A caravana dos entreguistas vai a Venezuela
Os fantasmas do passado visitam a Venezuela
por
Emir Sader
A
América Latina foi a região do mundo que teve mais governos neoliberais
e nas suas modalidades mais radicais. Praticamente nenhum país foi
poupado desses governos – com exceção de Cuba – que devastaram os
direitos sociais, o potencial de desenvolvimento econômico, a soberania
nacional, os Estados latino-americanos.
O
neoliberalismo começou pela extrema direita – com Pinochet e sua
ditadura -, mas depois se alastrou para correntes originariamente
nacionalistas – como o PRI mexicano e o peronismo de Carlos Menem. Para
posteriormente ser incorporado por partidos social democratas – como o
Partido Socialista do Chile, a Ação Democrática da Venezuela, o PSDB do
Brasil.
Todos
foram ao governo e colocaram em prática políticas neoliberais muito
similares: privatização do patrimônio publico, abertura das economias ao
mercado externo, desarticulação dos Estados em favor da centralidade
dos mercados, alienação das soberanias nacionais, expropriação dos
direitos sociais, precarização das relações de trabalho. Todos tem em
comum outro traço: todos fracassaram estrepitosamente, saíram do governo
expulsos pelo povo, não puderam eleger seus sucessores e vários deles
foram processados, condenados e presos; alguns outros fugiram dos seus
países.
Entre
tantas consequências negativas, promoveram a degeneração das
democracias, mediante o poder do dinheiro, que corrompeu os sistemas
políticos. São uma geração de políticos fracassados, que buscaram seu
exemplo nos socialistas espanhóis.
A
direita latino-americana, tendo fracassado, não tem hoje o que propor.
Fizeram o que se haviam proposto e levaram nossos países à ruina. À
falta de propostas, a direita retoma bandeiras da guerra fria, se
articula em torno dos monopólios privados da mídia, lança mão de
personagens fracassados como os únicos apoios que lhes restam.
Convidados
por um banco privado, três desses personagens foram a Venezuela, não se
sabe bem fazer o quê. Quem sabe, sentindo falta do seu amigo Carlos
Andres Perez, vão transmitir as experiências frustradas que tiveram e
que os levaram à derrota e à debacle dos seus países. Basta que Felipe
Gonzalez conte como na Espanha eles aplicaram brutal pacote econômico
antipopular e entregaram o governo à direita, com uma economia desfeita,
desemprego juvenil de 49%, com um retrocesso recorde da economia.
Gonzalez pode recordar como, há 10 anos, apoiou o golpe militar contra
Hugo Chavez.
Ricardo
Lagos pode contar como os governos socialistas chilenos não saíram do
modelo herdado de Pinochet e finalmente foram derrotados e entregaram
a presidência a um mandatário neo-pinochetista.
FHC
teria que convencer o candidato da direita venezuelana, que deveria
reivindicar sua figura e não a de Lula. Deveria explicar por que Lula é o
presidente mais popular da história do Brasil, enquanto que ele é o
político com maior rejeição. Deveria explicar ao candidato da direita de
lá que seu partido e seu governo são os parentes mais próximos deles e
que Lula certamente apoia a Hugo Chavez.
Grotesca
a imagem dessa caravana dos derrotados, de um passado que não volta
mais, viajando para levar uma palavra de desesperança ao candidato da
direita venezuelana. Não é um bom augúrio para a oposição a Hugo Chavez.
*Blogbriguilino
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