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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 14, 2015

Não é atitude de um senador, é atitude de um pitbull', diz Juca Kfouri sobre Aloysio Nunes

Não é atitude de um senador, é atitude de um pitbull', diz Juca Kfouri sobre Aloysio Nunes

Jornalista critica fala de tucano, que disse querer 'ver a presidente Dilma sangrar'. Ele também reafirma a necessidade de combater o discurso de ódio e diz: 'Corrupção não começou em 2002'
por Redação RBA 
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JAÍLTON GARCIA/ARQUIVO RBA
juca
'Não estou preocupado com quem foi para Miami (...). Estou preocupado com o trabalhador'
São Paulo – Em entrevista à Radio Brasil Atualontem (12), o jornalista Juca Kfouri criticou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que afirmou que "quer ver a presidente Dilma sangrar", e cobrou limites: "Alguém dizer, como o senador da República, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que quer ver a presidenta sangrar? Epa, para tudo! Um político que esteve exilado, porque foi da luta armada, da ALN, a exemplo do que foi a presidenta Dilma, e agora quer vê-la sangrar? Não é atitude de um senador, é atitude de um pitbull, e não dá para fazer política com um pitbull".
Na entrevista, o jornalista repercutiu o artigo, publicado em seu blog, intitulado Panelaço da barriga cheia e do ódio, em que critica a maneira como a classe média protestou, das varandas 'gourmets', contra a presidenta Dilma Rousseff, durante pronunciamento oficial, no último domingo, Dia Internacional da Mulher.
"Chamar uma presidenta da República, legitimamente eleita em outubro passado, de vaca não cabe em dia nenhum do ano, nunca, muito menos no Dia Internacional da Mulher", indigna-se Juca, e explica: "Houve quem não entendesse o sentido daquilo que escrevi, foi basicamente um texto contra o ódio. Não contra a oposição, não contra a manifestação de descontentamento, mas contra o ódio classista, o ódio dos ricos em relação aos pobres."
Sobre os casos de corrupção, fonte de descontentamento dos que protestaram, Juca Kfouri comenta: "Não que o fato de que se roubasse antes justifica que se roube agora, mas vamos parar de hipocrisia. Agora, está havendo punição. Estamos vendo empresários na cadeia. Estamos vendo políticos que pagaram pena, ou estão pagando. Isso tudo tem que ser medido. Está é uma novidade, não era assim que acontecia, no Brasil. A corrupção no Brasil não começou em 2002."
Preocupado com a conjuntura econômica, Juca afirma que quando há crise, quem mais sofre é quem tem menos. "Rigorosamente, não estou preocupado com quem foi para Miami pensando em gastar R$ 18 mil e gastou R$ 25 mil. Estou preocupado com o trabalhador que, eventualmente, perca o seuemprego, que tenha dificuldade de pagar suas contas no final do mês."
Contudo, para o jornalista, não há nada que justifique o tratamento dispensado à presidenta: "Uma classe favorecida profundamente mal-educada, até para se manifestar politicamente. Aquela gente que é capaz de ir ao estádio, na abertura da Copa do Mundo, e, na frente de chefes de estado do mundo inteiro, mandar a presidenta do país anfitrião da Copa, legitimamente eleita, tomar naquele lugar, ou como se fez domingo, chamando a presidenta de vaca, dentre outras palavras menos publicáveis."
Juca Kfouri reafirma a necessidade de combater o discurso de ódio e usa o futebol como exemplo: "É o mesmo discurso que faço em relação às torcidas de futebol. Sou corintiano e olho para o são-paulino como meu rival, como adversário, que quero ganhar no campo, mas não como inimigo, porque inimigo você quer matar. Se eu tratar o São Paulo como inimigo, não vou tê-lo mais para ter o prazer de ganhar dele".
Sobre as manifestações de hoje (13), o jornalista acredita que não é o momento oportuno, frente ao quadro de polarização com os protestos antigoverno convocados para o domingo, mas apoia a defesa do processo democrático. "Já vivi o suficiente para saber como essas coisas começam, esse tipo de movimentação golpista, e como é que elas terminam, e quanto tempo se leva para conseguir recuperar a democracia."
Ouça a entrevista completa da Rádio Brasil Atual:
r*RBA

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