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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 28, 2011

A resposta do Anonymous à Veja


luisnassif

Do Blog 15.O São Paulo
A Veja não nos representa



O grupo que ocupa o Vale do Anhangabaú desde o último dia 15 de outubro para se manifestar contra o sistema político-econômico vigente recebeu com indignação a matéria de capa da edição de 26 de outubro da revista Veja. A matéria “Dez motivos para se indignar com a corrupção” demonstra mais uma vez a tendência conservadora do conselho editorial do grupo Abril, e sua prática de manipulação da informação pelo método de omissão e ênfase. A manipulação de símbolos é flagrante, por exemplo com o uso descontextualizado da imagem da máscara de Guido Fawkes, que se tornou símbolo dos levantes anticapitalistas no mundo todo, visando canalizar a insatisfação dos 99% da população para as pautas que interessam ao privilegiado grupo econômico da qual a publicação é porta-voz: o empresariado, sobretudo paulista.


É inegável que os movimentos autônomos que convergem em acampadas em cidades como Belém, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, em consonância com os levantes internacionais, condenam qualquer forma de corrupção. Entretanto aquilo contra o qual lutamos é uma doença muito maior, a corrupção é apenas um de seus desagradáveis sintomas (ver Manifesto da ocupação paulista, em anexo). A revista Veja usa suas páginas para atacar o Governo Federal e fazer “oposição” de Direita. Combater a corrupção como se fosse causa e não consequência é alimentar o mal ou, para dizer o mínimo, enxugar gelo. O sistema político vigente, as regras do jogo em si, é que propiciam, senão incentivam práticas de corrupção.

Mas para além do desvio de dinheiro público por debaixo dos panos, existe outras formas de alocação de recursos públicos para interesses privados, como no caso da construção da usina de Belo Monte, que terá 80% do seu custo de R$ 30 Bilhões bancado com dinheiro público, mesmo que os únicos beneficiados com a obra sejam as empreiteiras e as empresas estrangeiras que exploram o alumínio na região Norte. Apenas 10% desse alumínio fica no Brasil; quanto aos lucros, a maior parte fica nas mãos dessas corporações transnacionais e de uma pequena elite política brasileira. Sobram para os brasileiros apenas a conta para pagar, e o sofrimento causado pelos impactos sociais e ambientais.

Outro modo de apropriação do Estado pelo interesse particular é a aprovação de leis como o novo Código Florestal, que tem sido tocado como o rolo compressor da bancada ruralista. O prejuízo ambiental será de todos, uma vez que todos terão menos oxigênio, nascentes de rios e biodiversidade. Enquanto os exportadores de soja, milho e cana, mais dinheiro em suas contas.

As acampadas anticapitalistas como a ocupação do Viaduto do Chá apelidada provisóriamente como Acampa Sampa contestam o sistema de Democracia Representativa, por entender que o povo tem o direito de participar diretamente da discussão e decisão políticas. Constatamos que os políticos não nos representam. Uma vez eleitos, representam apenas a seus próprios interesses e o daqueles que financiam suas campanhas.

Entretanto é importante notar que o que Veja propõe não é uma transformação política que impeça tais práticas, mas ao contrário, gostaria de ver os magnatas da indústria e comércio, marcadamente associadas a PSDB e DEM no comando do Estado para arbitrar tanto quanto as elites agrárias às quais o atual governo petista se aliou.

Essa postura é evidenciada pelo fato de que a revista dá voz à Fiesp, mas não entrevistou sequer um dos participantes dos movimentos de “indignados” das ocupações públicas. A revista, que dá ênfase à corrupção no atual governo federal, não retoma os escândalos dos governos passados e apresenta propostas extremamente neoliberais como remédio para a corrupção. Veja chega colocar no mesmo balaio dos corruptos, também aposentados, pensionistas e pessoas que recebem bolsas do governo. O que Veja quer é defender a diminuição de gastos sociais e a demissão de miliares de funcionários públicos e diminuir a carga tributária paga por seus patrocinadores.

Veja tenta confundir o leitor, fazendo parecer que a sua luta específica contra o Governo Dilma e a favor dos empresários é a luta dos acampamentos de indignados. A Veja não nos representa. Nossa luta não é simplesmente contra o governo Dilma. Nossa luta é contra o Capital e os governos de um modo geral. Queremos a mudança do sistema e a transição para uma sociedade em que todos tenham vez e voz. Nossa luta é também contra os governos estaduais e municipais do bloco político sustentado pelo grupo Abril.

Nossa luta por Democracia Real é também uma luta contra empresas de comunicação manipuladoras do processo político, como a própria Veja. Enquanto houver essa democracia indireta e o capitalismo selvagem, haverá corrupção.

Não queremos um estado reduzido para ver o poder ainda mais concentrado nas mãos de empresários. Queremos o poder nas mãos do povo, e o povo plenamente livre, decidindo junto os destinos de suas comunidades. É por isso que não concordamos com qualquer reforma política que sirva para manter e aumentar o poder daqueles que já concentram poder, queremos a transformação completa do sistema.

Discordamos também quando a revista afirma que o Brasil não está em uma situação tão grave quanto a dos países europeus que enfrentam a crise do capital. O que acontece é que o Brasil se acostumou com a crise e com as suas gritantes contradições. Basta olhar a situação dos sem-teto, dos sem-hospital, dos sem-escola, dos sem voz em nosso país para ver que a situação do Brasil que cresce, cresce para poucos. Chegamos a essa situação não simplesmente por causa da corrupção, mas pela exploração do homem pelo homem que já dura mais de cinco séculos.

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