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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 01, 2014

EGITO - LIÇÃO AMARGA: DITADURA MILITAR MANDA FUZILAR O POVO QUE A COLOCOU NO PODER


Líder da Irmandade Muçulmana e 682 islamitas são condenados à morte no Egito


Do lado de fora da corte, familiares dos réus condenados à morte choram após saber da sentença
Um tribunal egípcio condenou à morte nesta segunda-feira (28/04) 683 supostos membros da Irmandade Muçulmana, incluindo o líder supremo do grupo, Muhammad Badie. É a segunda condenação em massa deste tipo emitida pelo Judiciário egípcio. Em março, outros 529 islamitas já haviam sido sentenciados à morte por seu envolvimento com a organização do presidente deposto Mohammed Mursi, afastado e preso pelo Exército do Egito em julho de 2013.
O procedimento jurídico no Egito estabelece, entretanto, que as penas sejam avaliadas pela liderança religiosa e, então, confirmadas pela corte. Assim, dos 529 condenados à morte em março, somente 37 tiveram a pena capital confirmada pelo juiz na sessão de hoje. Os demais réus foram sentenciados a 25 anos de prisão.
Advogados de alguns dos réus questionaram a legitimidade da decisão judicial. Muitos dos defensores boicotaram a audiência e exigiram que o juiz fosse substituído, chamando-o de "açougueiro". Um dos advogados, Mohamed Abdel Waheb, que representa 25 réus, afirmou que o veredicto foi entregue em uma sessão que durou menos de cinco minutos.
A emissão de penas capitais em massa não tem precedentes na história do Egito, fazendo despertar críticas de países ocidentais e organizações de direitos humanos.
"Essa sentença matou a credibilidade do sistema judiciário do Egito", disse um pesquisadora da ONG Anistia Internacional, Mohamed Elmessiry. Os 623 réus foram considerados culpados da morte de um policial na região do sul do país, em agosto do ano passado.
Movimento 6 de abril banido
Em outro episódio do Judiciário egípcio, um tribunal do Cairo decidiu banir o Movimento 6 de Abril, grupo da juventude egípcia e um dos protagonistas do levante popular que saiu às ruas e pediu a deposição do governante Hosni Mubarak, em 2011.
Jovem ostenta bandeira do Movimento 6 de Abril, grupo liberal cuja atuação foi central nos 
levantes que depuseram Mubarak
Um porta-voz da organização afirmou que a sentença evidencia a extensão da "contrarrevolução" egípcia. "Isso mostra que o alvo não são apenas os islamitas, mas também grupos liberais como nós", disse Ahmad Abd Allah. E completou: "O governo vai continuar até o fim a interditar todas as forças democráticas. O que mais você pensava que um golpe militar faria?".
No início do mês, um tribunal do Cairo confirmou a pena de prisão de três anos ditada em dezembro passado contra Ahmed Maher e Mohammed Adel, fundadores do Movimento 6 de Abril, e do blogueiro Ahmed Duma, por organizar um protesto ilegal e causar distúrbios em 30 de novembro de 2013. A manifestação não contava com a permissão das autoridades, como exige a polêmica lei de protestos aprovada pelo governo nesse mesmo mês, que limita o direito a se manifestar. 

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