A lógica ilógica de um mundo linear e infinito
Não desejo causar polêmica, muito menos ser condenado ao fogo dos
infernos que habitam as profundezas de nossa eternidade, mas diante de
fatos incontestáveis sou obrigado a fazer uma categórica afirmação que a
alguns poderá parecer absurda:
- O mundo é redondo ou pelo menos algo muito próximo disso!
Claro que para alguns pode soar óbvio demais, já que a constatação
cartesiana foi provada há muito tempo e ainda temos imagens de satélites
capazes de refutar quaisquer outras teorias e interpretações a respeito
da circunferência terrena.
Portanto, a troco de que inicio estas linhas temeroso de causar espanto e
de receber admoestações e críticas por “chover no molhado”?
Simples: é que se fosse tão óbvio, como explicar que a lógica fordista,
uma longa linha de produção a principiar na extração das matérias-primas
passando por sua transformação em produtos, depois o consumo e,
posteriormente, um simples e irreal descarte, funcione apenas como se
vivêssemos numa infinita e eterna linha reta.
Era assim que pensavam alguns dos nossos primeiros navegantes. Ao
singrar e enfrentar os mares desconhecidos eles teriam pela frente um
mundo plano e contínuo e temerosos de cruzar com monstros e dragões a
espreita, além de precipícios sem fundo. Mas aí surgiram nossos
primeiros astrônomos e cientistas que ousaram, por meio da observação e
cálculos precisos, provar, por A mais B, que habitamos um belo, finito e
frágil planeta redondo, pois sim!
Se então apresentamos esse formato e contamos com recursos limitados
existentes em nossa pequena esfera, por que estamos a esgotar tudo o que
temos de maneira cada vez mais rápida e frenética?
Por que utilizamos materiais essenciais à sobrevivência da humanidade
para produzir supérfluos em ritmo alucinante e, depois, com a mesma
celeridade “jogamos fora” como se fossem coisas imprestáveis?
Em artigo recente fiz menção a constatações do relatório O Estado do Mundo publicado
no ano passado de que nos dias atuais são extraídos 50% mais recursos
naturais do que há 30 anos. São cerca de 60 bilhões de toneladas anuais
de recursos arrancados do planeta.
Quando alguns, mesmo diante dessas obviedades ululantes, ainda se
encorajam a dizer que são ações necessárias para se obter o crescimento
econômico, podemos elaborar o seguinte questionamento:
- Afinal, sobre qual “crescimento” estamos nos referindo?
Será o tipo do qual o professor Ladislaw Dowbor, da PUC de São Paulo
costuma se referir? Segundo ele, o nosso crescimento é baseado na lógica
da célula cancerígena, ou seja, é o de crescer por crescer e nada mais.
As novas tecnologias foram responsáveis por mudanças extraordinárias,
dignas dos sonhos de muitos de nossos ficcionistas mais famosos, mas, em
quase todas elas, o modelo de produção é a mesma desde os primórdios da
Revolução Industrial. As fábricas evoluíram em sofisticação e
velocidade, mas a lógica fordista segue lá, seja no que era usado para
produzir o Ford T nos anos 1920, ou agora nos tablets e ipods de última
geração.
O que fica muito claro nessa dinâmica estúpida é a necessidade que temos
de parar por alguns momentos e refletir sobre o produzir por produzir, o
crescer por crescer, o comprar por comprar e por aí vai.
Talvez precisemos de um pouco mais de questionamentos filosóficos,
daqueles que retomem as perguntas simples formuladas na Grécia antiga
sobre as próprias razões de nossa existência. Por que e para que
estamos aqui? Para consumir de maneira totalmente irresponsável tudo o
que temos de melhor no planeta Terra? Provavelmente não seja essa a
melhor resposta!
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