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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 02, 2012

BADERNEIROS DE PIJAMA - CADEIA PARA OS INSUBORDINADOS!

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 A Lei 7.524, de 17 de julho de 1986, diz o seguinte:______
"Artigo 1º - Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público."

Já o manifesto dos militares da reserva diz textualmente:

“Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade".

Ele fala; eles têm que ouvir. E, acima de tudo, obedecer
Ou seja: não é que esses gorilas de pijama estejam simplesmente emitindo sua opinião a respeito do governo; eles simplesmente NÃO RECONHECEM autoridade ou legitimidade ao seu superior hierárquico, o ministro da Defesa, Celso Amorim. E isso tem um nome: INSUBORDINAÇÃO, delito que é pecado mortal em qualquer instituição militar, que são baseadas na DISCIPLINA e na HIERARQUIA. E é por isso que esses oficiais têm que ser punidos, sob pena de se quebrar a cadeia de comando das Forças Armadas.

Tancredo (esq.) queria prender brigadeiros
Aliás, toda vez que a disciplina e a hierarquia das Forças Armadas foram desrespeitadas, o país mergulhou em crises institucionais, tentativas de golpes ou golpes mesmo. Em 1954, por exemplo, Tancredo Neves, então ministro da Justiça, queria prender os brigadeiros que instalaram, à margem das instituições e da lei, a “República do Galeão” para investigar o assassinato do major Rubens Vaz. Getúlio não quis, a pressão militar (e civil, evidentemente) aumentou e ele acabou se suicidando para não ser deposto.

O general Henrique Teixeira Lott
Em 1955, o general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra, teve que por as tropas na rua para conjurar a tentativa de militares e civis de impedir a posse do presidente democraticamente eleito, Juscelino Kubitschek. Em 1964, o fato de Jango ignorar a quebra de hierarquia na Marinha, prestigiando os marinheiros sublevados, contribuiu mais do que qualquer outra coisa para desencadear o golpe de 1º de abril.


O ditador-general Ernesto Geisel 
Os próprios ditadores militares, que conheciam melhor do que ninguém a liturgia da disciplina e hierarquia, quebraram a cara quando não as observaram, impondo-as a seus subordinados. Castello Branco viu seu ministro da Guerra, Costa e Silva, se impor a ele como sucessor; Costa e Silva cedeu à pressão do Alto Comando e baixou o AI-5, fechando o Congresso, cassando parlamentares a dando carta branca à repressão. Figueiredo não teve coragem de peitar a linha-dura depois do Riocentro e ficou a reboque de seus pares. Apenas Ernesto Geisel, o “alemão”, impôs sua condição de comandante-em-chefe à caserna, e o fez em duas ocasiões cruciais: na primeira, em 1976, quando demitiu o comandante do II Exército depois de assassinatos consecutivos de presos políticos no DOI-Codi de São Paulo; depois, em 1977, quando afastou o ministro do Exército, que ameaçava se tornar o “candidato” à sucessão presidencial.

Brizola (à dir.) e o general Machado Lopes, do III Exército
Houve uma exceção à essa regra, é verdade: em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, os chefes militares se articularam para “vetar” a posse do vice-presidente constitucional, João Goulart, acusado de "comunista". Foram impedidos pela Campanha da Legalidade, do então governador Leonel Brizola, que levou o III Exército a apoiar os legalistas, rachando o Exército. Foi a única vez que a quebra de hierarquia se fez em benefício da legalidade. Mas, na verdade, foram os chefes militares que violaram a hierarquia ao pretender vetar uma posse constitucional.     

Na democracia, os militares são subordinados ao poder civil: pela ordem, ao presidente da República, ao ministro da Defesa e aos comandantes de cada força. No serviço ativo, os militares não têm que dar palpite na política. Quem decide sobre leis, revisão de leis – como a da Anistia – Comissão da Verdade e outros assuntos são os poderes Legislativo e Executivo legitimamente constituídos. Aos militares cabe apenas bater continência. Na reserva, eles podem expressar suas opiniões, mas ainda assim devem obediência aos seus superiores hierárquicos.

General Góes Monteiro

 Acima de tudo, é preciso enterrar de vez essa pretensão messiânica do estamento militar de achar que representa os “anseios da nação” e que está acima do bem e do mal. Levada ao paroxismo na época da Guerra Fria e da ditadura, essa concepção, na verdade, tem suas origens no pensamento do general Góes Monteiro, líder militar da Revolução de 1930. Ele dizia que era preciso acabar com a “política no Exército” – as rebeliões tenentistas que culminaram na Revolução de 1930 – para substituí-la pela “política do Exército”. Esta se impôs no Estado Novo, se consolidou na ditadura militar e sobreviveu a ela, perpassando até hoje o discurso dos saudosistas.



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