Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 29, 2011

Cada sabujo tem seu preço



Curioso é que grande parte dos jornalistas paladino da ética e do bom costume já se viu envolvido com algum tipo de maracutaia.Noblat recebeu "mensalinho" do Senado.Cláudio Humberto, pilhado na Operação Avalanche da Polícia Federal, foi acusado de ter recebido R$ 10 mil para escrever uma nota contra os fiscais que autuaram a Cervejaria Petrópolis.Josias de Sousa já foi acusado de receber dinheiro do governo de FHC para "plantar" matéria contra o MST.Fernando Rodrigues, William Waca são acusados de informantes dos EUA. REINALDO AZEVEDO foi acusado de ter recebido dinheiro da banco Nossa Caixa para ficar puxando o saco de Geraldo Alckmin.É esse tipo de gente que consegue derrubar ministro.
 

O poder da mídia

Por Osvaldo Bertolino
O episódio envolvendo o agora ex-ministro Orlando Silva revela que em um momento de volume inédito de informações à disposição do público é possível que nunca o cidadão brasileiro tenha estado tão mal informado. É um paradoxo dos nossos dias. E um problema para todo mundo.
Os grandes meios de comunicação têm desempenhado com competência o papel de desinformar. Para quem tem a necessidade de decidir, basear-se em informação errada, distorcida, viciada ou simplesmente falsa significa, freqüentemente, tomar decisões equivocadas ou deixar de tomar decisões certas.

A conseqüência, na vida real, é, para muitos, a perda de rumo, de oportunidades e eventualmente da própria perspectiva. Há algum tempo, a Folha de S. Paulo publicou uma sugestiva carta de um leitor. "Desculpe, mas acabou a minha capacidade de absorver só notícias negativas. A Folha há muito deixou de praticar um jornalismo investigativo e entrou firme no jornalismo denunciativo, que não leva a nada", disse ele.

O leitor estava comunicando a perda da paciência com um determinado tipo de jornalismo. Ele não é o único nem a Folha de S. Paulo a única publicação a colocar como prioridade de sua estratégia editorial a busca do pior em tudo. A má informação na mídia brasileira se manifesta de diversas maneiras, mas seu foco mais visível está na obsessão de apresentar um quadro de catástrofe terminal para o governo.

A mídia raramente consegue ver uma nuvem sem logo anunciar uma inundação. A overdose de denúncias, acusações e condenações sumárias resultantes disso acaba por provocar sérias distorções na qualidade de informação que o público recebe. Não que a realidade brasileira seja maravilhosa — e ninguém diz isso. Ela é apenas diferente da realidade traçada pela mídia.

Hoje, para a mídia, a realidade é só aquilo que aparece em seu noticiário — o que está lá existe; o que não está não existe. Isso é claramente percebido em certas entrevistas. Responder às perguntas de determinados jornalistas, hoje, vai se tornando um exercício cada vez mais parecido com uma partida de xadrez, onde é necessário antecipar os três ou quatro lances seguintes do adversário.

Soldado
A pergunta não é simplesmente uma pergunta: muitas vezes é uma armadilha destinada a extrair alguma declaração que será usada contra o entrevistado nas perguntas à frente. A pessoa que está sendo inquirida precisa, assim, calcular cuidadosamente tudo o que diz. Se disser A, será perguntada adiante a respeito de B ou C; se disser Y, abrirá espaço para que lhe perguntem sobre X ou Z, e assim por diante. Entrevistas supostamente jornalísticas se transformam em interrogatórios.

O fato é que muitos jornalistas, quando se dirigem a alguém, não querem realmente obter uma informação. Querem apenas obter alguma forma de confirmação ou justificativa para aquilo que já decidiram divulgar — por já terem decidido, seguindo a lógica da mídia, que sua visão pessoal das coisas equivale à realidade.

Declarações, fatos ou números que se contraponham a ela são ignorados; só é levado ao público o que combina com aquilo que esse tipo de jornalista quer dizer. As acusações, convenientemente, baseiam-se em fontes anônimas. E, quando a mídia tenta apresentar testemunhas capazes de provar alguma coisa, tudo o que aparece são obscuros personagens que não testemunham nada e dizem, no fundo, apenas ter ouvido falar da história — como faz esse soldado banda podre e astro da mídia, João Dias. Mas isso não é suficiente para coibir o frêmito acusatório.

Desafio
O controle da liberdade de imprensa no Brasil pelo poder econômico está alicerçado nos princípios do golpe de 1964 — promovido pelos grupos privados para assaltar o Estado e moldá-lo à sua imagem e semelhança. Os grupos que controlam com poderes ditatoriais a liberdade de expressão no Brasil pretendem controlar, ao mesmo tempo, as verbas publicitárias, o trabalho dos jornalistas, os meios audiovisuais de comunicação, a produção cultural, as informações prestadas por funcionários federais, os sigilos bancário e fiscal dos cidadãos e as ações do Ministério Público. A conclusão é inescapável: os grupos que controlam a mídia brasileira fogem da democracia como o Diabo da água benta.

Esse episódio fez ressaltar no panorama brasileiro uma séria distorção na democracia. Liberdade de expressão não é um direito hierarquicamente superior aos demais direitos e garantias individuais e coletivas. Na Constituição está no mesmo patamar o direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas. Todos igualmente invioláveis e indispensáveis.

É preciso haver um equilíbrio entre eles. A defesa da liberdade de expressão exige protegê-la contra abusos como estes. Na democracia, são tarefas conciliáveis. O desafio é enfrentar essa distorção. Esse debate pode ganhar densidade se começar a abordar com ênfase a importância de democratização da comunicação, com meios públicos e veículos de massa dos partidos progressistas e das entidades populares.

___________

Editor do Grabois.org.br
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário