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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 14, 2012

Tênis: Ah, se fosse no Terceiro Mundo...

 

Bellucci não precisou fazer
força para passar de fase.
José Nilton Dalcim, via Tênis Brasil

Tenistas abatidos por um surto virótico? Se fosse em qualquer canto da América do Sul, teria virado o maior escândalo. Mas lá no Masters 1000 de Indian Wells, nos Estados Unidos, sucessivos abandonos ainda merecem destaque pequeno no noticiário, uma ou outra ênfase na desistência de Petra Kvitova (nas duplas), Gael Monfils (nem entrou em quadra) ou Vera Zvonareva (que não jogou a terceira rodada, mas como anda em má fase...)

Segundo a imprensa norte-americana, o vírus que ataca o estômago e causa diarreia e fraquezas já anda há algum tempo pela Califórnia. E não há nada o que fazer: ele se transmite pelo ar e não pela água ou pela comida, o que limita muito atitudes preventivas. Lavar as mãos é quase a única medida possível. Há tenistas radicalizando: evitam lugares aglomerados e estão comendo o mais longe possível do torneio.

O russo Nikolay Davydenko foi a vítima da terça-feira, dia 7. Não aguentou ir para a quadra, já que a ação do vírus dura de 24 a 48 horas, e classificou automaticamente o paulista Thomaz Bellucci para as oitavas de final, que fará seu primeiro duelo contra Roger Federer. Não dá para comemorar, mas ao menos ajudará o número 1 brasileiro a dar discreta subida no ranking – está no 47º neste momento e com chances mínimas de ser ultrapassado.

Só me pergunto qual será a repercussão se o vírus alcançar uma das grandes estrelas.

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