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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 30, 2015

Anistia Internacional repudia ação da PM na Providência

Nota Pública: Anistia Internacional repudia ação da PM na Providência
A Anistia Internacional repudia a ação de policiais militares que segundo imagens divulgadas em 29/09, mataram o jovem Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. Além de fortes indícios de homicídio, os policiais forjaram a cena do crime, colocando um revólver na mão de Eduardo e efetuando disparos para possivelmente justificar uma situação de confronto e legítima defesa.
“A manipulação da cena do crime é fato recorrente na atuação na polícia do Rio de Janeiro e faz com que os “autos de resistência” ou homicídios decorrentes de intervenção policial sejam reiteradamente usados para encobrir assassinatos cometidos por policiais, que não são devidamente investigados ou responsabilizados. Pesquisa realizada pela Anistia Internacional na cidade do Rio de Janeiro mostrou outros casos de manipulação da cena do crime por policiais para impedir a perícia, criminalizar a vítima e encobrir assassinatos”, afirma Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil.
A Anistia Internacional levantou dados que mostram que do total de 283 homicídios decorrentes de intervenção policial na cidade do Rio de Janeiro em 2011, até abril de 2015, mais de 80% dos casos permaneciam com a investigação em aberto e apenas um deles foi denunciado à justiça pelo Ministério Público. A falta de responsabilização tem sido a regra e o Ministério Público não tem exercido devidamente o seu papel de controle externo da atividade policial.

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