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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Entrevista com Tiririca

Tiririca é o orgulho de São Paulo. E faz esquecer Maluf


    Quem é o “palhaço” ?

    Os paulistas deveriam se orgulhar do deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (não é parente), também conhecido como Tiririca.

    Um Estado que se notabiliza por conceder invariavelmente votações fulgurantes a Paulo Maluf teve a oportunidade de se recompor moralmente com a votação esmagadora do comediante cearense: 1 milhão e 300 mil (e cacetada, diz ele) de votos.

    A Folha (*), pág. A11, reproduziu parte da entrevista que este ordinário blogueiro teve a honra de fazer com seu colega de trabalho, o comediante Tiririca.

    Diz o título preconceituoso da Folha (*): “Tiririca diz ainda não saber ‘bem’ o que deputado faz”.

    Resposta que qualquer deputado eleito pela primeira vez e ainda não empossado poderia dar.

    Quando eu perguntei se ele sabia o que ia dizer na primeira vez em que subisse ao púlpito e bradasse solenemente: “Senhor Presidente !”, ele respondeu com cara de malandro: começa que eu não sei o que é púlpito.

    Resposta que a Folha registrou – a sério.

    (A Folha teria registrado também a sério outra resposta dele à pergunta sobre como ele jogava futebol (se bem ou mal, estava implícito) e ele respondeu: em pé !)

    Na verdade, quem entende de “púlpito” é o Padim Pade Cerra, como se vê neste vídeo patético em campanha contra os homossexuais.

    E para o PiG (**)  de São Paulo, Cerra é “a elite da elite”, como dizia a Veja.

    Perguntei também a Tiririca: se ele fosse do “CQC” ou do “Casseta” – será que chamariam ele de “palhaço”, ou seria “comediante” ?

    Comediante, ele respondeu.

    A entrevista de Tiririca – que será reproduzida na RecordNews, nesta terça feira, às 21h15 – explica, primeiro, que ele sabe que deve sua votação consagradora à sua biografia: um nordestino sofrido que venceu na vida e quer acertar.

    Os 1 milhão 300 mil (e cacetada) de eleitores não são cretinos.

    Eles entenderam direitinho o que significava votar no Tiririca.

    Como aquele um milhão de eleitores que elegeram o Clodovil por São Paulo.

    O legado parlamentar do meu colega de trabalho Clodovil é exemplar – uma legislação impecável sobre como trabalhar a adoção de crianças (ele foi adotado).

    E São Paulo deveria se orgulhar mais do deputado Clodovil do que do Paulo Maluf (o que fez Maluf por São Paulo, na Câmara, além de envergonhá-lo ?).

    Perguntei a Tiririca se ele ia ser um deputado pelo Ceará, onde nasceu, ou por São Paulo.

    E ele respondeu de forma mais articulada que o Cerra faria: pelos dois.

    E será pelos dois.

    E quando surgir uma votação em que esteja em jogo o interesse do Nordeste – disse o deputado Francisco Everardo – ele saberá, perfeitamente, distinguir onde está o interesse do Nordeste.

    Como Clodovil e Lula, Tiririca é uma prova de que a democracia brasileira funciona.

    E este ordinário blogueiro se orgulha disso.

    Em tempo: Confira os vídeos da entrevista que este ordinário blogueiro fez com o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva.
    *PHA
     

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