Em reunião em Londres, MST oferece asilo a Julian Assange em assentamento
Via Brasil de Fato
Assange
recebeu asilo político do governo de Rafael Correa, mas se deixar o
local será detido imediatamente. Ao menos dois policiais ficam 24 horas
por dia à sua espreita
15/05/201
Por Maíra Kubík Mano
Da Página do MST/Agência Pública
Da Página do MST/Agência Pública
Em
frente à Embaixada do Equador em Londres, um grupo de cinco pessoas
reúne-se todos os dias para protestar. Com alguns cartazes e uma faixa
costurada à mão, exige a libertação de Julian Assange, o fundador do
Wikileaks, confinado no prédio. “Em 19 de junho faremos um grande ato,
você pode participar?”, perguntam aos curiosos que passam pela rua. A
Embaixada fica em uma área turística da cidade, bem ao lado de uma
grande loja de departamentos, e a manifestação chama atenção.
A
prisão de Assange foi pedida pela Suécia em um processo de assédio
sexual e ele, que é australiano, entrou na Embaixada do Equador para
evitar a extradição. Recebeu asilo político do governo de Rafael Correa,
mas se deixar o local será detido imediatamente. Ao menos dois
policiais ficam 24 horas por dia à sua espreita, o que custa, por ano,
módicos 3,8 milhões de libras (R$ 14,6 milhões), conforme revelou a
polícia metropolitana. “Além de tudo estão gastando nosso dinheiro”,
critica uma das ativistas, uma senhora chilena que vive em Londres desde
o golpe contra Salvador Allende.
O isolamento
forçado de Assange limita não só seus movimentos físicos como sua
comunicação. Quem quiser falar com ele precisa antes passar por seus
assessores e ter sua vida checada. Ao entrar no prédio, celulares,
câmeras e quaisquer outro tipo de aparelhos eletrônicos são confiscados,
para garantir sua privacidade. Jornalistas são terminantemente
proibidos. E expulsos, caso tentem — imagine como consegui essa
informação.
Nesta quinta-feira (14), é um dos
principais movimentos sociais do Brasil, o MST, quem vai encontrar o
cabeça de uma organização que sacudiu a diplomacia internacional, bancos
e até a igreja da Cientologia após vazar milhares de documentos em seus
7 anos de atividade. Na pauta, a aliança entre os movimentos sociais
latino-americanos e o Wikileaks.
A reunião é
longa e, às 18h, o grupo que protestava diante do prédio se retira. “Vou
para a Embaixada da Síria. A situação está feia lá”, diz uma delas.
Agora sou apenas eu e os policiais olhando para a Embaixada, que é uma
lateral térrea de um prédio sofisticado. O espaço onde Assange está,
dizem, tem poucos metros quadrados.
Após duas
horas de conversa — e muitas voltas na quadra —, João Paulo Rodrigues,
da direção nacional do MST, saiu afirmando que “é importantíssimo que os
movimentos sociais estejam juntos na luta em defesa do asilo de Assange
no Equador”. Segundo o dirigente, o papo "fluiu", e o MST vai
contribuir para pressionar a Suécia a permitir a ida dele ao país
sul-americano.
O fundador do Wikileaks estaria
também temeroso com a possibilidade de ser extraditado para os Estados
Unidos. “Ele acha que, caso seja preso pela Suécia, vão mandá-lo para os
Estados Unidos por conta das acusações de espionagem”, conta Rodrigues.
O
MST prometeu então se juntar à mobilização do dia 19 de junho, quando
Assange completa dois anos na Embaixada, realizando protestos nas
representações diplomáticas suecas e estadunidenses. Os sem-terra vão
circular ainda um abaixo-assinado junto com outros movimentos sociais e
intelectuais, que deve ser entregue ao Alto Comissariado de Direitos
Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Em
troca de toda a solidariedade recebida, o Wikileaks se prontificou a
repassar ao movimento informações que sejam de seu interesse e irá abrir
seus arquivos para que os sem-terra contribuam na triagem das
informações — Assange teria milhares de documentos que não foram
analisados e cujo valor político não se tem ideia. Uma próxima reunião
para combinar os detalhes será agendada em breve.
Ao
final, os representantes do MST entregaram ao fundador do Wikileaks um
cartaz assinado pelos “movimentos sociais da Alba” (Aliança Boliariana
para os Povos da América) com as fotos de Assange, Chelsea Manning —
condenada a 35 anos prisão pelo vazamento de dados confidencias dos EUA —
e Edward Snowden, antigo funcionário da CIA e atualmente exilado na
Rússia. “Toda solidariedade aos combatentes do Império”, dizia o poster.
Posaram
para fotos juntos, todas tiradas pela assessora de Assange, que edita
as imagens antes de liberá-las — até agora elas não chegaram. Muitos
cliques com o boné vermelho do MST. Bem-humorado, Rodrigues colocou o
movimento à sua disposição: “caso precise de um asilo no Brasil,
oferecemos os nossos assentamentos”. Ganhou de volta um abraço.
À noite, sobraram só os policiais.
*GilsonSampaio
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