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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, janeiro 25, 2014

A casa grande não brinca em serviço



As imagens falam mais que mil palavras.
A velha máxima nunca foi tão verdadeira quanto na quinta-feira, 23 de janeiro de 2014.
As fotos estão aí na internet para todos verem.
Para quem preferir o movimento, existem os vídeos.
E há o discurso da delegada, desmentindo as evidências.
Como se fosse possível criar uma outra realidade, diversa dos fatos.

Nas fotos e nos vídeos, toda a brutalidade de uma ação desumana e insana.
Na verborragia oficial, todo o cinismo dos que se julgam acima das leis - justo eles que se dizem combatentes do crime.
Essa dicotomia marca a sociedade brasileira hoje.
De um lado está quem deseja mudar verdadeiramente o país.
De outro, quem resiste a qualquer mudança.
De um lado, aqueles que enxergam no ser humano a capacidade de transformar não só o ambiente, mas a si próprios, superando suas fraquezas, seus vícios e toda a fragilidade da existência.
Do outro, os que veem no homem apenas um instrumento a ser explorado em busca da acumulação do capital, dos prazeres fugazes e dos meios fáceis de materializar seus desejos de poder.
Anos atrás, quando o Brasil vivia nas trevas da ditadura, um daqueles ignóbeis generais que se revezavam no comando da tropa dos "90 milhões em ação", proclamou, do alto de sua proverbial ignorância, que a luta de classes estava abolida nestas tórridas terras.
Infelizmente, seu decreto não se cumpriu.
A casa grande e a senzala ainda estão entre nós e só não vê isso quem tem os olhos como os daquele esquecido general-ditador, sempre escondidos atrás de grossas e escuras lentes de um óculos grande e desengonçado.
Este será um ano difícil.
Nem começou e já os moradores da casa grande mostram aos da senzala que a ignorância e a violência não são fortuitas, mas sim fazem parte de um rigoroso planejamento e de uma apurada estratégia.
A casa grande não brinca em serviço.
Ela sabe que o general-ditador estava completamente errado quando quis contradizer as lições daquele velho e barbudo mestre alemão.

*GilsonSampaio


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