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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 23, 2015

Esquerda vence de novo na Grécia

Tsipras comemora com simpatizantes do Syriza na sede do partido, em Atenas
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, assumirá na tarde desta segunda-feira (21/09) o cargo de primeiro-ministro pela segunda vez neste ano, após a vitória do partido de esquerda nas eleições gerais antecipadas no domingo (20/09), na Grécia.
Com mais de 99% das urnas apuradas, o Syriza venceu com 35,47% dos votos, obtendo 145vagas no Parlamento grego, composto por 300 assentos.
Embora tenha ficado perto de conseguir a maioria absoluta,a legenda precisou se aliar ao partido de direita nacionalista Gregos Independentes, como nas eleições de 25 de janeiro, para formar governo.
De acordo com o resultado oficial do pleito, no segundo lugar está o principal partido de oposição, o conservador Nova Democracia, com 28,09% e 75 cadeiras. A terceira força parlamentar é novamente a legenda de extrema-direita Aurora Dourada, que obteve 6,99% dos votos e manteve-se com 17 deputados.
A legenda que mais cresceu no pleito foi o Pasok (Movimento Socialista Pan-helênico), que passou de 13 assentos para 17. O KKE (Partido Comunista da Grécia, na sigla em grego) manteve-se com 15 parlamentares e 5,55% dos votos e os centro-esquerdistas do To Potami perderam seis cadeiras, finalizando as eleições com 11 assentos, mesmo número dos Gregos Independentes no parlamento.
Já o partido Unidade Popular, criado há poucas semanas por dissidentes da ala esquerda do Syriza e que inclui ex-membros do governo, como o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, não atingiu os 3% dos votos necessários para ter direito a uma cadeira no parlamento.
A cerimônia de posse ocorrerá após Tsipras encontrar o presidente da República, Prokopis Pavlopoulos, para receber o mandato oficial para formar governo.
Nesta tarde, o ministro do Interior interino, Andonis Manitakis, também entregará à presidente do parlamento, Zoe Konstantopoulos, a lista dos deputados eleitos.
Como Tsipras já chegou a um acordo para formar coalizão novamente com Panos Kamenos, líder dos nacionalistas de direita Gregos Independentes, esses trâmites são de caráter formal.
Cerca de 10 milhões de gregos foram convocados no domingo para a segunda eleição geral do país neste ano. Entretanto, a votação teve o índice de abstenção de 45% do eleitorado, o mais alto já registrado na Grécia.

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