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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 14, 2012

Em risco a sobrevivência da humanidade


 

Sanguessugado do Burgos
 Raymundo de Oliveira
Não há registro na história da humanidade de uma nação relativamente tão poderosa quanto os atuais Estados Unidos. Quantas bases militares tem a China no exterior? E a Rússia? E o Irã? E a Síria? E o Brasil, Cuba, Venezuela, Japão, Alemanha? Posso afirmar que não têm nenhuma base militar no exterior. Por quê, com que direito os EUA têm dezenas de bases militares em todas as partes do mundo?
América Latina
Não há um só país na América Latina que não tenha sido vítima da agressão dos EUA, direta ou indiretamente. O golpe de Pinochet, no Chile, foi diretamente apoiado pelo governo americano. O golpe de 64, no Brasil, tinha a Quarta Frota norte americana preparada para a eventualidade de não dar certo.
"O México foi esquartejado pelos EUA no século XIX e quando Cárdenas resolveu nacionalizar o petróleo, a pressão foi imediata e direta, ficando célebre a expressão: México, triste México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”. Hoje a NAFTA está destruindo a indústria mexicana. A ALCA, no restante da América Latina, tinha o mesmo objetivo, felizmente afastado.
Poderíamos citar ainda a Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Argentina, Colômbia, Haiti, Peru, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai. Cada país uma história triste, os EUA sempre apoiando os governos repressivos, onde os interesses das grandes empresas americanas se confundem com aqueles dos grupos internos de empresários associados a elas. É quase sempre uma história similar.
E não me referi ainda a Cuba, onde o domínio americano substituiu o espanhol, na passagem do século XIX para o XX. Vem daí a excrescência histórica da base de Guantánamo que os EUA se recusam a devolver a Cuba e que foi transformada em centro de tortura de militantes árabes. Além disso, até hoje o Império mantem o criminoso bloqueio a Cuba.
Como a política venezuelana não é aquela que os americanos gostariam, eles construíram sete bases militares na Colômbia e armaram fortemente este país, insuflando a guerra, que todos sabemos seria instrumento da destruição da Venezuela pelos EUA, tendo como objetivo verdadeiro as reservas petrolíferas do país.
Quando o Brasil descobre o pré-sal, num momento em que as multinacionais procuram desesperadamente novas reservas de petróleo, imediatamente é reativada a Quarta Frota que, há décadas, estava adormecida. Esse acordar da Quarta Frota está sendo um aviso aos brasileiros e latino-americanos de que um poder mais alto está de olho nessa riqueza estratégica.
Oriente Médio
Sem qualquer simpatia pelo Iraque sob o governo de Saddam Hussein, período em que os comunistas e a esquerda em geral estavam na cadeia, é preciso reconhecer que se tratava de um país com uma das melhores qualidades de vida na região e onde as mulheres tinham mais direitos. Porém, possuía a terceira maior reserva de petróleo do mundo.
Tendo perdido a confiança dos EUA, o Iraque é invadido por decisão unilateral dos norte-americanos, sem, para isso, ter conseguido nem mesmo o apoio da própria Europa. Alegavam que o Iraque teria armas de destruição em massa, o que ficou provado que era mentira. São tão fortes que não precisam dar satisfação a ninguém. Destruído o país, Saddam é preso e levado a julgamento, durante o qual foram assassinados três advogados de defesa e trocado o juiz-chefe. Imaginem se isso tivesse acontecido em Cuba!!!!
Procuraram impedir qualquer pronunciamento de Saddam Hussein, tendo o julgamento sido interrompido diversas vezes. Seu depoimento seria perigoso, pois poderia dizer de quem recebeu os gases tóxicos que usou contra os curdos. Poderia relembrar o apoio que tivera dos EUA na guerra contra o Irã. Moral de história: os defensores da “democracia ocidental e cristã”, os norte-americanos, forçaram seu enforcamento, transmitido ao vivo pela Internet. Há poucas barbaridades tão graves no passado recente e tão bem documentadas.
Hoje o Iraque é um país arrasado, sem infraestrutura de saneamento, sem hospitais, suas estradas destruídas, escolas fechadas, toda uma juventude, que chegou a ser das mais instruídas da região, sem condições de assistir às aulas. Mas seu petróleo está controlado pelos EUA e as empresas americanas contratadas para reconstruírem o país.
Esse processo se repetiu na Líbia, que também possui enorme reserva de petróleo, tendo sido assassinado Muammar Kadhafi pelas forças da OTAN, sob orientação dos EUA.
Há pouco mais de um ano, as coisas fugiram do controle no Egito, à época comandado por Hosni Mubarak, homem de confiança dos EUA. Rapidamente, a Sra. Hillary Clinton deixou claro que Mubarak era amigo e o defendeu contra os que se levantavam por eleições livres. Não deu certo, o movimento cresceu, Mubarak caiu. A palavra final não foi dita, mas os americanos estão apoiando o que restou da ditadura militar anterior, receosos de que as coisas possam ir longe demais.
Os EUA querem continuar decidindo o destino de cada país e controlando suas riquezas estratégicas. Serão melhores, por acaso, os dirigentes da Arábia Saudita ou eles estão sobrevivendo porque são submissos e permitem que seu petróleo, a maior reserva do mundo, seja utilizada livremente pelo maior império da história da humanidade?
Há quarenta anos os norte-americanos saíram enxotados do Vietnam, após causarem milhões de mortes. Hoje estão destruindo o Iraque e o Afeganistão e se preparando para destruir a Síria.
E, com tudo isso, querem impedir que o Irã se prepare para a guerra, construindo suas próprias armas. O que aconteceu no Iraque e na Líbia é incentivo para que se armem as nações ameaçadas pelos EUA.
O drama é ainda mais profundo, pois Síria, Irã, Líbia, Afeganistão, Iraque, entre outros, têm tido governos deploráveis, ditaduras teocráticas, algo que sonhávamos não seria visto no século XXI. É inconcebível qualquer apoio a esses governos, por tudo o que têm representado de atraso. Porém, não se pode dar uma carta em branco para os EUA escolherem que ditaduras podem ficar e quais as que ele decidiu acabar. A superação desses governos precisa ser algo vivido por seus povos, nascido de suas lideranças, superado pelo avanço de seus próprios quadros: cientistas, mulheres e homens, profissionais liberais, trabalhadores e suas organizações.
Crise e Guerra
Como colocado no início, não há registro na história da humanidade de uma nação tão poderosa. Sua atuação no exterior é suportada pelo desnível nos armamentos onde os EUA têm larga vantagem sobre todos os outros países somados. O perigo adicional é que, numa dessas crises cíclicas a que somos levados pela lógica do Capital, como a que estamos vivendo, o Império se desespere e faça “bobagem maior”. A história mostra que a guerra é sempre uma possibilidade nas grandes crises.
Em risco a sobrevivência da humanidade.

Fonte: rededemocratica.org
*Gilsonsampaio

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