DEMOCRACIA, ONTEM E HOJE
Trechos
do famoso discurso do presidente João Goulart na Central do Brasil em
13 de março de 1964, que desencadeou a reação conservadora das classes
médias em São Paulo e Rio de Janeiro que deu origem ao golpe
cívico-militar de 1º de abril daquele ano fatídico.
Neste discurso, Jango anunciou uma série de medidas reformistas, como a reforma agrária, assustando os conservadores. É incrível como muita coisa do discurso permanece atual:
"Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais significativas organizações operárias e lideranças populares deste país.
Neste discurso, Jango anunciou uma série de medidas reformistas, como a reforma agrária, assustando os conservadores. É incrível como muita coisa do discurso permanece atual:
"Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais significativas organizações operárias e lideranças populares deste país.
Chegou-se
a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao
regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da
democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a
democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.
Democracia
para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o
povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado
nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.
A
democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do
anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam.
Ainda
ontem, eu afirmava, envolvido pelo calor do entusiasmo de milhares de
trabalhadores no Arsenal da Marinha, que o que está ameaçando o regime
democrático neste País não é o povo nas praças, não são os
trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou
de sua solidariedade às grandes causas nacionais. Democracia é
precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas
praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à
segurança das instituições.
Democracia
é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever,
não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los
pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz
social.
Não
há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do
povo; não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a
voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais
sentidas reinvindicações.
Estaríamos,
sim, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da
Nação, que de norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor
pelas reformas de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será
como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de
brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes condições de
miséria."
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