Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 14, 2012

A caravana dos entreguistas vai a Venezuela

 


Os fantasmas do passado visitam a Venezuela 

A América Latina foi a região do mundo que teve mais governos neoliberais e nas suas modalidades mais radicais. Praticamente nenhum país foi poupado desses governos – com exceção de Cuba – que devastaram os direitos sociais, o potencial de desenvolvimento econômico, a soberania nacional, os Estados latino-americanos.
O neoliberalismo começou pela extrema direita – com Pinochet e sua ditadura -, mas depois se alastrou para correntes originariamente nacionalistas – como o PRI mexicano e o peronismo de Carlos Menem. Para posteriormente ser incorporado por partidos social democratas – como o Partido Socialista do Chile, a Ação Democrática da Venezuela, o PSDB do Brasil.
Todos foram ao governo e colocaram em prática políticas neoliberais muito similares: privatização do patrimônio publico, abertura das economias ao mercado externo, desarticulação dos Estados em favor da centralidade dos mercados, alienação das soberanias nacionais, expropriação dos direitos sociais, precarização das relações de trabalho. Todos tem em comum outro traço: todos fracassaram estrepitosamente, saíram do governo expulsos pelo povo, não puderam eleger seus sucessores e vários deles foram processados, condenados e presos; alguns outros fugiram dos seus países.
Entre tantas consequências negativas, promoveram a degeneração das democracias, mediante o poder do dinheiro, que corrompeu os sistemas políticos. São uma geração de políticos fracassados, que buscaram seu exemplo nos socialistas espanhóis.
A direita latino-americana, tendo fracassado, não tem hoje o que propor. Fizeram o que se haviam proposto e levaram nossos países à ruina. À falta de propostas, a direita retoma bandeiras da guerra fria, se articula em torno dos monopólios privados da mídia, lança mão de personagens fracassados como os únicos apoios que lhes restam.
Convidados por um banco privado, três desses personagens foram a Venezuela, não se sabe bem fazer o quê. Quem sabe, sentindo falta do seu amigo Carlos Andres Perez, vão transmitir as experiências frustradas que tiveram e que os levaram à derrota e à debacle dos seus países. Basta que Felipe Gonzalez conte como na Espanha eles aplicaram brutal pacote econômico antipopular e entregaram o governo à direita, com uma economia desfeita, desemprego juvenil de 49%, com um retrocesso recorde da economia. Gonzalez pode recordar como, há 10 anos, apoiou o golpe militar contra Hugo Chavez.
Ricardo Lagos pode contar como os governos socialistas chilenos não saíram do modelo herdado de Pinochet e finalmente foram derrotados e entregaram a presidência a um mandatário neo-pinochetista.
FHC teria que convencer o candidato da direita venezuelana, que deveria reivindicar sua figura e não a de Lula. Deveria explicar por que Lula é o presidente mais popular da história do Brasil, enquanto que ele é o político com maior rejeição. Deveria explicar ao candidato da direita de lá que seu partido e seu governo são os parentes mais próximos deles e que Lula certamente apoia a Hugo Chavez.
Grotesca a imagem dessa caravana dos derrotados, de um passado que não volta mais, viajando para levar uma palavra de desesperança ao candidato da direita venezuelana. Não é um bom augúrio para a oposição a Hugo Chavez.
*Blogbriguilino

Nenhum comentário:

Postar um comentário