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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, janeiro 23, 2014

    Luiza não fez nada de mais com Mainardi


por Renato Rovai
Contraponto: Luiza não fez nada de mais, apenas questionou teses que não ficam em pé
Depois de tantos compartilharem o vídeo em que Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, teria esculhambado Diogo Mainardi eu fui assisti-lo na madrugada de ontem. Na verdade, Luiza não fez nada demais com Mainardi. Ela simplesmente não deixou que ele exercesse seu papel de palhaço (com as minhas sinceras desculpas aos profissionais) sem contestá-lo. Sim, Mainardi não é comentarista, não é jornalista, não é sério. É simplesmente um bufão que como outros estão a vociferar suas teses sem que haja contraponto nos meios de comunicação.
O que há de mais deletério na concentração dos meios de comunicação de massa no Brasil é exatamente isso, a inexistência de diversidade opinativa. Todos falam a mesma coisa. E se refestelam em teses que não ficam em pé. A tese da inflação em alta todos os inícios do ano, que vira crise em todos os jornais, sempre morre lá pra julho e é substituída pela crise nas contas internas ou pelo fraco desempenho no PIB. E aí inventam-se estatísticas para consubstanciá-las. Como a de que há taxa de inadimplência está muito alta. Que o consumidor está quebrado. E assim por diante.
E quem ousar questionar esse corolário nunca mais é convidado a participar da santa ceia dos urubus midiáticos.
Mainardi está tão acostumado a fazer isso sem que lhe contestem, que achou que poderia usar o mesmo recurso contra alguém que entende do assunto. Que vive disso. Ou seja, de crédito. E tomou um chega pra lá muito delicado da empresária. Convenhamos, ela tinha tudo para ser mais dura.
A questão que fica é como isso ainda é tratado de forma natural. Jornalistas experientes, acadêmicos, governantes costumam se referir a tipos como Mainardi como uma caricatura. Alguém que não se leva a sério. E que está ali para divertir a patuléia. Não só ele, aliás. Reinaldo Azevedo, o tal de Constantino, Lobão, Roger, etc. Ou seja, são tudo menos informadores, debatedores sérios ou jornalistas. Mas tudo bem.
Tudo bem pra quem, cara pálida? A questão é que o nível da imprensa se vê nessas horas. Quando um Mainardi não fala sozinho. Quando é colocado à frente de algum contraponto. Vira um pato. Parece uma criança perdida sem saber pra onde ir num parque de diversões lotado. Vê-se cheio de brinquedos, mas frágil. Sem forças para fazer qualquer coisa.
Se há gente séria ainda em cargos de chefia nesses que se acham os veículos da grande imprensa, a patética cena de Mainardi tomando um sabão de leve da Luiza deveria fazer parte de debates internos. Quando um comentarista citar números, o mínimo que se espera dele é a fonte. Quando der uma opinião, que se permita o contraponto. Quando se referir a alguém, que seja respeitoso. E assim por diante.
Se isso viesse a acontecer, Mainardi iria viver só dos seus direitos autorais de livros. Que muito provavelmente não pagam uma garrafa de um vinho italiano médio numa cantina de Veneza.
*amoralnato

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