Qual a diferença, na essência, entre o “alerta à nação” de Barbosa e a defesa dos justiceiros de Sheherazade?
Qual a diferença, na essência, entre o último discurso de Joaquim Barbosa no STF e a clássica defesa dos justiceiros proclamada por Rachel Scheherazade?
Bem pouca. Em ambos os casos está embutido um descrédito nas
instituições, uma vontade de espalhar o pânico e a vontade de fazer
justiça com as próprias mãos.
Barbosa se sentiu no dever de informar os brasileiros de que corremos
perigo. “Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é
apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a
seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora. Essa maioria de
circunstância formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho
primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012″,
declarou.
Alerta? Primeiro passo para o quê? O bolchevismo? O aparelhamento do
Supremo pelo PT? Ele sugere uma mudança na forma como os ministros do
Supremo são indicados? Vale para ele, que foi indicação de Lula?
“Ouvi argumentos tão espantosos como aqueles que se basearam
simplesmente em cálculos aritméticos e em estatísticas totalmente
divorciadas da prova dos autos, da gravidade dos crimes praticados e
documentados nos autos dessa ação penal”, disse.
“Ouvi até mesmo a seguinte alegação: ‘Eu não acredito que esses réus
tenham se reunido para a prática de crimes’. Há duvidas de que eles se
reuniram? De que se associaram? E de que essa associação perdurou por
mais três anos? E o que dizer dos crimes que eles praticaram e pelos
quais cumprem pena?”
Terminou com um lamento teatral: “Esta é uma tarde triste para o STF.
Com argumentos pífios, foi reformada, jogada por terra, extirpada do
mundo jurídico uma decisão plenária sólida, extremamente bem
fundamentada, que foi aquela tomada por este plenário no segundo
semestre de 2012.”
De alguma maneira, JB está em sintonia com os novos tempos, em que
criminosos ou supostos criminosos são presos a postes por uma multidão
inconformada com o estado das coisas. Ele berra, ele ofende, ele quer
resolver na porrada, no grito.
Agora, como é um perdedor, o próprio Jornal Nacional destacou apenas a
“tarde triste” de sua diatribe. JB decepcionou seus patrocinadores na
Globo e os patrocinadores não têm espaço para cavalos mancos.
Deixando o STF, seu lugar pode ser numa bancada do SBT, alertando a
nação sobre seja lá o que se passar por sua mente delirante, alimentado
pela intolerância e a raiva eterna de tudo que não pode controlar. Uma
Sheherazade um pouco mais fofa.
Kiko Nogueira
No DCM
*comtextolivre
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