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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 24, 2012

Muitas verdades precisam deixar de ser ocultas

 

 do QTMD?
Mário Augusto Jakobskind(*)
Segundo as últimas informações, a Presidenta Dilma Rousseff está para anunciar os nomes dos sete integrantes da Comissão da Verdade, que terão a incumbência de realizar o trabalho de investigação das violações dos direitos humanos, sobretudo depois de abril de 1964.
Muitas verdades ainda estão ocultas e quem tem a revelação são civis e militares com culpa no cartório, ou seja, agentes do Estado ainda vivos, comprometidos até a medula com a repressão e o regime vigente naquele período.
Curió, Brilhante Ustra e outras figuras da ditadura seguem impunes até agora. O Ministério Público pretendia investigar Curió, responsável por crimes imprescritíveis relacionados com o desparecimento de combatentes da guerrilha do Araguaia, mas a Justiça no Pará recusou o pedido sob a alegaçaãp de sempre, ou seja, que está em vigor a Lei da Anistia.
Os mencionados e outros ainda vivos precisam ser investigados com rigor.
Mas as investigações não podem ficar resumidas a eles. Tem gente e grupos mais poderosos escondidos debaixo do tapete da história, como, por exemplo, empresários financiadores da repressão, grupos midiáticos comprometidos desde o início com o golpe civil militar que derrubou o presidente constitucional João Goulart e também a participação de professores de torturas, de nacionalidade estadunidense, contratados para ministrar in loco os seu know how, entre os quais Dan Mitrione.
Para o conhecimento verdadeiro do passado é preciso também ouvir o depoimento de testemunhas como o professor Moniz Bandeira, já mencionado neste espaço, que quando preso no Centro de Informações da Marinha (CENIMAR) viu e ouviu a fala de agentes norte-americanos com sotaque carregado circulando livremente e instruindo torturadores.
É preciso deixar claro também que Curió, Brilhante Ustra, etc não são casos isolados ou desvios, como querem alguns, mas foram peças de engrenagem montada e ajeitada a partir de quebra constitucional de abril de 1964, a partir do primeiro general de plantão, Humberto de Alencar Castelo Branco.
Enfim, faço minhas as palavras do Deputado Chico Alencar -
“Brasileiro não tem memória, diz o senso comum. Entretanto, um povo só avança em civilização conhecendo sua própria história. Esquecer períodos é postura obscurantista e perigosa, quem não se recorda do passado corre o risco de revivê-lo”
*Mario Augusto Jakobskind é jornalista. Tem no “Quem tem medo da democracia?” um “Céu de Montevidéu“.
*GilsonSampaio

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