Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 05, 2012

PROJETO DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE FIRMA PARCERIAS COM SINDICATOS E ENTIDADES DE CLASSE PARA REFORÇAR ATUAÇÃO DA COMISSÃO DA VERDADE

Os trabalhos da Comissão da Verdade devem se iniciar em breve, tão logo os nomes sejam escolhidos pela presidente Dilma Rousseff, mas diversos projetos paralelos acontecem para reforçar a importância da Comissão e envolver diversos setores da sociedade com o intuito de garantir que os seus resultados promovam de fato o resgate da memória e da justiça.

Um desses projetos é o Direito à Memória e à Verdade que pretende criar “comissões da verdade” em todos os sindicatos e entidades de classe interessadas, à exemplo do que já vem sendo feito em assembleias legislativas, câmaras de vereadores e entidades de direitos humanos de todo o país, para resgatar a memória dos trabalhadores brasileiros vítimas da Ditadura Militar.

O projeto pretende, neste sentido, que os diversos setores assumam a responsabilidade pelo seu passado e estejam envolvidos nas discussões a serem desencadeadas pela Comissão. Gilney Viana, coordenador do projeto, lembra em notícia publicada pela Carta Maior, que a expectativa em torno da Comissão da Verdade já está fazendo com que novas denúncias e fatos à respeito do período ditadorial apareçam com potencial para alterar a forma com que boa parte da sociedade brasileira encara o seu passado.

Isso porque a Ditadura Militar no Brasil até hoje não é vista em sua crueldade e autoritarismo por setores da sociedade ainda influenciados pela ilusão do milagre econômico, distantes de toda tortura e desrespeito aos direitos humanos praticados nos porões do DOI/CODI e, na época, mascarados pela censura.

Mas a Comissão e os projetos que caminham de forma paralela a ela estão aí para dar ao peso da história a sua real dimensão.

Veja trecho da notícia sobre o assunto:

SDH firma parcerias para criar comissões da verdade em sindicatos
Por Najla Passos
Brasília – A Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência está firmando parcerias com sindicatos e entidades de classe para resgatar a memória dos trabalhadores brasileiros vítimas da ditadura militar. De acordo com Gilney Viana, coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade, a proposta é criar “comissões da verdade” em todas as entidades interessadas, à exemplo do que já vem sendo feito em assembleias legislativas, câmaras de vereadores e entidades de direitos humanos de todo o país. “Os sindicatos têm que assumir a responsabilidade pelo seu passado”, afirma.
Viana avalia que a efervescência social suscitada pela expectativa de instalação da Comissão da Verdade, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em outubro e que, agora, aguarda a indicação dos seus sete membros para começar a atuar, tem provocado o surgimento de novas denúncias sobre violações de direitos, que podem alterar drasticamente a forma com que o país e o mundo encaram o mais sangrento período da história recente brasileira. “Essas denúncias reforçam a tese de que o número de vítimas é muito superior do que o já reconhecido”, afirma.
Para o eterno militante que ficou preso nos porões da ditadura por quase 10 anos, nem a Comissão de Mortos e Desaparecidos, criada de 1995, e nem a Comissão de Anistia, de 2001, foram capazes de dar conta do grau de impacto da ditadura na vida dos brasileiros. “A Comissão de Mortos e Desaparecidos, por exemplo, reconhece apenas 17 camponeses vítimas do período. E os relatos já sistematizados indicam que pelo menos 450 vítimas. Além disso, há as perdas institucionais que também foram enormes. A Universidade de Brasília (UnB), para citar a mais prejudicada, perdeu cerca de 80% do quadro docente”, reforça.
Gilney acredita que, neste contexto, o apoio dos sindicatos e entidades de classe é fundamental para o resgate da história. Ele explica que a SDH oferecerá todo o suporte para a efetivação das parcerias, mas que cada entidade terá total autonomia para decidir como encaminhará seus trabalhos. (Texto completo)
*Educaçãopolítica

Nenhum comentário:

Postar um comentário