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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 26, 2011


Lei dos Médios ou barbárie!

 dia 24 – ao noticiar a vitória esmagadora de Cristina Kirschner – o JN repercutiu a direita argentina e seu PiG afirmando que, com a conquista da maioria no Senado e na Câmara, a presidente terá poderes de rainha. “Cresce o temor de que ela reduza mais ainda a liberdade de imprensa ou até cale a imprensa de vez”.
Quer dizer que, quando um governo dá certo, quando a economia vai bem, quando o “feel good” da maioria se manifesta nas urnas – significa que NÃO há liberdade de imprensa? Liberdade de imprensa é golpe de estado e governo militar? Liberdade de imprensa é inflação? Desemprego? Recessão? Liberdade de imprensa é o modelo neoliberal que levou EUA e Europa à bancarrota?
Os argentinos não esquecem fácil. Na mesma época em que o Brasil sofria nas mãos de FHC, os argentinos passavam fome. Aqui e lá, trabalhadores qualificados, de nível superior, faziam filas enormes para vagas de qualquer coisa. Lembro bem de um episódio ocorrido no Rio. A prefeitura havia aberto algo como 200 vagas para gari. Formou-se uma fila gigantesca, que dava voltas em quarteirões. As pessoas acamparam como se fossem a um show de rock… A situação era tão bizarra, que a Globo foi lá e entrevistou as pessoas da fila. Tinha de tudo. Comerciante, advogado, médico, engenheiro, professor… e – como dizia o professor Raimundo – o salário era “ó”…
Dá vontade de rir, vendo Bonner com aquele olhar de bom menino dando o recado subliminar da Globo: respeitar a constituição, que proíbe cartel, monopólio, propriedade cruzada etc, é CENSURA!
A Globo pode comprar o futebol e determinar ao torcedor o horário do jogo que lhe convier. Mesmo que isso signifique chegar em casa de madrugada em plena quarta feira. O PiG pode destruir a carreira de quem lhe der na telha. Quem não gostar que entre na justiça. Como foi o caso de Nelson Luiz Conegundes de Souza, que perdeu o emprego, foi achincalhado pelos colegas de trabalho e caiu em desgraça por causa de uma reporcagem mentirosa da Folha. Levou 13 anos – 13 ANOS!!! – para que se fizesse justiça e o jornal finalmente fosse obrigado a se retratar!
A situação do PiG argentino é curiosa. Especialmente a do grupo Clarín, a Globo deles. Não há um pingo censura, e sim, o total desprezo de Kirschner por eles. Não existe cordialidade ou relacionamento de aparências. É muito claro: a presidente não fala com o PiG. Não dá entrevista. É radical neste ponto. Sua campanha foi feita sem debates nos estúdios das emissoras de rádio ou TV. Sem jornais e revistas dando apoio. E venceu de forma arrasadora.
Na Argentina, é o PiG que rasteja atrás da presidente Kirschner para transmitir cerimonias oficiais, eventos diversos com a presença de ministros, governadores, prefeitos e diversas personalidades. São como paparazzi buscando uma imagem, um áudio, qualquer coisa que possa lhes render audiência e até algum sentido para sua existência.
Quando o governo precisa falar com a população, manda o vídeo de sua mensagem para ser exibido em rede com data e hora marcadas. Se um jornal ou revista publicar mentiras, calúnias etc, sem provas, é obrigado a se retratar no dia seguinte. Não há esquema de recurso, recurso do recurso, instância superior, supremo, desvios e lentidão burocrática. De resto, são livres para apresentar a programação ou publicar o que bem entenderem. O público que use o controle remoto e compre ou não suas publicações.
Com ampliação do número de veículos de mídia, sua diversidade e o crescimento da Internet, os velhos oligopólios midiáticos estão em franca decadência. Porque não sabem fazer o trabalho deles sem manipular e mentir – como nos “bons tempos” da ditadura militar do general Videla.
A regulamentação da mídia argentina – a chamada Ley de Médios – NÃO foi uma imposição. Foi um processo transparente – introduzido depois de ampla discussão com a sociedade e aprovado pelo senado e pelo povo argentino. É baseado em modelos americanos e europeus. Aliás todos os países desenvolvidos e verdadeiramente democráticos tem a sua Lei dos Médios. Só o Brasil ainda permite que 4 famílias controlem tudo o que você vê e lê há um século. Isso quer dizer que seus pais e seus avós também leram e viram as versões dos fatos que os Marinho, Civita, Mesquita e Frias quizeram. É óbvio que não pretendem abrir mão deste monopólio e vão estrebuchar, acusar, distorcer, chamar de censura – tudo enfim – que puder evitar ou adiar ao máximo um processo que visa democratizar os meios de comunicação.
Eu entendo os motivos do PiG. E ele entende os meus. Por isso nunca nos entenderemos sem a Lei dos Médios brasileira.
*O que será que me dá?


PiG não é PiG porque denuncie a corrupção. Por que o PiG é PiG

O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.

Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça  pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.

Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.

A Argentina bomba !

E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o  Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão e vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.

Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.


 *PHA

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