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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 03, 2012

Dilma, mande prender os cabeças.
Como Vargas deveria ter feito

Mande prender, presidente !
Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o Ministério de Vargas se reuniu no Palácio do Catete para enfrentar a crise que Carlos Lacerda tinha engendrado com o atentato ao Major Vaz.

O jovem Ministro da Justiça, Tancredo Neves, sugeriu que o Ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, formasse uma patrulha de confiança, com homens da Vila Militar, e prendesse os cabeças do Golpe.

Treze generais haviam assinado um Manifesto que pedia a renúncia de Vargas.

Só um deles comandava tropa.

(Leia o imprescindível “A Era Vargas”, de Jose Augusto Ribeiro, Casa Jorge, Volume 3, pág. 206, no capitulo “Alzira (filha de Vargas) contesta Xenóbio”.)

Zenóbio, o Ministro da Guerra, que conspirava para continuar Ministro do governo seguinte, disse a Tancredo: se fizermos isso, seremos esmagados.

Tancredo respondeu:

– Poucos homens têm na vida a oportunidade de morrer por uma boa causa, general. Por que não aproveitamos esta ?

(O ansioso blogueiro se vale de conversa com Mauro Santayana, autor de importante artigo sobre a Anistia e Tancredo.)

Essas reflexões surgiram com a notícia de O Globo (que ajudou a dar um tiro no peito de Vargas), na pág. 16 deste sábado:

“Cresce adesão de militares a manifesto”

“Dilma agora ameaça punir os 325 oficiais que já assinaram o ‘Alerta à Nação’, entre eles 44 generais da reserva.

Os signatários são TODOS da reserva, não aceitam a legitimidade do Ministro da Defesa (e grande chanceler) Celso Amorim, e se insubordinam com a “Comissão da Verdade”.

Como fez, sempre, Roberto Marinho volta a bater na porta dos quartéis para assegurar a sobrevivência e prosperidade de seus negócios.

Em tempo: hoje, na Folha (*), na pág. 2, no espaço do Clovis Rossi, há uma súmula da atual “racionalidade” das vivandeiras de quartel:

(…) “Indo um pouco mais longe, acho que daria até para argumentar que os oficiais da reserva remunerada, que podem eventualmente ser chamados para o serviço ativo, também estejam submetidos ao regime disciplinar e hierárquico dos militares.


Parece-me um exagero, porém, que as leis e regulamentos castrenses permitam enquadrar e punir por desrespeito à hierarquia os oficiais reformados, que são, para todos os efeitos, cidadãos aposentados.


Se essas regras são constitucionais, temos uma situação em que as obrigações diferenciadas exigidas dos militares se tornam perpétuas, o que se assemelha mais a disposições da ordem escravocrata ( sic ) do que aos contratos típicos do mundo livre.”(…)


Em tempo2:
como sabe, o dono da Folha (*)  (ele, como Roberto Marinho, ainda não “nos falta”), o “seu” Frias combateu na Guerra da Secessão de 1932 e cedeu os carros de reportagem do jornal aos torturadores do regime militar.


Paulo Henrique Amorim

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