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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 24, 2011

Vaticano pede reformas no sistema financeiro

Vaticano pede reformas no sistema financeiro

Cidade do Vaticano, 24 out (EFE).- O Vaticano pediu nesta segunda-feira uma reforma urgente do sistema financeiro e a criação de uma autoridade pública mundial que tenha poder e competência universal e se atenha "aos princípios de auxílio e solidariedade".
O pedido está no documento "Por uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública com competência universal", apresentado pelo cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz.
No documento, o Vaticano também defende a taxação de transações financeiras. A Santa Sé assegura que o liberalismo econômico "sem regras e sem controles" é uma das causas da atual crise econômica e denuncia a existência de mercados financeiros fundamentalmente especulativos, prejudiciais para a economia real, especialmente em países mais fracos.
No texto de 41 páginas, o Vaticano diz que a economia mundial está cada vez mais dominada pelo utilitarismo e materialismo e caracterizada por uma expansão excessiva do crédito e de bolhas especulativas que geraram crise de solvência e confiança.
O documento se inspira na encíclica de Bento XVI "Caritas in veritate" (Caridade na verdade), e defende que a atual crise financeira pôs em evidência comportamentos egoístas e de cobiça coletiva. Para o Vaticano, a raiz da crise não é somente de natureza econômica e financeira, mas sobretudo de natureza moral.
Já sobre a Autoridade Pública Mundial, o Vaticano afirma que seria necessária por causa da crescente interdependência entre os estados. Ela não poderia ser imposta pela força, mas deveria ser expressão de um acordo livre e compartilhado.
O documento também ressalta a necessidade de reformar o sistema monetário internacional e criar um organismo "que atue como um Banco Central Mundial", para regular o fluxo e o sistema dos intercâmbios monetários. Segundo o texto, o Fundo Monetário Internacional perdeu sua capacidade de garantir a estabilidade das finanças mundiais.
Já sobre a taxação às transações financeiras, o Vaticano sugere "alíquotas equitativas que contribuam na criação de uma reserva mundial, para sustentar a economia dos países afetados pela crise e a reparação de seus sistemas monetários e financeiros".
No documento, o Vaticano assinala que os estados devem ceder de forma gradual e equilibrada uma parte de suas atribuições nacionais a uma Autoridade Mundial.
"Hoje se vê como surrealista e anacrônico que um estado considere que pode conseguir de maneira autárquica o bem de seus cidadãos. A globalização está unificando os povos, levando-os a um novo 'estado de direito' em nível supranacional, a um novo modelo de sociedade internacional mais unida, respeitosa com a identidade de cada povo", assinalou.
*LuisNassif

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