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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, janeiro 18, 2014

Dez considerações sobre a nova polêmica


Algumas poucas e desimportantes considerações sobre esta nova polêmica nacional, a dos "rolezinhos" nos sagrados shopping centers:
1) Não sei por que tanta confusão. A Constituição proíbe qualquer tipo de discriminação e assegura o direito de ir e vir;
2) Os jovens pretos, pardos, pobres e da periferia, então, podem, perfeitamente frequentar, sozinhos ou em grupos os shopping centers;
3) Se não cometerem nenhum crime, não há nenhum motivo para a intervenção dos seguranças ou da polícia;
4) Se, ao contrário, forem flagrados em delito, claro que a intervenção policial é necessária;
5) Os donos dos shoppings, acredito, conhecem, pelo menos, os rudimentos da lei, e portanto, não podem impedir a entrada dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia;
6) Juiz que dá razão aos donos de shoppings que querem impedir a entrada dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia são qualquer coisa menos juízes;
7) A PM, em suas violentas, injustificadas e ilegais intervenções, não tem feito nada além do que vem fazendo desde que foi criada, que é servir como força auxiliar da oligarquia, ou, mais claramente, como jagunços de coronéis;
8) Os donos de shoppings centers, seus administradores, os lojistas e grande parte do público que se indigna com a presença dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia e inventam pretextos para expulsá-los do sagrado recinto dos shoppings, na verdade fazem isso por um motivo simples, mas nunca revelado: eles são contra o Artigo 5º do Capítulo I da Constituição Brasileira, que diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Para eles, isso é um absurdo. Por isso, e para não incorrerem nas penas legais, mentem, distorcem os fatos, inventam as histórias mais absurdas para encobrir o seu preconceito e ódio de classe;
9) São esses mesmos que acham que o Brasil de uma década atrás era uma beleza porque essa "gente feia" - uma expressão que já ouvi diversas vezes - vivia lá em seu cantinho, sem incomodar, quase invisíveis, servindo, bem baratinho, de diversas maneiras, o pessoal "bonito", de pele clara, que acha que descende de um "wasp";
10) Por último, e para resumir essa situação a qual tantos "intelectuais" têm se debruçados nos últimos dias e falado as mais sonoras bobagens: é a luta de classes, estúpido!
*GilsonSampaio

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