O Analfabeto Político
Bertolt Brecht
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
Breve comentário sobre o preconceito no Twitter
O twitter amanheceu hoje com uma enxurrada de preconceitos contra moradores da região Nordeste por conta da expressiva votação que a região garantiu à presidente eleita Dilma Roussef. Os microposts foram extremamente ofensivos e degradantes. O segundo turno mais baixo nível de todos os tempos só podia terminar dessa forma, revelando o que há de mais obscuro na alma das pessoas.
Todo mundo erra – eu sou um dos piores. E estes momentos são didáticos para que aprendamos com esses erros, façamos correções de rumo e possamos nos reconstruir e construir uma sociedade melhor. Mas há algumas coisas que li por lá e fiquei assustado.
Ao mesmo tempo, colegas jornalistas receberam spams que defendiam a necessidade de separar o Estado de São Paulo e a Região Sul do restante do país por conta do resultado da votação. Nada sobre juntar quem não concorda com o governo eleito e fazer uma oposição firme, programática e responsável. Até porque, como sabemos, a tática do “perder e levar a bola embora” é super madura e fortalece a democracia. Tudo bem, é meia dúzia de pessoas que acha que “São Paulo é meu país”, mas estes reproduzem em profusão argumentos na internet, também estranhos e mais palatáveis, feito Gremlins.
Além do mais, se São Paulo se separasse do restante do país, como defende meia dúzia de analistas de boteco, daria um jeito de continuar superexplorando trabalhadores de outros lugares. Ao invés do migrante nordestino, seria o imigrante brasileiro. Da mesma forma que a gente faz com o bolivianos, paraguaios e peruanos.
Por mais que o filme original não seja um primor de roteiro e de execução, seria extremamente didático para esse pessoal que espuma preconceito se houvesse uma versão tupiniquim do norte-americano “Um Dia sem Mexicanos”. A idéia da película simples: os imigrantes latino-americanos, que custam algumas centenas de milhões em serviço social e retornam bilhões em mão-de-obra, um dia somem da Califórnia – para a alegria dos xenófobos. Mas a vida se torna um caos com o sumiço deles. Por aqui, seria algo como “Um Dia sem Nordestinos”, com roteiro gravado em São Paulo:
A socialite acorda e vê seu poodle completamente despenteado. Tem um piti e grita pela empregada responsável pelo serviço. Nada. O empresário chega de seu cooper matinal e percebe que seu suco de laranja não está espremido como devido. Grita pelo mordomo. Nada. O editor reclama que o fotógrafo não apareceu para entregar a imagem que prometeu. Nada. O cantor postar não aparece para o show e duas amigas, nervosas porque a maquiagem começa a derreter na pista de dança, entram em estado de pré-pânico. Nada.
“Deve ser enchente na favela. Ela nunca falta, sabe? É pobre, mas tem caráter. Nunca sumiu nada lá em casa.”/”É o quarto dia que aquele sujeito não vem. Sabe o que é isso? É o Bolsa Família! Torna as pessoas vagabundas. Deve estar bebendo em um bar”/ “Combinei uma coisa com ele e ele não veio. Esse povinho do Nordeste, viu?” / “Por isso que eu sempre digo: coloca mais duas horas no tíquete de show desse povo, viu amiga. É questão de cultura, sabe? Não é que nem nós, que tivemos criação.” (agradeço aos leitores e leitoras pelas sugestões)
E por aí vai. Até porque, como todos sabemos e o preconceito rastaquela paulistano reafirma diariamente, os nordestinos em São Paulo estão apenas em ocupações subalternas.
Seja na superfície, através de risinhos, ironias e preconceitos, seja estruturalmente, via baixos salários e uma desigualdade gritante, já passamos o recado de quem manda e quem obedece. Direitos sociais e econômicos já são sistematicamente negados. Agora passamos a dizer não também aos direitos políticos? Qual o próximo passo? Revogar a Lei Áurea?
O dia em que o preconceito tomou conta do Twitter
Preconceito e discriminação dois males que infectam o país
Ontem, dia do resultado das eleições presidenciais, que deveria ser um dia de festa da democracia, ficou marcado como um dia em que o preconceito e o ódio tomou conta do Twitter, tão popular que é no Brasil. Um dia em que os Nordestinos foram tratados de forma altamente discriminatória. Um dia para não ser esquecido.
No Brasil, é muito comum se escandalizar com preconceito contra negros e gays. Casos assim ocupam páginas de jornais, provocam discussão e tem o tratamento que merecem ter.
Mas, infelizmente, ainda existe o preconceito com relação à região de procedência, que é algo ainda pouco levado a sério e divulgado pela imprensa. E é algo que me assusta pela proporção com que tem crescido. Como diz a brasileira a seguir:
Eu sou Nordestina, de Fortaleza, Ceará. Nascida e criada aqui, com todos os sotaques e trejeitos característicos da região. Falo “oxente” e “vixe”, porque cresci com estas palavras fazendo parte do meu vocabulário. E tenho um baita orgulho de ser cearense. Por nada sairia daqui, porque aqui é o lugar que eu amo e onde me sinto feliz, com seus defeitos e virtudes. Por isso, me senti muito ofendida e triste com as mensagens que vi ontem no Twitter.
Para quem não acompanhou, tivemos um espetáculo digno de Goebbels. Vergonhoso, repugnante, capaz de fazer qualquer nordestino se sentir mal. Ver pessoas incitando a discriminação, pessoas com estudo e conhecimento incompatível com suas palavras, me provocou uma profunda tristeza.
Vejam vocês a que nível chegamos:
A opinião da ignorante que prega extermínio de irmãos:
A mensagem de um desumano e sem noção de país:
São dois casos, mas outros acompanharam esse caminho, que tristeza em um dia em que a democracia prevaleceu constatar que ainda temos pessoas na população que agem e pensam dessa maneira tão ignorante e fora da atualidade, e pior ainda jovens manifestantes que poderiam representar o futuro da nação.
*CelsoJardim
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