Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 19, 2014

    Trensalão é tratado como se fosse apenas Ferrorama pelo PIG







Renato Rovai 


O Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ontem que há “fortes indícios de existência do esquema de pagamento de propina pela Siemens a agentes públicos vinculados ao Metrô de São Paulo”.
Um pouco antes disso, no dia 20 de dezembro, o governador Geraldo Alckmin demitiu Benedito Dantas Chiaradia do alto escalão do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo. Chiaradia, em depoimento à Polícia Federal, em novembro, havia confirmado que havia um cartel para pagamento de propinas na CPTM.
Ao mesmo tempo, os secretários citados como participes do esquema Edson Aparecido, José Anibal, Rodrigo Garcia e Arnaldo Jardim continuam todos no governo.
O jornalismo que espreme petistas perguntou ao governador Alckmin se a demissão de Chiaradia tinha relação com o fato de ele ter denunciado o esquema. E Alckmin foi “firme”: “não tem nenhuma relação. Era um cargo de confiança do próprio DAEE e ele saiu. Nenhuma relação”.
E em nota oficial depois da afirmação de Janot de ontem, o governo do estado emiti uma nota oficial dizendo que “a Corregedoria-Geral da Administração apura com rigor os fatos citados pela Siemens no acordo de leniência com o Cade”. E ponto final.
Dito isso, tudo resolvido.
Os jornalões se contentam com a explicação de um esquema que pode ter sangrado em mais de 1 bilhão os cofres públicos. E partem para a investigação do aluguel da casa de Genoino, de 4 mil reais. Ou pior, vão investigar se José Dirceu usou o celular na Papuda.
A criminalização da política é algo extremamente perigoso para a democracia. E neste sentido o PT errou demais quando colocava a denúncia como seu principal instrumento de fazer política. Mas ao mesmo tempo a forma leniente como a mídia trata os esquemas corruptos do PSDB chega a dar engulhos.
O PSDB está no governo de São Paulo desde 1994. O mesmo grupo já havia participado do governo Montoro e ficou um tempo com Quércia no poder. Só rompeu em 1989, quando formaram um partido de quadros para disputar a eleição presidencial. Mas é bom lembrar que FHC e Covas se elegeram na chapa do falecido ex-governador. E neste período, São Paulo já viveu escândalos em quase todas as áreas. Desde a revitalização do Rio Tiete, passando pelo Metrô, Sabesp, CDHU etc. E basta uma resposta do tipo “nenhuma relação” e “estamos investigando com rigor” para que tudo fique por isso mesmo.
O trensalão virou um Ferrorama na versão midiática. E o esquema de propinas um Banco Imobiliário. A narrativa é tão infantil e de faz de conta que não se pode imaginar que jornalistas sérios não fiquem com vergonha de assinar certas matérias.
*AmoralNato

Nenhum comentário:

Postar um comentário