Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 25, 2015

Mais uma vez índios Ka’apor denunciam a contínua omissão do Estado



De acordo com nota divulgada pelo Conselho Ka’apor, grupos armados tem sido avistados nas proximidades da aldeia onde, há alguns meses, foi assassinado Eusebio Ka'apor. Pressão de madeireiros continua intensa e marcada pela negligência do Estado
Ka'apor queimam madeira ilegal encontrada perto do território indígena (© Lunae Parracho / Greenpeace)
Nesta quarta-feira (23) o Conselho de Gestão Ka’apor soltou mais uma carta pública denunciando novas ofensivas contra a população indígena e a ausência do poder público na região. De acordo com o grupo, homens armados vem rondando algumas aldeias e o grupo tem enfrentado dificuldades para se movimentar entre as aldeias e pela cidade em segurança. 
Na carta, o grupo lembra que desde 2013 vem realizando ações particulares de monitoramento e guarda de seu território, já que, mesmo com sucessivas denúncias, não houve resposta das autoridades.
“Depois de iniciar muito forte a fiscalização, limpeza de nossos limites, encontramos madeireiros, fazendeiros, estaqueiros, caçadores e posseiros que usavam nosso território sem autorização da gente. Esses agressores usavam e usam os limites ou áreas dentro de nosso território com permissão de funcionários da Funai, de prefeituras, do INCRA e de sindicatos para tirar madeira, colocar pastos, colocar roças grandes, tirar estacas para fazendas, para movelarias, para ceramicas, para panificadoras nas cidades”, revela o documento.
A carta detalha, ainda, que nas áreas retomadas pelos indígenas foram criadas ocupações, com finalidade de reflorestamento e controle do território. “Mas, depois que a gente criou essas áreas de proteção, agora a gente vem sendo impedido, perseguidos e até ameaçados de entrar nessas áreas por fazendeiros, pistoleiros, posseiros (incentivados por madeireiros e fazendeiros), alguns assentados do INCRA que, pressionados por madeireiros e fazendeiros, tem vendido seus lotes permitido a destruição de suas reservas”, ressalta.
De acordo com a denúncia, as principais áreas de conflito encontram-se nos municípios de Centro do Guilherme, Maranhãozinho, Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda do Maranhão, Araguanã e Zé Doca.
Os indígenas relatam também que, desde semana passada, um grupo de seis homens armados, em três motos, foram vistos mais de uma vez na estrada que dá acesso a Aldeia Ximborenda, onde Eusebio Ka'apor foi assassinado em abril deste ano. O crime continua sem solução.
Há algumas semanas o Greenpeace esteve com os Ka’apor, para trabalhar junto com o grupo, que passou a integrar o uso de tecnologia às atividades autônomas de monitoramento e proteção do seu território tradicional. Entre as ferramentas sugeridas e adotadas pelas lideranças Ka’apor estão mapas mais precisos, armadilhas fotográficas e rastreadores via satélite. 
“Essa ação ajuda a melhorar o controle dos indígenas sobre seu território, mas enquanto o poder público não fizer sua parte, proporcionando segurança, aumentando a fiscalização e investigando esses crimes bárbaros no campo, a violência nunca terá fim”, afirma Marina Lacôrte, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Até quando ouviremos as denúncias e apelos do povo Ka’apor, sem que nada seja feito?”, questiona.
*http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Mais-uma-vez-Indios-Kaapor-denunciam-a-continua-omissao-do-Estado/

Nenhum comentário:

Postar um comentário