Discurso eleitoral e prática de governo #
É
preciso denunciar sempre a hipocrisia tucana e cobrar coerência entre
seus discursos e suas práticas. A movimentação das últimas semanas
serviu para derrubar a máscara de Serra
Nem foi dada a largada ainda para a disputa eleitoral deste ano e já
podemos identificar as primeiras contradições entre o discurso de
campanha e as práticas de governo. Refiro-me ao lugar comum que viraram
as recentes manifestações do ex-governador de São Paulo e provável
candidato do PSDB à Prefeitura da capital, José Serra, que sempre se
refere às composições dos governos do PT como “loteamento de cargos
políticos”.
A movimentação das últimas semanas no campo tucano, contudo, serviu para
derrubar a máscara de Serra. Levantamento do jornal O Estado de
S.Paulo, a partir do portal oficial De Olho nas Contas, detalha “quem é
quem” nos conselhos de administração das oito empresas da Prefeitura de
São Paulo. São elas: CET, Cohab, Prodam, SPObras, SPP, SPTrans, SPTuris e
SPUrbanismo.
Ficamos sabendo que essas empresas se tornaram o destino de inúmeros
políticos e aliados do prefeito Gilberto Kassab (PSD), afilhado político
de Serra, que recebem jetons de R$ 6.000 por participar de uma reunião
mensal. Segundo o jornal, “pelo menos 60% dos 57 conselheiros são
filiados ou têm ligação com algum partido”. Ao todo, os jetons custam R$
2,3 milhões anuais aos cofres do município de São Paulo.
Há ainda um elemento marcante: a maioria das siglas contempladas com
indicações para os conselhos dessas empresas está da base de apoio de
Kassab —ou, então, são legendas que têm sido procuradas pelo prefeito
para integrar a aliança em torno da candidatura Serra.
Entre os conselheiros paulistanos, constam ex-secretários de Serra na
Prefeitura e ex-assessores dele no Ministério da Saúde. Mas o que parece
mais grave é a escolha de nomes de outros Estados nos quais o prefeito
de São Paulo e fundador do PSD costura suas alianças —talvez o maior
exemplo seja o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), que foi
indicado para ser conselheiro da SPTuris e da SPTrans quando ainda
residia em Pernambuco, seu Estado natal. O mesmo acontece com Raul
Jungmann, candidato derrotado ao Senado por Pernambuco na eleição de
2010.
Ou seja, o discurso de loteamento político que Serra gosta de usar
contra o PT é apenas peça de campanha eleitoral, pois a realidade dos
governos nos quais tem participação é oposta ao sentido de suas
críticas.
Essa contradição é alimentada ainda pela disputa entre Kassab e o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que promovem um
verdadeiro “um concurso de vices”. Kassab chegou a sinalizar a
exoneração de cinco secretários municipais para colocar os cargos à
disposição de Serra.
É preciso denunciar sempre a hipocrisia tucana e cobrar coerência entre
seus discursos e suas práticas. Há muito chão pela frente até a eleição
do novo prefeito de São Paulo. Mas a campanha será o momento ideal para
desmascarar essas —e outras!— contradições tucanas.
José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
*Ajusticeiradeesquerda
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