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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 04, 2014


Vamos supor que, por um milagre, a oposição da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, conseguisse vencer o rolo compressor da bancada do Aécio em Minas, e implantar a CPI do Aécioporto.

Qualquer deputado que participasse da CPI, seja da situação ou da oposição, poderia ir à público e dizer quais perguntas iria fazer ao Aécio.

Mesmo sem CPI, os deputados da oposição estadual aos tucanos de Minas e o povo nas ruas já fazem muitas perguntas publicamente, que Aécio Neves (PSDB) se recusa a responder. 

Por exemplo, o povo quer saber: 

Se Aécio defende a privatização, porque estatizou um aeroporto privado na fazenda do tio?

Onde está o estudo de viabilidade, de custo/benefício, para justificar a construção dos aeroportos de Cláudio e Montezuma com dinheiro público?

Tirando o fato de Aécio ter uma fazenda a 6 km de distância, por que investir no aeroporto de Claúdio se o de Divinópolis, cidade pólo regional, fica ao lado e já atende a região?

Se havia demanda na cidade como inventa Aécio, essa demanda era de quem, além da própria família? E por que a demanda sumiu, a ponto do aeroporto ficar fechado sem ninguém na cidade reclamar?

Por que a licitação do aeroporto não foi anulada, se a diferença de preços entre as propostas das empreiteiras ficou apenas 0,6% de diferença, e muito próximo ao preço máximo?

O helicóptero dos Perrella já pousou no aeroporto? Quantas vezes? Qual a carga declarada?

Por que a chave do aeroporto ficava com o tio? 

Se o aeroporto ficava fechado, como Aécio usava? Quem abria o portão para ele? Quem acendia os holofotes do aeroporto para ele pousar a noite? 

Quem paga a conta de luz do aeroporto fechado, para Aécio fazer vôos noturnos? 

Por que o Aeroporto só tem cerca para o povo não entrar pela frente e não tem cerca separando a fazenda do tio? 

Por que o valor de mercado da área desapropriada de terras do tio é muito menor do que os valores da indenização? 

Qual investigação o governo mineiro está fazendo em relação aos 60 kg de cocaína apreendidos a 24 km do aeroporto de Cláudio, e cuja fuga do traficante preso contou com a ajuda de um primo de Aécio, segundo processo movido pelo Ministério Público e reportagem do Fantástico

Qual a política de segurança do governo de Minas para evitar que o aeroporto fechado seja usado para voos clandestinos do tráfico de drogas?

O Aeroporto de Cláudio já recebeu vôos provenientes da Colômbia? E do Paraguai?

Estas seriam algumas perguntas.

Se os tucanos não bloqueassem a CPI do Aécioporto, não há sigilo nenhum nas perguntas, e Aécio poderia se preparar o quanto quisesse para respondê-las, contanto que trouxesse respostas e sem mentir.

Não existe o conceito de perguntas sigilosas em CPI's, ainda mais em sessão aberta transmitida pela TV. E é normal que quem deponha se prepare para responder as questões que sabe que serão perguntadas, até porque estão colocadas na imprensa. É normal até para que o depoente procure nos arquivos as informações necessárias às respostas. 

Até deputados de oposição, se quiserem, podem antecipar o que vão perguntar, caso queiram obter respostas de fato, com seriedade.

Se todo mundo que fala em CPI's for responder de improviso coisas como valores contábeis, datas, atas, contratos, não há memória que consiga se lembrar de tudo, e a própria CPI ficará sem respostas para o que deseja saber. Na melhor das hipóteses, o depoente dirá que precisará levantar as informações e depois enviará as respostas à CPI.

Por isso a "reporcagem" da revista Veja desta semana é que é uma fraude, ao querer dizer que perguntas que seriam feitas na CPI da Petrobras foram "vazadas". Isso é ridículo. Não existem "perguntas sigilosas" em CPI para serem vazadas.

Qualquer parlamentar que queira obter de fato respostas detalhadas e esclarecedoras pode antecipar as perguntas, seja ao depoente, seja fazendo as perguntas em público, para buscar as respostas na sessão da CPI. E os depoentes podem perguntar aos deputados o que eles querem saber mais especificamente sobre assuntos complexos, que necessite levantar previamente em documentação. Inclusive algumas questões a serem perguntadas costumam ser óbvias. São as explicações necessárias para esclarecer o que a própria imprensa aponta como denúncias e levanta dúvidas.

Como era previsível, o mais demotucano dos telejornais, o Jornal Nacional da TV Globo, gastou mais de quatro minutos repercutindo essa "reporcagem" no sábado. Desta vez levaram ao ar as declarações de oposicionistas demotucanos. Na quinta-feira, quando Aécio finalmente admitiu ter usado o aeroporto de Cláudio para uso particular, o JN gastou só dois minutos para falar do assunto sob a ótica da nota oficial distribuída pela campanha tucana, e não levou ao ar nenhuma liderança do PT para comentar.

Tudo isso demonstra de forma cristalina o que a TV Globo e a Veja fazem para dar uma ajuda à campanha eleitoral do amigo deles, Aécio Neves.

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