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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 11, 2014

         O MITO DO 1%




Dias atrás escrevi um artigo acusando a Igreja Católica de ser "uma organização criminosa que montou um esquema sórdido para acobertar predadores sexuais". Encontrei hoje, num livro que li há bastante tempo, O poder e a glória, do historiador inglês David Yallop, um trecho que gostaria de partilhar com vocês:

O MITO DO 1%


"De sua história pessoal consta o ingresso voluntário - ao contrário das afirmações de Ratzinger, a convocação não foi compulsória - no movimento da juventude de Hitler. Seu próprio relato das atividades posteriores da Wehrmacht também é obscuro.
Como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Ratzinger em várias ocasiões recusou-se a investigar denúncias repetidas incluindo depoimentos juramentados de que o fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, com frequência abusava sexualmente de membros jovens de sua organização. O cardeal sabia muito bem da alta consideração que o papa João Paulo II tinha por Maciel. Com Wojtyla morto e Ratzinger devidamente eleito como seu sucessor, as provas contra Marcial Maciel, durante anos negligenciadas, finalmente foram consideradas. Em 19 de maio de 2007, o Vaticano anunciou que, após um exame intensivo das várias acusações, a Congregação para a Fé, sob a direção de seu novo prefeito, cardeal William Levada, decidiu, 'levando em conta a idade avançada do reverendo Maciel e sua saúde delicada, não tomar qualquer atitude contra ele'. Preferiu convidá-lo a levar 'uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a todo ministério público'. Este, porém, não era o sinal de que as muito necessárias reformas relacionadas ao abuso sexual por parte de membros do clero estivessem prestes a ser implementadas. Consta também que Ratzinger emitiu uma advertência por escrito para todos os bispos católicos do mundo sobre as penalidades rígidas que estavam sendo enfrentadas por aqueles que encaminhassem acusações de abuso sexual às autoridades civis. Desse modo ele garantia que o desejo de seu predecessor de que as Igreja encobrisse essas atividades – um ponto de vista que Karol Wojtyla havia expressado aos bispos austríacos em 1998: 'como toda casa que tem quartos especiais que não são abertos aos convidados, a Igreja também precisa de locais para conversas que requerem privacidade' – continuasse a ser a política oficial." (página 549)
Como eu disse antes, não se trata de 1%... E para aqueles que acham que Yallop é ateu, veja como ele encerra o seu livro (página 550): "Deus ajude a Igreja Católica Apostólica Romana".
*euracional

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