Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 13, 2012

Deputados propõem tirar nome de ditador da ponte Rio-Niterói

 

Via CartaMaior
Deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) defende homenagem ao sociólogo Betinho, que se notabilizou na defesa dos direitos humanos. Atualmente a obra chama-se oficialmente ponte Presidente Costa e Silva. O sociólogo Candido Grzybowski, atual diretor do Ibase, enfatiza a importância da alteração do nome da ponte Rio-Niterói no contexto da instalação dos trabalhos da Comissão da Verdade.
Da Redação
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) apresentou na semana passada um Projeto de Lei destinado a alterar o nome da ponte Rio-Niterói. O atual homenageado é Arthur da Costa e Silva, segundo mandatário da ditadura militar, entre 1967 e 1969. Em seu lugar, a denominação ficaria ponte Herbert de Souza – Betinho.
Na justificativa, o parlamentar argumenta que “esta proposta tem sua origem na solicitação de vários movimentos de direitos humanos encaminhada aos membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em dezembro de 2011”.
Entre as entidades solicitantes estão o Centro de Teatro do Oprimido, o Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça, o Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH), o Instituto de Estudos e Religião (Iser), o Instituto Frei Tito de Alencar, a Justiça Global e a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.
A proposta alinha-se com um dos tópicos do terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). O documento prevê que não mais sejam dados a logradouros públicos nomes de indivíduos que notadamente tenham cometido crimes e perpetrado violações dos direitos humanos no período da ditadura (1964-85).
Momentos sombrios
Segundo Alencar, é “inaceitável que a popularmente chamada Ponte Rio-Niterói seja oficialmente denominada ponte Presidente Costa e Silva, em homenagem a um chefe de Estado que foi um dos artífices do golpe militar, responsável por momentos dos mais sombrios da história brasileira como o que se inicia com a edição do famigerado Ato Institucional nº 5 (AI-5)”.
O sociólogo Candido Grzybowski, atual diretor do Ibase, enfatiza a importância da alteração do nome da ponte Rio-Niterói no contexto da instalação da Comissão da Verdade. Seria mais uma forma de “passar a limpo muitos aspectos da nossa história recente, sem revanchismos, mas com senso de justiça e de verdade conosco mesmos, nossos filhos e netos”.
Betinho (1935-1997) foi sociólogo, militante político e teve uma longa militância em defesa dos direitos humanos. Após mais de uma década exilado, este mineiro de Bocaiuva retornou ao Brasil em 1979. Aqui criou o Ibase, em 1981 e liderou o lançamento da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida em 1993. Além disso, destacou-se na luta contra a discriminação aos portadores do vírus do HIV.
O Projeto de Lei também é assinado pelos deputados Alexandro Molon (PT-RJ), Domingos Dutra (PT-MA), Erika Kokay (PT-DF), Ivan Valente (PSOL-SP), Janete Capiberibe (PSB-AP), Janete Pietá (PT-SP), Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Luiz Couto (PT-PB), Luiza Erundina (PSB-SP) e Padre Ton (PT-RO).
*GilsonSampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário