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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 12, 2013

Quem são os ‘Advogados Ativistas’, grupo que defende os manifestantes


“Não fazemos parte de quadrilha”, disse André Zanardo para o Diário.
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André Zanardo tem 25 anos e é advogado. Exerce sua atividade de maneira remunerada para clientes mas também atua solidariamente nas manifestações. Não raramente tem virado madrugadas dentro de delegacias advogando em prol de manifestantes detidos.
André faz parte dos Advogados Ativistas, grupo cuja página na internet se dedica a esclarecer pontos jurídicos dos protestos. Lá é possível, por exemplo, baixar o Manual Prático do Manifestante, que faz considerações e até instrui sobre direitos de cidadãos, como agir em uma Delegacia de Polícia quando preso, como reagir (ou não) à uma abordagem policial etc. Em um dos muitos posts bem humorados, o AA resolveu ainda fazer “um modelinho, praquele jornalista esperto que gosta de fazer a sua matéria ‘PÓS MANIFESTAÇÃO COM VANDALISMO’”.
A respeito de vandalismo, o grupo não defende nem incrimina os polêmicos black blocs. “Goste-se ou não desses grupos, eles existem e devemos entendê-los.” Contudo, procura esclarecer antes de mais nada: “A mídia tem propagado que os black blocs são grupos anárquicos, cujo único objetivo seria a destruição e a violência. Anarquia se opõe a todo tipo de autoridade, mas a ideologia é muito mais complexa do que isso (…) O modo como uma pessoa se comporta é um produto das instituições onde ela cresceu, foi educada e da qual faz parte. As relações sociais estabelecidas nessas instituições é que moldam os indivíduos.”
A um questionamento de um internauta acerca da possibilidade de ser enquadrado em formação de quadrilha por ter aderido a um evento em comunidade black bloc, os Advogados Ativistas respondem objetivamente: “Concluímos que NÃO é possível alegar que você faça parte de uma quadrilha. Nós dizemos isto com base nas páginas black block que conhecemos, pois ainda não nos deparamos com nenhum grupo que estruture um conjunto probatório que configure formação de quadrilha. Mas veja bem, cuidado com o que você posta e faz na rede, porque isso aqui também é mundo real, e fica tudo armazenado, de modo que qualquer prova é facilmente colhida.”
E acrescentam: “É importante o ALERTA à todas as comunidades com temas black block: não organizem (na rede), em hipótese alguma, ações diretas que possam de alguma forma violar a lei, mesmo que simbólicas. Isto pode complicá-los. É de extrema relevância mencionar também que se os black blocks se estruturarem através das redes sociais e começarem a cometer crimes reiteradamente, mesmo que sob o argumento de Desobediência Civil, isto ainda É ILEGAL.”
Desobediência civil é assunto caro ao AA e as ocupações atuais são um exemplo didático. Hoje temos a Ocupação Fora Cabral, a Ocupação da Câmara Municipal do Rio (interna e externamente), a Ocupação da Aldeia Maracanã, a Ocupação da Câmara Municipal de Niterói e a Ocupação Fora Alckmin, apenas para citar as mais em evidência, sendo que para o dia 17 de agosto está agendada a Ocupa Renan com a instalação de um acampamento em frente a casa de Renan Calheiros, em Brasília, exigindo sua renúncia.
É permitido então ocupar o espaço público?
“Não é legal nem ilegal. Ainda não há jurisprudência formada sobre o tema. De toda a forma, tem-se um direito maior, que é o da manifestação popular, de sentido simbólico. Caracteriza ‘desobediência civil’ e há a possibilidade de ser constatada a ilegalidade do ato. Contudo, num momento como o atual, não vale a pena para o Poder Judiciário declarar sua ilegalidade pois a força política do ato é maior. Isso é um aspecto do direito constitucional”, diz Zanardo.
“Ela se fundamenta no princípio da democracia e na participação popular. Na medida em que da esfera pública estão excluídas parcelas da sociedade, a desobediência civil assume uma característica de obrigação, constituindo-se numa válvula de escape diante da insuficiência dos procedimentos previstos pela ordem vigente. A desobediência civil é mecanismo legítimo de atuação, sendo ato político, expressão da cidadania; é ato coletivo, resultado do exercício da soberania popular; é pública, para que possa se inserir na esfera pública e possa corrigir uma injustiça ou até mesmo evitá-la.”
André Zanardo está acompanhando os movimentos sociais há tempos. Engajado, viveu o Ocupa Sampa de 2011. Um acampamento gigante sob o viaduto do Chá, pautado pela auto-gestão e pela horizontalidade, que no seu auge teve mais de cem barracas e cerca de 350 pessoas, onde já era possível detectar a pluralidade de causas. Educação, meio-ambiente, saúde, segurança. Já havia o passe livre na pauta.
Cartazes contra a corrupção, contra a usina de Belo Monte e os grandes veículos de imprensa eram vistos. Muitos usavam a máscara do “V de Vingança” desenhada em papel. Já havia morador de Higienópolis, anarquista, sem teto. Não era obra de um punhado de militantes de uma organização, mas a expressão de uma insatisfação generalizada de pessoas de todas as tendências políticas. Aquele caldo que ferveu só neste 2013 e que agora pode contar com o apoio de advogados como André.
Advogados Anarquistas, graças a deus.
*http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quem-sao-os-advogados-ativistas-grupo-que-defende-os-manifestantes/

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