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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 27, 2011

Fifa quer submeter BRASIL e esporte a negócios.

Intimado pela PF, Ricardo Teixeira tem prazo para depor até 4 de novembro


A Polícia Federal do Rio de Janeiro confirmou, nesta quarta-feira, que espera até sexta-feira da próxima semana (04/11) o depoimento de Ricardo Teixeira, suspeito de crime de lavagem de dinheiro. Teixeira é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê de Organização da Copa 2014.
O irmão de Ricardo, Guilherme Teixeira, já foi ouvido pela Delegacia de Crimes Financeiros, dirigida pelo delegado Vitor Pubel. O inquérito foi aberto sob a proteção do sigilo de Justiça.
O pedido de investigação contra os irmãos Teixeira foi feito pelo procurador da República, Marcelo Freire, da vara criminal. Em seu ofício, Freire cita a operação da empresa Sanud, que tem sede em Luxemburgo, paraíso fiscal. O procurador da empresa no Brasil é o irmão de Ricardo, Guilherme.
O MPF pede que a Polícia Federal investigue a evolução patrimonial de Ricardo Teixeira, seus sócios e familiares, além do irmão Guilherme.
A Delegacia de Crimes Financeiros vai apurar novas denúncias contra as duas empresas de Teixeira por remessa ilegal de dinheiro para o Brasil: a Sanud e a RLJ. Guilherme Teixeira é procurador da Sanud no Brasil, há mais de dez anos.
No ofício enviado à PF, o procurador da República Marcelo Freire diz que “Ricardo Teixeira e sua quadrilha podem ter cometido novos crimes de evasão de divisas”, usando a Sanud.
Outro ponto novo: documentos que listam operações de suborno de mais de U$150 milhões citam também a Sanud com o beneficiária, em processo que corre na Suíça. Os suíços descobriam a Sanud e outras empresas de fachada em investigação sobre a falência da empresa que vendida os direitos de transmissão dos eventos da Fifa, a ISL.
Documentos sobre a investigação suíça foram entregues a um grupo de senadores, em Brasília, nesta quarta-feira, pelo jornalista britânico Andrew Jennings. O jornalista e escritor publicou um livro no Brasil ("Jogo Sujo"), onde relata a série de subornos apurada pela Justiça suíça. Parte desses documentos obtidos na cidade de Zug foi entregue a senadores brasileiros.
Segundo Jennings, Ricardo Teixeira e João Havelange (que presidiu a Fifa de 1974 a 1998) teriam recebido cerca de U$ 60 milhões em suborno, dos cofres da empresa ISL.
Algumas empresas envolvidas em suborno, segundo a Justiça suiça
Sanud US$ 8,5 mihões de 16/02/93 a 28/11/97
Beleza US$ 1,5 milhão de 27/03/91 a 01/11/91
Ovada US$ 820 mil 22/01/1992
Wando US$ 1,8 mihão de 06/07/89 a 22/01/93
Sicuretta US$ 42,4 mihões de 25/09/89 a 24/03/99
“O caso está na Suíça mas os documentos serão requisitados pela Justiça brasileira”, informou uma fonte do Ministério Público Federal, habituada em investigações de crimes internacionais.
Da lista de empresa usadas para pagar propinas a dirigentes da Fifa, constam algumas empresas que podem esconder nomes de brasileiros, além de Ricardo Teixeira. Wando, Beleza, Sicuretta, Renford Investments e Gilmark Tradings, com sede em Hong Kong, lideram os repasses ilegais, segundo investigadores europeus
*comtextolivre

