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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 05, 2015

Dilma não precisa incorporar e cumprir a agenda testadamente falída da oposição



O alerta que o codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington,Mark Weisbrot, faz ao final de um texto publicado hoje pela Folha de S.Paulo. “O ministro Joaquim Levy disse que o desemprego no Brasil vai aumentar e que os brasileiros precisam ‘encarar algumas realidades’. Nenhum país deveria ter um ministro da Fazenda com essa atitude diante de uma das necessidades mais importantes para o povo, o emprego”, diz o artigo, no qual ele alerta para mais uma coisa: a austeridade não está funcionando no Brasil. Essa política não só traz desemprego e pobreza como compromete o futuro do país. É possível ter outra política. 
E sobre isso fala, também hoje na Folha de S.Paulo, a economista Laura Carvalho. “O governo ainda pode ajudar a superar a crise se contar, como em 2009, com a força do mercado interno e com sua capacidade de endividamento, que, aliás, já está sendo usada para cobrir sucessivas quedas nas receitas e o pagamento de juros cada vez mais altos. Melhor seria endividar-se para preservar empregos e expandir investimentos em infraestrutura física e social.” Este blog recomenda a leitura de ambos. O governo precisa mudar sua política. Para gerar empregos, para gerar crescimento, para reduzir a desigualdade.

O futuro do Brasil de Levy

Por Mark Weisbrot 
 
A austeridade não está funcionando no Brasil. Essa política não só traz desemprego e pobreza como compromete o futuro do país.
O ministro Joaquim Levy disse que o desemprego no Brasil vai aumentar e que os brasileiros precisam “encarar algumas realidades”. Nenhum país deveria ter um ministro da Fazenda com essa atitude diante de uma das necessidades mais importantes para o povo, o emprego.
E, pior ainda, alguém que está agindo com base nessas ideias distorcidas para convertê-las em realidade. Ele próprio deveria ser o primeiro a perder seu emprego.
A maioria dos brasileiros se encontra em situação muito melhor do que estava antes de o PT chegar à Presidência, em janeiro de 2003.
Entre 2003 e 2012, a pobreza foi reduzida em 55% e a pobreza extrema em 65%, enquanto os salários em reais aumentaram 35%, e o salário mínimo dobrou. Entre 2004 e 2010, a economia cresceu a um ritmo duas vezes maior do que o dos 23 anos anteriores, e os ganhos resultantes desse crescimento foram distribuídos de modo igualitário.
Esses ganhos estão sendo erodidos à medida que a economia afunda em recessão e o desemprego cresce. Estudo dos economistas Franklin Serrano e Ricardo Summa mostra que isso não se deve principalmente a fatores externos, como o desaquecimento do crescimento econômico e do comércio globais.
Na verdade, é sobretudo consequência de políticas governamentais que reduziram a demanda agregada desde o final de 2010, levando ao arrocho do Orçamento, cortes nos investimentos públicos, alta dos juros e estrangulamento do crédito.
A austeridade não está funcionando no Brasil, assim como não funcionou na Europa. Essas políticas não apenas estão criando desemprego e pobreza desnecessários no presente como também sacrificando o futuro. O Brasil precisa de investimentos públicos em transporte e outras obras de infraestrutura, mas esses gastos são os primeiros a serem sacrificados.
O Banco Central elevou os juros de curto prazo de 7,5% em abril de 2013 para 14,25%. Devido à presença de juros exorbitantes há muitos anos, o governo paga mais de 6% do PIB em juros líquidos –cerca de 20% dos gastos federais. A carga de juros paga pelo governo é uma das mais altas do mundo.
A redução das taxas de juros poderia liberar dinheiro no Orçamento para investimentos públicos. Está claro que o governo precisa aumentar seus gastos para dar um novo pontapé na economia. Foi o que fez, com êxito, diante da crise financeira e da recessão global, em 2009.
O Brasil ainda não precisa se preocupar com restrições financeiras externas, já que possui reservas de US$ 370 bilhões. Sua dívida pública líquida é de apenas 34% do PIB –é uma proporção baixa segundo qualquer comparação; o problema são os juros exorbitantes, de 11%, em média, sobre títulos governamentais em aberto. A economia tem muitas razões para crescer, mas está claro que o setor privado não vai liderar esse crescimento.
Dilma foi reeleita com a promessa de fazer frente à oligarquia e dar continuidade às políticas bem-sucedidas que levaram progresso econômico e social ao Brasil pela primeira vez em décadas. Levy pode preferir desemprego maior e salários menores, mas não foi por isso que os brasileiros elegeram Dilma.
Não há motivo para o governo cometer suicídio político, continuando a implementar o programa econômico falido da oposição.
*Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, organização norte-americana especializada em política externa

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