilma Rousseff e do projeto de reeleição, Lula tem feito autocríticas a correligionários no momento em que o partido acumula desgastes e incertezas com a queda de popularidade da presidente. "Às vezes a gente encontra um companheiro xingando e gritando na rua, já acha que é inimigo e esquece que nas últimas eleições ele votou na gente. Em vez de achar ruim, seria melhor perguntar ‘por que agora você está bravo comigo?’".
A grande preocupação do petista é a necessidade de o PT e partidos de esquerda criarem novas formas de diálogo com a sociedade, em especial com os jovens. "Como estamos nos comunicando com eles? Qual a mensagem que estamos passando para eles? Qual a mensagem de esperança que passamos?", indagou. Ele disse que manifestações como as ocorridas na Primavera Árabe e no Brasil devem servir de lição para os integrantes do Foro de São Paulo. "Pelo fato de a esquerda estar enfraquecida na maior parte do mundo, a esquerda latino-americana pode servir de farol", disse.
Chávez. Lula lamentou a morte de Hugo Chávez e disse que o ex-presidente da Venezuela vai fazer "muita falta". Reclamou de posturas dos Estados Unidos em relação à geopolítica global e fez piada com o monitoramente eletrônico que os americanos fizeram no Brasil. 
*Nassif

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