O que os indignados denunciam é justamente a submissão dos Estados às grandes corporações
Lendo a Lei Geral da Copa, conclui que a Fifa não quer mais organizar o mundial no Brasil.
Quer organizá-lo em um país imaginário. Pasárgada talvez, onde pode reescrever todas as leis, pelo menos enquanto durar o campeonato.
A Fifa quer rapidez e não embaraços para os vistos de quem participa do evento e de quem lucra com ele. Quer ultrapassar prazos e obstáculos para a garantia da propriedade intelectual. Quer uma justiça rápida e ágil para as causas que enfrentar, ou que a União enfrentar por ela.
Mas tudo isso apenas até o apito da final no Maracanã. Depois, o Brasil tem a permissão para continuar sendo o Brasil.
É curioso que pensando em uma lei para garantir tamanha segurança ao evento, a entidade tenha concordado em marcar seu glorioso início para um estádio que ainda nem sequer existe.
Que segurança quer a Fifa? A dos negócios, certamente.
Para quem conhece o direito, sabe que a lei da Copa pode ser tudo, menos geral. É a mais específica legislação com que já tive contato - não tem o atributo comum das leis de serem genéricas ou perenes. Tudo o que nela está escrito se desmanchará no ar em dezembro de 2014. Até mesmo os crimes, que a entidade pretende criar no país para proteger, adivinhe só, os lucros.
A Fifa não se preocupa com legados, só com a terraplanagem para negócios.
Se o leitor for se atrever a ler o projeto de lei, sugiro Liza Minelli cantando "Money makes the world go around", em Cabaret, como fundo musical. Vai compreender melhor do que se trata.
A Fifa quer a submissão do país a suas regras, nas quais já é lei a submissão do futebol ao dinheiro.
Que outra razão existiria para estipular os crimes do marketing de intrusão ou de emboscada e querer proibir que produtos de outros fornecedores possam ser vendidos inclusive nas "vias de acesso" aos estádios?
Garantiremos o espetáculo ou o bom futebol prendendo as belas holandesas que chamaram atenção dos câmeras na África do Sul, propagandeando uma cerveja que nem soubemos qual era? Ou apreendendo isopores dos camelôs de beira do estádio?
Andaria melhor a federação do futebol, interessar-se pelo "corpore sano" do esporte, banindo ela mesma a publicidade de bebidas alcóolicas. Evitaria que mais gerações de jovens torcedores se iniciassem tão cedo no vício. Quem sabe de quebra pouparíamos algumas vidas que vem sendo dizimadas por motoristas irresponsáveis.
Nós já devíamos ter aprendido a confusão que é misturar, em alta medida, esporte, Estado e negócios.
Melhor exemplo que a exploração dos bingos, a pretexto de municiar ONGs ligadas ao esporte dito amador não precisamos.
A Lei Pelé, de 1998, arregaçou as portas para a exploração do jogo e acabou por agregar o crime organizado nas entranhas do esporte, sobrando resquícios até mesmo para o Judiciário. Abriu-se uma caixa de Pandora que não fecharia tão fácil, como temos visto mais recentemente.
Para quem não tiver a oportunidade de lucrar com a Copa, ela será certamente um continente de frustrações.
Remoções de moradores de habitações populares já são constantes nas capitais. A higienização das ruas está em marcha, como pretexto para a salvaguarda de crianças carentes. O dinheiro público será concretado em arenas privadas que poucos conseguirão frequentar durante ou mesmo depois da Copa.
Se o campeonato fosse em outro país, quem sabe podíamos pensar um pouco mais no futebol para tentar evitar o que parece ser um desastre anunciado: a seleção nem chegar a conhecer o novo Maracanã.
Para quem supõe estranheza com o tamanho do poder de uma entidade internacional com começo, meio e fim lucrativo, devia entender o recado que os indignados estão espalhando mundo afora, de Cairo a Barcelona, de Nova York a São Paulo.
O poder não está restrito a quem tem voto. Está na Fifa, está em Wall Street, está na grande mídia, bem além dos partidos.
O que os indignados estão denunciando é justamente a submissão dos Estados às grandes corporações, independente de seus governos e até mesmo de suas oposições.
Situações que resultam em ajudas financeiras estratosféricas a bancos que quebram e cortes de verbas públicas destinadas justamente a quem sofre com as perdas.
Ou a submissão dos interesses do país a negócios transitórios que acabam por beneficiar basicamente os mesmos 1%.
Quando o campeonato começar, quem vai ocupar seus gramados?
Marcelo Semer
*Sem Juízo

Um posto-chave, decisão é urgente

Não posso fazer juízo de valor sobre o caráter do Ministro Orlando Silva, derrubado com uma história de um evidente desonesto que, encalacrado com a lei, defendeu-se atirando e, sobretudo, ciente de que teria tratamento “vip” na mídia.
Mas é possível tirar lições deste episódio onde a pressão da mídia, mais uma vez, tornou-se irresistível e ameaçava arrastar o Governo para um impensável fracasso em dois eventos que significarão muito para o Brasil: a Copa e a Olimpíada.
A primeira delas é que políticas públicas fundadas, exclusivamente, na iniciativa privada expõem o dirigente público a isso. Mesmo que haja uma linha admnistrativa correta, não é possível garantir a correção de centenas ou de milhares de convênios que repassem recursos públicos a entidades privadas sem que nisso haja o risco de desvios. E os desvios, mesmo quando detectados pelas estruturas de controle montadas pelo Estado, vulneram de forma imensa, para a mídia, um Governo que é “um inimigo a abater”.
Tudo começa, como de outras vezes, começa com um tipo nitidamente escroque. Ou com um deslize, uma intimidade a quem não se devia dá-la, um amigo meio heterodoxo. Mo meio dos “cartolas” esportivos, então, onde as flores não se cheiram e se mexe com milhões, muitos milhões , de interesses, digamos, comerciais, tudo é mais grave.
E se o dirigente público, por dever de seu ofício, alguma hora tem de contrariar estes interesses, fique certo, será trucidado.
Com culpas ou sem culpas, Orlando Silva o foi.
Ninguém ligou para o fato do “homem-bomba” que disse ter-lhe entregue dinheiro na garagem do Ministério tenha sumido com esta história e dito que ela não aconteceu, depois, claro, de publicada.
Agora já bastam o campimgo que não foi feito aqui, o terreno que foi comprado acolá, a mulher, a prima, o sobrinho. Nada precisa ser provado e a  mídia trata de linchar , senão por isto, por aquilo ou aquil’outro.
Dilma foi sábia ao postar-se a metros de Ricardo Teixeira. A um Ministro do Esporte, sem luz própria, é mais difícil resistir a estes salões.
Orlando Silva e o PCdoB entenderam que Dilma não poderia resistir à pressão da mídia e da Fifa que, grosseiramente, “demitiu” um ministro de um País.
E deixaram o caminho aberto para uma solução de Governo.
Que deve vir logo, e na figura de alguém de peso, capaz de viarar esse jogo e colocar, de novo, o Brasil em posição de força em relação à Copa.
Alguém que possa, serenamente, “peitar” o jogo pesado que se desenvolve nos bastidores de uma organização esportiva que daria um infarto ao Barão Pierre de Coubertin.
É decisivo, e é urgente.
*Tijolaço

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