Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, setembro 15, 2015

“56 mil pessoas foram assassinadas em solo brasileiro, em 2012, sendo 30 mil jovens e, entre eles, 77% negros”. Leia a matéria completa em: Eu violento / Eu violência - Geledés http://www.geledes.org.br/eu-violento-eu-violencia/#ixzz3lrmKfZX2 Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook


259.888 visualizações
Pra quem diz que mulheres negras são agressivas e raivosas, assistam!
Tradução de Marcos Ferreira, postado originalmente no link: https://www.youtube.com/watch?v=iiPiJ_Ge50s&feature=youtu.be

Eu violento / Eu violência


Publicado há 14 horas - em 15 de setembro de 2015 » Atualizado às 10:06 
Categoria » Racismo e Preconceitos
violc3aancia-policial
Constantemente recebo a opinião de pessoas próximas a mim e em alguns comentários anônimos dizendo que sou uma pessoa agressiva. Esse estereótipo é direcionado para qualquer pessoa negra, para qualquer mulher ou LGBT que lute pelos seus direitos.
Por FELIPE CARDOSO via Guest Post para o Portal Geledés 
Quem está na luta sabe das dificuldades que enfrentamos para conseguirmos que nos ouçam, diante tantas violências que nos perseguem. Violências físicas e psicológicas que nos são destinadas, que nos machucam e matam, diariamente.
Temos que aguentar todo tipo de opressão calado, mas quando nos cansamos e decidimos reivindicar, somos taxados de violentos e extremistas. Tudo isso por apenas mostrar as violências que nos atingem. É notável que a sociedade brasileira, racista e patriarcal, não está acostumada (e parece não querer se acostumar) a dar voz as “minorias”.
Com o medo de perder os privilégios, principalmente o financeiro, os detentores do poder usam seus veículos de massa para propagar os estereótipos negativos dos grupos que lutam. Dividindo, ainda mais, os trabalhadores, que também recebem as violências diárias, mas que muitos não percebem.
São várias as violências que a população negra recebe e que, talvez, boa parte da imprensa não queira divulgar de uma só vez, para não gerar uma grande revolta na população. Procurarei listar algumas das várias opressões que somos reféns.
Mulheres negras gestantes enfrentam a violência obstétrica. Sem contar as que preferem abortar, mas por conta da ilegalidade, acabam morrendo. A maioria são mulheres negras.
Jovens negros são impedidos de usufruir o direito de ir e vir por conta da polícia, que tem em sua tradição a sanha de perseguir jovens com o perfil conhecido: negros e pardos.
Nem nos ambientes acadêmicos, negros e negras estão imunes de sofrerem com a repressão policial ou com as agressões dos outros acadêmicos. Há uma enorme resistência a mudança, a pluralidade, ao respeito a diferença nas universidades brasileiras.
A juventude negra brasileira enfrenta um genocídio. Milhares de jovens negros, em sua maioria, homens, pobres, estão sendo mortos pela polícia que se utiliza dos autos de resistência para assassinar.
Segundo os dados do relatório “Crianças Fora da Escola 2012”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em relação ao trabalho infantil, a maioria é de crianças e adolescentes negros e do sexo masculino das zonas urbanas, vindas das camadas mais pobres da população.
O estudo aponta que mais de um milhão de crianças e adolescentes, entre seis e 14 anos, encontram-se trabalhando no Brasil, o que representa 7,8% do total desse público no país. Entre as crianças brancas, a taxa é de 34,60% (377.167). Entre as negras, de 64,78% (706.160). Nessa faixa etária, o trabalho infantil é uma causa importante do abandono escolar, e aqueles que exercem alguma atividade profissional em paralelo aos estudos também estão em situação de risco”.
Precisamos de uma lei para obrigar escolas e professores a estudar e ensinar a cultura africana e afro-brasileira. Mesmo assim, a Lei 10.639 não é cumprida, deixando milhares de jovens negros sem ter o contato com sua ancestralidade, sem conhecer a sua história e cultura, recebendo, apenas, uma visão eurocêntrica, somada a visão da mídia, do mundo da moda e dos detentores do capital. O que pode gerar um desinteresse e, principalmente, uma falta de identidade, tendo como consequência a dificuldade no aprendizado e a evasão escolar.
Vendo desde cedo o padrão de beleza e uma religiosidade eurocêntrica pré-estabelecida e propagada como certa e civilizada, tendo os seus traços e a sua cultura ridicularizadosperseguidos, muitos negros enfrentam a depressão, que trazem consequências graves para sua vida e de seus familiares, como a dependência química, por exemplo.
No mercado de trabalho, os menores salários são das mulheres negras, que recebem um pouco menos do que os homens negros. Fora isso, os negros são a maioria dos desempregados no Brasil. A famosa desigualdade social tem relação com a desigualdade racial. Segundo dados do estudo do “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, do Ipea, enquanto o desemprego atinge 5,3% dos homens brancos, o índice chega a 6,6% entre os homens negros. Já entre as mulheres, a diferença aumenta. Entre as mulheres brancas, o desemprego é de 9,2% enquanto entre as mulheres negras, ultrapassa os 12%. Na pirâmide social, as mulheres negras estão na base, suportando todas as opressões, tanto as delas, quanto as dos filhos e companheiros.
De acordo com a pesquisa, realizada em 2014, pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), intitulado “A Inserção dos Negros no Mercado de Trabalho”, os trabalhadores negros ocupam, em geral, cargos de menor qualificação e, consequentemente, têm salários com até 57,3% de diferença, sendo menos valorizados do que os não negros.
Fora tudo isso, ainda temos que conviver com a hipocrisia de ver os brasileiros se revoltando com o descaso da Europa com os imigrantes sírios, ao mesmo tempo em que fazem o mesmo com imigrantes haitianos e senegaleses.
Diante de tudo o que foi apresentado, diante do cotidiano violento que enfrentamos, tenho total certeza que os meus discursos e meus textos não são violentos. Não chegam nem aos pés das atrocidades cometidas pelo Estado, financiado por banqueiros, gerando lucro para milhares de empresários.
Violento é o Estado genocida. Violento é o racismo. Violento é a hipocrisia. Violento é a desigualdade. Violento é o capitalismo.
Para encerrar, o vídeo da apresentação da Porsha O., de 2014, que contempla muito bem o que foi apresentado aqui.
Tags:  · 

Nenhum comentário:

Postar um comentário